APICCAPSAPICCAPSAPICCAPS
Facebook Portuguese Shoes APICCAPSYoutube Portuguese ShoesAPICCAPS

Regresso da produção à Europa é uma grande ilusão

Regresso da produção à Europa é uma grande ilusão

3 Out, 2022

Números oficiais não revelam tendência do regresso de produção à Europa


Ainda que se fale com muita insistência de reshoring ou de nearshoring, termos que na sua essência significam retorno das indústrias para o seu país de origem, os números oficiais não parecem revelar essa tendência. “Não é possível comprovar esse movimento”, considera Joana Vaz Teixeira. 

De acordo com a coordenadora do World Footwear Yearbook, iniciativa desenvolvida pela APICCAPS que se consubstancia na produção e na divulgação de um relatório aprofundado que analisa as principais tendências no sector do calçado a nível mundial, “não é possível comprovar um regresso forte da indústria à Europa ou uma aproximação massiva aos mercados de consumo”.

“Em 2021, a produção global de calçado ultrapassou os 22 mil milhões de pares, estando ainda abaixo dos níveis pré-pandemia”, realçou Joana Vaz Teixeira. A indústria “continua fortemente concentrada na Ásia, onde são fabricados quase 9 em cada 10 pares de sapatos”.   Realce, ainda assim, para o facto de, nos últimos anos, “a China ter perdido alguma quota de mercado, mas esta tem sido aproveitada pelos países asiáticos”, explicou Joana Vaz Teixeira.  

A China e os outros
Com efeito, se em 2010, a China assegurava mais de 62% da produção mundial de calçado, no último ano, o peso relativo da indústria chinesa na produção global ascendia a apenas 54,1%. (12 016 milhões de pares de calçado produzidos em 2021)

Índia (quota atual de 11,7% na produção referentes à produção de 2 600 milhões de pares de calçado em 2021), Vietname (6,1%; 1.360 milhões de pares), e Indonésia (4,9% 1 083 milhões de pares) parecem ser os players que estão a conquistar espaço à China. Todos, sem exceção, reforçaram significativamente a sua relevância na última década.

Também a Turquia emergiu neste período e praticamente triplicou a produção na última década para 547 milhões de pares no final de 2021.

América resiste mas pouco
O continente americano recuou, mas continua a resistir no que à indústria de calçado diz respeito. Nesta fase, respondem por 6,1% da produção mundial de calçado (o peso relativo era de 8% em 2010).

Para esse registo continua a ser fundamental o desempenho de Brasil e México, os dois grandes players da região. Em conjunto, deixaram de produzir 140 milhões de pares no espaço de uma década. 

No que se refere ao Brasil, desde 2010, a produção caiu praticamente 10% para 806 milhões de pares. Já no México, o recuo é ainda mais expressivo: menos 21,7% para 191 milhões de pares.

Realce ainda para a Argentina, que continua a produzir mais de 100 milhões de pares de calçado todos os anos (manteve-se praticamente inalterável neste período).

Países como Chile (2 milhões de pares), Equador (30 milhões) Guatemala (30 milhões), Paraguai (5 milhões), Peru (23 milhões de euros) e Venezuela (18 milhões de pares) continuam a ter alguma tradição no fabrico de calçado.

África com mais força do que Europa
Tradicionalmente sem grande tradição no que se refere à produção de calçado, o continente africano é responsável nesta fase por 2,9% da produção mundial, reforçando mesmo a sua relevância no espaço de uma década.

África do Sul (51 milhões de pares produzidos em 2021) Egipto (72 milhões de pares), Etiópia (91 milhões), Marrocos (65 milhões), Nigéria (93milhoes), Quénia (60 milhões) e Tunísia (15 milhões) merecem um olhar mais atento no futuro.


Europa em perda
A Europa tem vindo a perder protagonismo à escala internacional. Em 2010 respondia por 4% da produção mundial. Nesta fase, representa apenas 2,8% ( 627 milhões de pares produzidos em 2021).

O principal player do setor europeu, a Itália, registou um recuo na ordem dos 26,6% na última década, deixando de produzir anualmente 54 milhões de pares de calçado (para 149 milhões no final do último ano). Espanha manteve posicionamento similar, produzindo os mesmos 95 milhões de pares. Já Portugal, aumentou a produção em 22,6% para 76 milhões de pares no final de 2021 (que compara com os 62 milhões de pares fabricados em 2010).
Países como Alemanha (55 milhões de pares produzidos em 2021), França (15 milhões de pares), Hungria (10 milhões de pares), Polónia (22 milhões de pares) e Roménia (14 milhões de pares) têm ainda expressão, mas estão claramente a perder terreno.  No Reino Unido produzem-se, apenas, 5 milhões de pares de calçado por ano.

Portugal resiste
“Portugal mantém uma estrutura produtiva forte, dinâmica, assente em empresas de pequena e média dimensão, mas muito ágeis no mercado”, considera Luís Onofre. “Esse é um dos motivos pelos quais a indústria portuguesa tem vindo a conquistar alguma relevância no contexto europeu e a ser procurada por clientes de referência, em particular nos segmentos mais altos de mercado”, sublinha o Presidente da APICCAPS.  

Luís Onofre considera que os próximos anos serão exigentes para o setor, razão pela qual “iremos reforçar os investimentos na área da inovação e da sustentabilidade”. “Temos condições para sermos uma grande referencia internacional ao nível de desenvolvimento e soluções sustentáveis”.  

Partilhar:

Últimas Notícias