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Diário de um desconfinamento: Pedro Saraiva, Bolflex

Diário de um desconfinamento: Pedro Saraiva, Bolflex

2 Fev, 2022

Entrevista a Pedro Saraiva, Bolflex


Nesta edição do Diário de um Desconfinamento falamos com Pedro Saraiva, Diretor Comercial da Bolflex

“Uma resposta forte e segura é o melhor modo de acautelar os nossos interesses e dos nossos clientes”.

A pandemia trocou literalmente as voltas ao setor do calçado. De que forma se adaptou a sua empresa a este período crítico?
O grupo Bolflex tenta desde sempre viver o presente com os olhos no futuro. A pandemia, sobretudo no seu início, foi um desafio ao planeamento e à visão estratégica do negócio do calçado, ao qual nós não passamos alheios. Houve a criação de um gabinete informal de crise, onde os desafios eram e são discutidos diariamente, tentado avaliar quais as melhores decisões e direções a tomar.

Ouvir e ver outros exemplos fora da organização foi e é também uma prática cada vez mais recorrente. Toda a informação recolhida ao longo destes últimos anos tem sido preciosa para nos guiar através destes dias mais atípicos. O fluxo de informação recolhido ou enviado via novas tecnologias, tais como meios de videochamada ou plataformas sociais têm sido também fulcrais para a manutenção da atividade.

As novas tecnologias têm suprimido algumas viagens e mesmo feiras e exposições. Comprar materiais de trabalho online bem como fazer algum benchmarket virtual são práticas agora assíduas.

Estabeleceu-se um plano de resposta aos riscos de ruptura na cadeia de suprimentos, uma vez que o fornecimento de matérias-primas foi e tem sido um tema em discussão permanente na indústria do calçado. Mas este é um fenómeno que tem acontecido de forma transversal, desde a ruptura de microchips para a indústria automóvel até à falta de materiais para produzir componentes na nossa indústria. Essa ruptura de suprimentos obviamente que afetou a política de preços, mas tudo temos feito para salvaguardar os melhores interesses dos nossos clientes, obviamente sem pôr em risco a nossa estrutura e planos.

A Bolflex continuou a investir em novos modelos, nova maquinaria e novos produtos, reforçando ainda mais a sua veia inovadora. Pensamos que uma resposta forte e segura é o melhor modo de acautelar os nossos interesses e dos nossos clientes. Prosseguir com o desenvolvimento de novas soluções, produtos e coleções, a par de um incremento de produção de determinadas famílias de produtos aliando tudo a nova maquinaria que estamos a instalar, é o mix perfeito para escapar aos dias mais cinzentos.

Considera que o pior já passou?
Bem, gostava de ser vidente mas, na verdade, são os desafios mais duros que nos fazem crescer e transcender. Criamos raízes mais fortes durante estes últimos dois anos de pandemia e penso que esta fase nos tem ajudado a crescer mais sustentadamente, uma vez que existe uma maior percepção interna daquilo que somos e das nossas potencialidades.

O ano de 2021 foi um ano bastante bom para o Grupo Bolflex. Se tivermos a felicidade e o engenho de continuar a senda, e assim desenvolvermos todos os projetos que temos em mente, penso que nada teremos a temer para os próximos cinco anos.

Quanto à indústria do calçado, quem estiver atento e acompanhar os sinais do mercado, compreender os desafios do mundo actual, eventualmente não terá nada a temer. Existem sempre maneiras de crescer e potenciar o negócio, é preciso estarmos atentos aos clientes e às novas linguagens e maneiras de comunicar que estão em desenvolvimento e expansão.

