Pedro Pereira, Reve de Flo
O ano de 2022 foi um ano bastante “particular” para a grande maioria das empresas. Estávamos a recuperar do período do Covid, uma situação para a qual nenhuma das empresas (ou país) estavam preparadas e onde as pessoas mudaram completamente os seus hábitos de compra, apostando cada vez no mercado online devido ao facto de não poderem sair das suas residências para ir às lojas. Esta alteração, juntamente com o crescimento que as redes sociais tiveram neste último par de anos e com a vontade que as pessoas tinham em “consumir” depois do período de isolamento fez com que o consumo e as vendas online tivessem um boom que, consequentemente, levou a grande maioria das empresas de calçado a terem também um crescimento no seu volume de encomendas.
Numa situação conjunturalmente complexa, de que forma podem as empresas contornar as dificuldades?
Todas as condicionantes que mencionei na questão acima vieram trazer dificuldades acrescidas às empresas, por um lado devido ao aumento que tivemos em todos os materiais e que, naturalmente, tivemos de aplicar no produto final e, por outro lado, porque num período de maior crise os clientes negoceiam cada vez o preço final do produto.
Quais são os principais argumentos competitivos que as empresas portuguesas podem esgrimir para superar a concorrência?
Além da qualidade reconhecida do calçado português, que obviamente temos de trabalhar por manter e/ou melhorar, na minha opinião as empresas portuguesas podem superar a concorrência pela sua flexibilidade de produção e rapidez de resposta tanto a nível produtivo como a nível de novos desenvolvimentos. Atualmente vivemos num mundo em que o “digital” e as redes sociais fazem com que os clientes queiram tudo com a maior rapidez possível para colocar o produto no mercado e é nesse sentido que nos podemos diferenciar, fazendo novos produtos em timings que outros não conseguem e, se necessário, adaptar a produção a quantidades mais pequenas que vão também permitir aos nossos clientes muitas vezes testar o produto no mercado e analisar o seu potencial.
Os dados das grandes organizações internacionais apontam para uma recuperação económica, ainda que moderada, em 2024. Acredita que o próximo ano seja melhor para o calçado português?
Honestamente não acredito que o ano de 2024 seja o ano da recuperação económica para o setor do calçado. Penso que o final do ano de 2023 e os primeiros meses do ano de 2024 ainda serão bastante complicados para as nossas empresas e que teremos uma luta constante por nos mantermos “vivos” enquanto esperamos, com bastante ansiedade, que o panorama internacional regresse à “normalidade” ou, pelo menos, que toda esta incerteza económica se mantenha minimamente estável para que tanto as empresas como as pessoas consigam fazer algum planeamento nas suas vidas.
Numa fase em que o Orçamento de Estado começa a ser negociado, no seu entendimento, que medidas extraordinárias deveriam ser tomadas para relançar a atividade económica em Portugal?
Do que temos visto nos últimos anos, penso que não podemos esperar uma ajuda significativa por parte do governo no novo Orçamento de Estado.
Vamos ter novamente um aumento do salário mínimo, salário esse que penso que todos nós concordamos que é baixo, mas é um aumento que não pode continuar a ser suportado integralmente pelas empresas e com um maior benefício para o governo do que para os colaboradores. É fundamental que as taxas contributivas sejam revistas para que as empresas pelo menos sintam que os custos que têm resultam realmente num aumento de salário do trabalhador e da sua qualidade de vida, contrariamente ao que acontece agora em que o estado leva uma parte demasiado significativa do salário do colaborador.