Ação de Demonstração em Alcanena
O projeto BioShoes4All está a tornar a indústria portuguesa de calçado numa referência no desenvolvimento de soluções sustentáveis. Uma nova geração de produtos está a nascer e dar frutos, principalmente na indústria de curtumes. Dois anos depois, os resultados estão à vista e foram apresentados numa ação de demonstração, em Alcanena.
Maria José Ferreira explica que “tem sido feito um trabalho muito extenso de identificação de resíduos, excedentes agroalimentar e agroindustriais que existam em quantidade e que foram estudados para perceber como é que os podemos valorizar nos materiais para calçado”. A coordenadora do projeto BioShoes4All deu como exemplos “excedentes de casca de castanha, borra de café, de pinheiro e folha de oliveira, entre muitos outros"
"A indústria de curtumes está muito próxima da alfaiataria”. A provocação é de Susana Ferreira, da Curtumes Boaventura, uma das empresas visitadas durante a Ação de Demonstração. “Atualmente a exigência é tal, que os clientes querem algo tão desenhado a si, de acordo com as suas regras e exigências. Por isso, temos de nos adaptar ao que nos é pedido. Para isso temos de melhorar a nossa eficácia, temos de ter todas as certificações e apostar em novos produtos", explica.
No espaço de dois anos, o projeto criou 24 tipos de bio-couro, 26 tipos de bio-fibras e 33 novos produtos de calçado. Soluções que têm uma pegada ambiental reduzida, composta por couros extraleves e inovadores processos de curtimento.
“O projeto BioShoes4All vem acima de tudo reafirmar o couro como material bio. O couro é um material da natureza, provem de um animal. Não é um material que necessite de extração é um material que se renova” explica Gonçalo Santos. O secretário-geral da APIC explica que “projetos como o BioShoes4All vem reafirmar estas credenciais do couro e apresentam propostas de junção com outros materiais, que potencia ainda mais as características sustentáveis que o couro tem per si”.
A Ação de Demonstração decorreu no Centro Tecnológico da Indústria de Curtumes (CTIC) em Alcanena, e contou com uma mesa-redonda que reuniu vários especialistas do setor. João Carvalho, especialista em tendências, Gonçalo Santos da APIC e Manuel Dias, da Dias Ruivo discutiram sob o mote “A pele que habitamos” e exaltaram aos principais desafios que a indústria atravessa.
"O futuro só tem interesse e só podemos inovar se controlarmos todos os parâmetros que entram na sociedade. E, se possível, com um paleta reduzida de materiais em cima da mesa”, explica Manuel Dias. Por outro lado, João Carvalho acredita que é o momento ideal para promover todos os ensinamentos que retiramos do conhecimento do couro. "Gostava que aproveitássemos todos para passar a palavra. Aproveitar esta revolução ecológica a que estamos a assistir. Muitos jovens estão contra o plástico, por exemplo”.
O projeto está assente em 5 pilares: biomateriais, calçado ecológico, economia circular, tecnologias avançadas de produção, formação e produção.
No que toca ao pilar da economia circular foram desenvolvidas 14 tecnologias avançadas de produção. Susana Ferreira explica que, no caso da Boaventura, " somos uma indústria que utiliza muita água e muitos produtos químicos. E, por isso, as marcas exigem que exista um acompanhamento muito rigoroso nestes campos. Temos todas as certificações necessárias, estamos atentos a todos os requisitos, e entramos em todos os projetos que nos permitem ser cada mais vez sustentáveis”.
Estas novas descobertas, que vão posicionar Portugal no mundo, reúnem 70 parceiros, entre empresas, centros tecnológicos e universidades. Até agora foram alcançados 121 resultados. No pilar do calçado ecológico foram desenvolvidos 29 novos produtos, 4 plataformas e 1 linha piloto.
"Há cerca de dois anos começamos com um processo novo em precisávamos de 10-12 dias, com 10-15 passagens, para pintar uma pele. Hoje conseguimos pintar a pele com apenas uma passagem e um dia”, explica César Rosa, da Curtumes Ibéria, a segunda empresa visitada no âmbito desta Ação de Demonstração. “Além disso, estamos a usar energias renováveis (painéis solares) que alimentam esta máquina”.
Quanto a quarto pilar “tecnologias avançadas de produção, foram apresentados 10 resultados sobre reciclagem de calçado e simbiose industrial. Desde o início da campanha de comunicação, o projeto BioShoes4All já alcançou digitalmente um total de 44 milhões de pessoas.Um projeto circular...transversal em toda a cadeia que promete posicionar Portugal no mundo com uma indústria sustentável 360 graus.