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No reciclar está o ganho

No reciclar está o ganho

25 Mar, 2025

A produção mundial de plástico tem vindo a crescer de forma expressiva nos últimos anos


A produção mundial de plástico tem vindo a crescer de forma expressiva nos últimos anos e, em 2024, atingiu aproximadamente 430 milhões de toneladas. Este número reflete um aumento contínuo desde 1950, quando a produção era de cerca de 2 milhões de toneladas.

Destes, apenas 9% é reciclado. Aina há muito caminho para fazer. O consumo e a produção de plásticos requerem a utilização de uma elevada quantidade de combustíveis fósseis, o que tem consequências negativas para o ambiente. Para agravar o problema, a redução da atividade económica provocou uma queda abrupta no preço do petróleo a nível mundial, fazendo com que a produção de plásticos a partir de materiais fósseis virgens seja significativamente mais barata do que a utilização de materiais plásticos reciclados. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, se a produção e a utilização de plástico continuarem a crescer de acordo com as previsões, a indústria dos plásticos será responsável pela utilização de 20% do petróleo a nível mundial em 2050, um aumento significativo em relação aos atuais 7%.

A quantidade cada vez maior de plástico, o seu impacto na biodiversidade e a sua contribuição para as alterações climáticas, bem como a forma de o integrar numa lógica de economia circular, são questões que figuram na agenda da indústria do calçado e do couro.

Perante este cenário, a indústria de calçado e artigos de pele não está imune às questões relacionadas com as alterações climáticas e a sustentabilidade. Em particular, nas últimas décadas, muitos têm sido os projetos de investigação e inovação, assim como o investimento realizado pelas empresas, na área da sustentabilidade, com vista ao desenvolvimento de novos materiais, produtos, processos, tecnologias produtivas e novos modelos de negócio.
O desenvolvimento sustentável requer uma abordagem holística e a adoção de práticas e implementação de medidas sustentáveis focadas na redução do impacto ambiental da indústria, garantindo boas condições aos trabalhadores e contribuindo para a sociedade, sem nunca esquecer a componente económica, pois, sem lucro não há empresa e sem empresa não existe desenvolvimento sustentável.

É imperativo que as empresas e as marcas definam o conceito de produtos sustentáveis e quais as informações e atributos ambientais que devem ser comunicados ao consumidor. A comunicação com o consumidor deve ser clara, transparente e fiável, promovendo assim a confiança no produto, na marca e na empresa.

Reciclar para uma economia 100% circular
O material reciclável refere-se a um material que é recolhido, reprocessado e utilizado na produção de materiais reciclados. Por exemplo, os materiais plásticos podem ser reciclados diversas vezes através de processos de extrusão (processo de conformação mecânica) e de injeção, os materiais metálicos podem ser fundidos e reprocessados para obter novos materiais, e as fibras extrudidas para produzir novos fios.

No cluster do calçado, por exemplo, os resíduos provenientes da produção de solas de poliuretano termoplástico (TPU) e de borracha termoplástica (TR) podem ser recolhidos, moídos e reformulados (através da adição de aditivos, se necessário, para garantir as propriedades necessárias ao funcionamento) para injeção em novos componentes de calçado. Estes materiais podem ser reciclados várias vezes mantendo propriedades adequadas à função.

Os desperdícios pós-consumo, materiais ou produtos descartados pelos consumidores no fim de vida útil, podem ser recolhidos, classificados e reprocessados para desenvolver novos materiais reciclados para a produção de novos produtos. Existem várias metodologias disponíveis para a reciclagem desses materiais, como o desenvolvimento de processos de reciclagem dedicados a tipos específicos de materiais, a produção de materiais compostos ou a reciclagem de materiais termoplásticos, entre outros.

Outro exemplo, ainda em fase embrionária, mas com potencial, diz respeito à reciclagem de calçado pós-consumo, que após recolha, triagem e separação dos materiais, pode ser moído e o material resultante incorporado no desenvolvimento de novos materiais/componentes para calçado ou outras aplicações como pavimentos ou construção. O processo de reciclagem é facilitado em produtos com menor diversidade de materiais e pela utilização de materiais da mesma composição.

A utilização de materiais reciclados na produção de produtos de calçado é uma das estratégias com maior impacto na redução da pegada ambiental dos produtos, quer pela diminuição da extração e consumo de matérias-primas, quer pela diminuição dos resíduos que acabam em aterros ou incinerados. Devem ser valorizados os materiais reciclados, que depois de utilizados, podem ser novamente reciclados e reintroduzidos na cadeia de valor.

BioShoes4All
O projeto Bioshoes4All está a pesquisar e a desenvolver várias abordagens para a reciclagem e valorização de resíduos de calçado (pós-produção e pós-consumo). Isso inclui, entre outros, a reciclagem de materiais termoplásticos e termofixos para solas de calçado; a produção de materiais compostos à base de têxteis para calçado e artigos de couro; o desenvolvimento de compósitos para palmilhas e solas; e o desenvolvimento de materiais não tecidos e materiais de construção, incorporando resíduos de calçado. O projeto também está a estudar a implementação de um modelo de recolha de calçado injetado pós-consumo, com o objetivo de reprocessamento e produção de novos produtos.
Como parte do projeto Bioshoes4All, "Inovação e capacitação do setor de calçado para a bioeconomia sustentável", coordenado pela APICCAPS e pelo Centro Tecnológico do Calçado de Portugal, com o apoio do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), a reciclagem é uma das principais prioridades. Até ao final do ano, uma nova geração de produtos será concluída.

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