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O Estado da Indústria

O Estado da Indústria

14 Set, 2022

Calçado prospera


A Comissão Europeia reviu, recentemente, em alta as previsões para o crescimento do produto interno bruto (PIB) de Portugal para o corrente ano, de 5,8% para 6,5%. Já as projeções de crescimento para 2023 recuaram, passando de 2,7% para 1,9%. Forte sinal de preocupação. Portugal perfila-se como o país da UE que mais cresce em 2022, mas para 2023, o país acaba por cair de forma abrupta na tabela, registando o 15º maior crescimento.

Já para a União Europeia, o mega-mercado de referência para a indústria portuguesa de calçado, as previsões da Comissão apontam para um crescimento do PIB de 2,7% em 2022, mantendo assim a projeção da primavera, e 1,5% em 2023, número revisto em baixa.

A Comissão admite que a “guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia continua a afetar negativamente a economia da UE, numa trajetória de menor crescimento e de inflação mais elevada em comparação com a previsão de Primavera”. Os riscos mantêm-se assim “elevados e dependentes da guerra”.

Calçado prospera
O ano de 2022, está a revelar-se verdadeiramente atípico para a indústria de calçado. Num ano de grande incerteza, depois de dois anos de pandemia particularmente violentas, com quebras abruptas no consumo - só no primeiro ano deixaram de ser comercializados mais de 4 mil milhões de pares de calçado a nível mundial, o equivalente a 70 anos de produção de calçado em Portuga - 2022 está a ser de crescimento. No caso português, no primeiro semestre, o setor atingiu os melhores resultados de sempre (crescimento de 27,5% relativamente ao ano passado e de 12,2% face a 2019). Em Espanha, a primeira metade do ano, o crescimento é de 18,2% relativamente ao período homologo do ano anterior (e de 6,7% face a 2019). Por Itália, o crescimento acumulado ronda os 20%.

Também a indústria chinesa estará a viver um bom momento nos mercados externos, com as exportações de calçado a aumentarem 30% até maio.
“Os números mostram-nos que a indústria portuguesa calçado está a revelar um desempenho melhor do que os seus concorrentes. É o resultado do esforço do setor a última década”, releva Luís Onofre. Para o Presidente da APICCAPS, “as empresas portuguesas têm vindo a preparar-se tecnicamente para as mudanças dos padrões de consumo, com investimentos que lhes permitiram responder rápido e mesmo a séries mais pequenas”. No entanto, acrescenta, “é imprescindível estar atento aos sinais externos”. “Vivemos um período de grande volatilidade”, concluiu.

As grandes preocupações


Com a pandemia e a Guerra na Ucrânia como “pano de fundo”, o aumento da inflação, e do abastecimento, e mesmo custos, das matérias-primas estão no topo das preocupações empresariais.

“Rutura das cadeias de abastecimento e imprevisibilidade de efeitos exógenos no consumo levam os players da distribuição a abastecerem-se mais tarde e mais próximo”, considera Pedro Castro. O homem-forte da Nova Aurora alerta para a “acentuada e continuada perda de competitividade em consequência do aumento compulsivo dos custos laborais a taxa média anual superior a 5%, os quais consomem já a quase totalidade do Valor Acrescentado Bruto médio do setor - dados publicados pelo Banco de Portugal”, facto que não impede, porém, que continue a verificar-se escassez de mão de obra qualificada. A Desvalorização do euro, com indícios de ser estrutural, deve ser igualmente tida em linha de atenção.
De acordo com Pedro Castro, “ainda que as prioridades do setor não sejam as prioridades dos decisores políticos, a normalização da política monetária à escala mundial após a inflação descontrolada demonstrar a utopia neo-monetarista e pró-dívida ilimitada dos grandes decisores políticos, abre uma janela de esperança de regresso ao princípio secular de que o rendimento requer esforço e não há distribuição sem produção de riqueza”.

Já Amadeu Pereira acredita que muitos dos clientes que se abasteciam no continente asiático “não pensam em regressar”, não só pelos aumentos dos custos como noutras “variáveis fundamentais do negócio como os prazos de entrega, a dimensão das encomendas ou mesmo dificuldades de abastecimento e de transporte.”

Ainda que o setor esteja a viver um período de forte crescimento no exterior, o Administrador da Reve de Flo aponta várias preocupações. A maior, e que será extensiva a vários setores de atividade, prende-se com a escassez de mão-de-obra qualificada. Também a formação deveria ser otimizada. Amadeu Pereira considera, de grande relevância “reforçar a presença em certames internacionais da especialidade”, uma forma de “captar clientes de maior valor acrescentado”.  Assegurar um bom serviço de pronto mioa e resposta eficiente” será igualmente estratégico que o setor reforce o seu posicionamento na cena competitiva internacional.

Para Amélia Cunha o desempenho recente do sector está diretamente associado “à reabertura da economia, acentuada pela queda das restrições, depoiss de dois anos de contenção em tempo de pandemia”. A responsável da Claudifel lamenta que “o mercado esteja tão instável”, ao qual acresce “o constante aumento das matérias-primas, da energia, dos transportes e a falta de mão-de-obra, bem com a carga de impostos” que tanto penaliza a atividade empresarial.
No cenário atual, fórmulas mágicas não existem. Ainda assim, “incentivar a formação nas escolas secundarias, aposta na sustentabilidade, uma maior propensão para os mercados internacionais será fundamental”. Ao Governo competirá criar a melhor envolvente empresarial sendo para isso fundamental “reduzir os impostos.

Ainda que os sinais apontem para um ano de forte afirmação do calçado português nos mercados externos, os empresários vislumbram sinais de contenção e de abrandamento. Os próximos meses serão decisivos para se perceber se a “retoma” veio definitivamente para ficar.

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