Europa melhor do que a Ásia. Portugal melhor do que Itália.
A produção mundial de calçado caiu 6%, em 2023, para 22,4 mil milhões de pares, o mínimo na década, se excluirmos os anos pandémicos de 2020 e 2021, de acordo com o World Footwear Yearbook. A indústria do calçado continua fortemente concentrada na Ásia, onde são fabricados quase 9 em cada 10 pares de calçado, resultando numa quota de 87,1% do total mundial (que compara com os 87,4% do ano anterior). Ainda assim, em 2023 a Europa recuou apenas 5% que compara com a perda de 7% no continente asiático.
“Ainda que o ano de 2023 tenha sido particularmente difícil para o setor do calçado a nível internacional, começam a verificar-se os primeiros sinais consolidados de nearshoring”, sublinha Luís Onofre. Para o Presidente da APICCAPS, “é claramente um bom sinal para as nossas empresas que, mesmo num clima de grande exigência, continuam a investir e a procurar novas oportunidades de negócio”. “Nos últimos dois anos, o nosso país foi procurado por marcas de inegável prestígio a nível internacional, que procuram naturalmente um parceiro fiável, com uma grande qualidade produtiva, serviço de excelência e que está a apostar de forma continuada nas áreas da automação, digitalização e mesmo sustentabilidade”, sublinhou Luís Onofre.
Em termos práticos, a China continua a perfilar-se como o maior produtor mundial de calçado, respondendo pelo fabrico de 12,3 mil milhões de pares em 2023 e capturando 55% da quota de mercado global. A Índia reforçou a sua participação, sendo agora responsável por 11,6% do total mundial.
De acordo com o World Footwear Yearbook, a queda na produção mundial está diretamente relacionada com a contração do consumo nos principais mercados mundiais. Estados Unidos, (recuo de 749 milhões de pares) China (398 milhões de pares) e União Europeia (399 milhões de pares) perderam, em conjunto, praticamente 1500 milhões de pares
Em 2023, Portugal (recuo de 3,6% para 81 milhões de pares) voltou a revelar um melhor desempenho do que Itália (perda de 8,6% para 148 milhões de pares). Com efeito, nos últimos dez anos, a produção italiana recuou 26,7% (de 202 milhões de pares produzidos em 2013 para 148 no último ano), enquanto a portuguesa aumentou 8% (de 75 milhões de pares em 2013 para 81 em 2023)
Exportações de calçado com revés significativo
As exportações globais de calçado ascenderam a 14 mil milhões de pares e 168 mil milhões de dólares em 2023, implicando uma diminuição anual de 9,1% e 6,1%, respetivamente, nos volumes negociados e no valor das transações.
No meio deste cenário desafiador, os países asiáticos consolidaram o seu domínio no comércio global de calçado, com a sua quota coletiva a aumentar para 84,6%, face aos 83,9% em 2022. Por outro lado, a quota da Europa contraiu ligeiramente para 12,8%.
A China destaca-se como origem de 63,8% do total das exportações, acima dos 61,3% em 2022. O Vietname ocupa o segundo lugar a grande distância (9,5%), seguido pela Indonésia (3,2%). Estes três países, em conjunto, representam mais de três quartos das exportações mundiais de calçado.
O preço médio de exportação por par de calçado atingiu 12 dólares em 2023, representando um aumento de 3,2% face a 2022. Itália continua a liderar esta tabela, seguido de Portugal.
Ásia também domina no consumo
Em 2023, o consumo de calçado na Ásia representou mais de metade (54,7%) do total mundial, acima da quota registada no ano anterior. A Europa e a América do Norte seguem respetivamente com quotas de 13,9% e 13,4%.
A China continua a ser o principal consumidor de calçado, embora a sua participação no total mundial tenha diminuído (situando-se agora em 17,1%). O consumo nos Estados Unidos registou uma redução significativa, com o país a perder a segunda posição alcançada no ano anterior e a trocar de lugar com a Índia.
A União Europeia, quando considerada como uma região, representa o terceiro maior mercado consumidor de calçado, com 1 948 milhões de pares consumidos em 2023.