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Formação professional deve ser adequada às necessidades das empresas

Formação professional deve ser adequada às necessidades das empresas

14 Dez, 2020

Entrevista a Paula Gil, Diretora-Geral do Centro de Formação Profissional (Academia de Design e Calçado)


Assumiu há um ano o cargo de Presidente do Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado (Academia de Design e Calçado), mas recentemente foi reconduzida na qualidade de Diretora Geral. Um Centro de Formação profssional que se apresenta de cara lavada e cuja prioridade passa pela formação à medida das empresas.

Entrou pela primeira vez na Academia há cerca de um ano, primeiro na qualidade de Presidente, depois como Diretora Geral. Já pode dizer que conhece bem a casa? Que avaliação faz deste primeiro ano?
O sentido de responsabilidade com que assumi as funções de Presidente de Administração do Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado durante um ano é o mesmo com que assumo, desde setembro, as funções de Diretora do CFPIC.   
O atual momento é um momento crucial para a indústria do calçado, que para além dos inúmeros desafios com que já se debatia, viu-se agora a braços com uma situação de crise grave, com uma incerteza constrangedora. O CFPIC tem tido um papel determinante no apoio à mitigação dessa situação de crise, através do desenvolvimento de formação profissional nas empresas que viram a sua atividade reduzida em grande escala.     

Assumir funções de direção de uma instituição com 55 anos ao serviço da indústria do calçado, cuja história é, por si só, uma referência no setor, que muito nos orgulha, é, pois, uma tarefa de compromisso com as necessidades desta indústria, num momento particularmente complexo.

O balanço deste ano é muito positivo mas ainda estou a conhecer a casa.  
 
Tem sido feito um trabalho de ajustamento da oferta formativa do Centro às necessidades do momento; numa primeira fase, em virtude da obrigatoriedade de suspensão da atividade formativa, foi iniciada a formação em regime de e-learning, que veio para ficar; depois houve a emergência da resposta em matéria de formação profissional às empresas que recorreram às medidas de apoio extraordinário que o governo disponibilizou; por outro lado, tem sido procurado um relançamento da imagem do Centro que se apresenta renovada, quer dentro das instalações, quer para o exterior, e essa projeção da imagem do Centro será uma constante deste mandato, junto de todos os nossos parceiros: empresas, escolas, instituições de ensino superior, associações, municípios, centros tecnológicos e junto dos nossos utentes, nos dois concelhos onde temos instalações – S. João da Madeira e Felgueiras.

Sabemos que prefere a designação Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado a Academia de Design e Calçado. Porquê?
O CFPIC é um Centro de Formação Profissional da rede de Centros do IEFP, IP. Como tal, tem por missão e atribuições as mesmas que, em matéria de formação profissional, estão incumbidas ao próprio IEFP, IP.

Num setor tão relevante para a economia do país, como é o calçado, em que a falta de mão-de-obra qualificada é uma realidade sentida por todos os empresários e, sendo a principal função do Centro a de formar profissionais competentes face aos desafios com que se confrontam hoje em dia todas as empresas, em matéria de inovação tecnológica, qualidade do produto, inovação e sustentabilidade, não encontro melhor designação para o Centro do que o seu próprio nome, que nunca deixou de ser Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado.

Que projetos tem para a Academia, ou Centro de Formação, se preferir?
O principal projeto é a aproximação ao tecido empresarial, respondendo às necessidades de formação profissional que, em cada momento surjam, por diversos motivos, como o resultado de alterações tecnológicas,  de implementação de novos métodos de trabalho, de aquisição de novos recursos humanos, de resposta a situações de crise como a que atualmente vivemos, quer seja em resposta às necessidades de formação contínua dos ativos empregados do setor, em áreas técnicas específicas das várias etapas do processo industrial (corte, costura, montagem e acabamento de calçado e também de marroquinaria) quer seja em áreas mais transversais, como a higiene e segurança, logística, competências digitais e outras.   

Esta formação profissional deve ser também direcionada para os empresários, numa perspetiva de aprefeiçoamento contínuo das suas competências de liderança e comunicação, boas práticas em matéria de higiene e segurança, sustentabilidade dos processos e produtos, entre outras.   

A atração dos jovens é outro dos nossos objetivos. O CFPIC tem uma longa experiência em cursos de Especialização Tecnológica, de onde têm surgido jovens muito talentosos nas diversas áreas de formação que desenvolvemos. Temos uma forte aposta no relançamento dos Cursos de Aprendizagem que são cursos criados pelo IEFP, que promovem uma formação profissional em regime de alternância com as empresas, durante os 3 anos (ou períodos) em que decorre, possibilitando a aquisição de competências adaptadas à realidade do posto de trabalho, logo desde os primeiros meses de formação, o que é muito vantajoso, quer para o formando, que convive com a realidade empresarial durante todo o percurso formativo, quer para as empresas que podem “moldar” o formando ás suas práticas.

A internacionalização é outro dos nossos objetivos. Possibilitar aos nossos formandos a realização de estágios no estrangeiro, promover a formação dos nossos formadores em mercados com forte implantação da indústria do calçado e marroquinaria, receber no Centro de Formação formandos oriundos de países estrangeiros que pretendam vir aprender ou aperfeiçoar as suas técnicas de trabalho no setor.   

E como Centro de Formação Profissional do IEFP, constituirá sempre nossa missão a implementação das políticas públicas em matéria de formação profissional, dando resposta às necessidades de qualificação dos desempregados, às necessidades de reconversão/atualização/aperfeiçoamento dos ativos empregados, em qualquer área profissional, com predominância para a do setor do calçado.