Será 2022 um ano de afirmação do calçado português no exterior?
A indústria portuguesa de calçado trabalha, por norma, para clientes estrangeiros. Muitos são marcas sobejamente conhecidas do grande público, sendo que o grau de exigência destas marcas tem vindo a aumentar e, consequentemente, o nível de know-how dos fabricantes tem vindo progressivamente a incrementar. Tal facto é traduzido em sapatos cada vez mais perfeitos, complexos e modernos.
Temos excelentes fábricas de componentes em Portugal, mas também fábricas de sapatos ao melhor nível mundial. Na verdade, a indústria portuguesa cobre praticamente todo o expectro de tipologias de sapatos, desde o conforto, passando pelo sapato técnico, tocando no segmento de luxo. Existem fábricas que são autênticos laboratórios, onde o sapato é tratado como uma peça delicada. Obviamente que isso nos coloca numa posição de vantagem considerando outros competidores e ameaças directas.
Os grandes lemas da nossa indústria terão de ser cada vez mais a qualidade e o serviço.

Quais são as principais dificuldades que sente nesta altura?
A grande dificuldade que a indústria apresenta neste momento é a falta de mão-de-obra. O aumento dos preços de matéria-prima, os aumentos transversais dos custos com energia e transportes, bem como uma carga fiscal excessiva que retiram competitividade ao nosso setor, mas também a outros clusters da indústria portuguesa.

Passada esta “tormenta”, o que ficou? Antevê alterações ao nível do perfil do consumo ou mesmo da estratégia de subcontratação das grandes marcas internacionais que favoreçam, por exemplo, uma relação de maior de proximidade?
Ficou a prova de que nos momentos mais difíceis, a vontade, a resiliência e o acreditar num caminho faz-nos chegar a bom porto.
Os clientes procuram cada vez mais os meios virtuais e outro tipo de tecnologias para satisfazer as suas necessidades. Por outro lado, nos últimos dois anos tem se acentuado um maior número de visitas a Portugal de clientes de marcas conceituadas, mas também novas marcas emergentes, start-ups, entre outros, que pretendem iniciar ou retomar a produção em Portugal.
A par do mundo virtual, existem aqueles que por efeito dos lockdowns procuram agora o contacto mais próximo para apagar alguma mancha de isolamento. Penso que apesar das condicionantes e da tecnologia, o contacto de proximidade continua a ser um factor decisivo.
Portugal é cada vez mais um hub da indústria do calçado, pela sua diversidade de oferta. Fabricamos produtos já com um elevado grau de complexidade e com standards elevados de qualidade e só isso já são factores decisivos por definição para atrair novos clientes para o mercado.

-A sustentabilidade veio para ficar ou é, na sua opinião, uma moda passageira?
A Sustentabilidade é uma realidade presente e futura. Não existe outra maneira de olhar para um mundo futuro que não contemple um meio-ambiente mais coeso, onde se aproveite ao limite os recursos disponíveis, reciclando, reaproveitando, reutilizando, tudo com desperdício mínimo, onde a comunidade esteja envolvida nos projetos e a saúde e bem estar de todos possa ser um bem adquirido.
O grupo Bolflex possui uma unidade de reciclagem, a Rubberlink, única na Europa, com a habilidade de transformar e valorizar resíduos e desperdícios de produção, transformando-os em matérias-primas para a indústria. Fazemos tal com todos os nossos desperdícios de produção, sejam borracha, sejam termoplásticos ou EVA’s. Mas também valorizamos pneus velhos provenientes da indústria automóvel, assim como sapatos em final de ciclo de vida, entre outros, Tudo é reaproveitado e transformado em diferentes matérias-primas que serão posteriormente integradas em novos produtos.
Temos para além disso que estar ainda atentos à integração da indústria no novo desafio 4.0 – A Inteligência Artificial – que pode também trazer bastantes benefícios a nível de sustentabilidade e optimização de recursos.
-O que tem a indústria portuguesa de calçado para oferecer nos mercados externos?
A indústria portuguesa de calçado apresenta um produto com carácter, competitivo, de qualidade, com muito know-how associado, com grande diversidade de escolha e rapidez no serviço.

Foto de João Saramago

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