É comum ouvir-se os empresários dizerem que a formação está desadequada das suas necessidades. Porque é que isso acontece?
Possivelmente por desconhecimento de alguns empresários de que o Centro de Formação pode disponibilizar formação profissional à medida das necessidades de cada empresa.   
Entre 2011 e 2013, com o elevado aumento do desemprego, foi preciso ocupar um grande número de pessoas em ações de formação profissional, muitas vezes avulsa e sem grande correlação com os diagnósticos de antecipação das necessidades de formação para um mercado de trabalho que, nessa altura, também não oferecia muitas possibilidades.   
Criou-se, talvez, a ideia errada de que a formação profissional tinha o objetivo de “entreter” as pessoas sem que da sua frequência adviesse qualquer benefício quer para o formando, quer para o país. Não é essa a realidade de hoje. A formação profissional que hoje se pode disponibilizar é muito variada, quer em termos de modalidades, quer em termos de conteúdos e duração. É verdadeiramente uma formação à feição de cada solicitação. Realizada na própria empresa ou no Centro de Formação, em horário laboral ou pós-laboral, em regime presencial ou à distância, de cariz mais técnico ou mais transversal. Quase todas as soluções são passíveis de serem realizadas no atual quadro de regulamentação da formação profissional.

Em que moldes poderá uma empresa requerer ao CFPIC formação à medida ou em ambiente de trabalho?
As empresas devem contactar o CFPIC pelos meios convencionais: web site, redes sociais, contacto telefónico ou e-mail e é, imediatamente agendada uma reunião com o empresário para identificação das necessidades de formação e apresentação, sempre em comum acordo com a empresa, de um plano de formação a implementar.   
É intenção desta direção visitar todas as empresas do setor, quer em São João da Madeira, quer em Felgueiras. Posso adiantar que, nestes dois meses de funções de direção, tive oportunidade de visitar nove empresas e já estamos a fazer formação em todas elas.       
É importante que as empresas reconheçam que o CFPIC, pela sua natureza marcadamente setorial, é a estrutura melhor preparada para responder às necessidades de formação profissional das empresas da indústria do calçado. E é importante lembrar que a formação profissional pode ser toda ela realizada com recurso a cofinanciamento nacional e comunitário, sem quaisquer custos para a empresa ou para os trabalhadores.

Os setores industriais, o calçado incluído, têm tido muita dificuldade de atraírem novos colaboradores. Na sua opinião, porque é que isso acontece?
Existe ainda um estigma, difícil de combater, nas gerações mais jovens de que trabalhar na indústria, seja ela qual for, não é prestigiante, é um trabalho árduo e mal remunerado. Creio que esta perceção tem vindo a ser invertida, ainda que do ponto de vista da remuneração, haja ainda um longo caminho a percorrer.    
A indústria do calçado tem vindo a evoluir e a modernizar-se e é preciso fazer passar essa nova imagem à camada mais jovem. O Centro de Formação tem também aqui um papel fundamental na implementação de processos formativos de qualidade, que possam, por um lado, motivar e incentivar os jovens a desenvolver uma carreira profissional neste setor, por outro lado, dotá-los das competências necessárias à sua plena integração no mercado de trabalho.

De que forma será possível assegurar uma nova geração de talento para a nossa indústria?
O Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado orgulha-se de ter no panorama nacional de talentos, vários seus ex-formandos. Luís Onofre será, porventura, o principal embaixador do CFPIC nesta matéria, mas há outros nomes igualmente sonantes. Todos os anos nos orgulhamos de ter vários jovens em competições nacionais e internacionais, muitas vezes premiados. Isso é o resultado do trabalho da nossa equipa de profissionais qualificados, de elevada experiência na indústria do calçado, que nos permite promover as competências técnicas necessárias nas diversas fases do processo de fabricação, desde o design, modelação, corte, costura, montagem e acabamento de calçado, e também de marroquinaria, e da existência de condições ótimas, nos dois polos de formação do centro, para a aprendizagem destes saberes, o que muito orgulha o CFPIC.   
Mas temos que continuar a apostar em novos percursos de formação, em inovação e criatividade dos processos, em internacionalização, em inspiração em outros mercados, em cooperação com todos os parceiros com relevância para o Cluster do Calçado, em articulação permanente com as Associações Empresariais e, em particular, com a Apiccaps que representa as empresas do setor, pois só de forma concertada é possível atrair recursos humanos de valor para a nossa indústria.

Qual entende que deverá ser o papel do CFPIC no futuro sustentado do cluster do calçado em Portugal?
O CFPIC estará, inquestionavelmente, implicado no desenvolvimento de processos formativos que promovam a aquisição de competências nos quatro domínios do Saber – o saber, o saber fazer, ou seja, o conjunto das competências técnicas, teorias e práticas inerentes à área do calçado, o saber estar e o saber evoluir, ou seja, o conjunto das competências comportamentais que complementam as anteriores: responsabilidade, iniciativa, trabalho em equipa, capacidade de resolver problemas, capacidade de reagir a situações imprevistas, capacidade de se adaptar às mudanças.
Como já referi, este trabalho só é totalmente eficaz se for o resultado de uma concertação permanente com a indústria, na identificação das necessidades de formação, no desenvolvimento dos planos de formação, na implementação de planos de Formação-Ação, na realização de uma formação profissional alinhada com a garantia de sustentabilidade ambiental dos processos.   
A indústria do calçado tem dado provas de uma industria resiliente, com empresários muito dedicados e o momento atual é disso um bom exemplo.     
É com confiança no futuro que devemos responder aos desafios do presente. E o CFPIC – Academia de Design e Calçado está na primeira linha para apoiar a indústria do calçado na resposta a esses desafios.


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