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Entrevista Presidente IAPMEI: A nossa perceção é a de uma forte dinâmica setorial

Entrevista Presidente IAPMEI:  A nossa perceção é a de uma forte dinâmica setorial

10 Dez, 2024

José Pulido Valente, Presidente do IAPMEI


Foi recentemente anunciado como novo presidente do IAPMEI. Em novembro, dedicou um dia ao setor do calçado. O Jornal da APICCAPS falou com José Pulido Valente. Competitividade das empresas, re-industrialização da Europa e quadro comunitário de apoio foram alguns dos temas discutidos.

Dedicou recentemente um dia ao setor do calçado, visitando empresas das zonas de forte concentração da indústria e mesmo o Centro Tecnológico. Com que opinião ficou do setor?
As cerca de 1800 empresas do setor do calçado foram responsáveis, em 2023, por 39 000 postos de trabalho e um volume de negócios de 2 288 milhões de euros. Destas, mais de 88% são micro e pequenas empresas.

O setor fechou 2022 ultrapassando pela primeira vez a barreira dos 2 000 milhões de euros de exportações e apesar de quebra em 2023 (-12,3%), fruto das disrupções em vários mercados alvo de exportação, continuou a superar a barreira do 2 000 milhões de euros e vale 2,5% das exportações totais nacionais, tendo vindo a reforçar a sua presença internacional.

A nossa perceção é a de uma forte dinâmica, na qual prevalecem, apesar de dificuldades, a resiliência, o otimismo e a reinvenção do setor. O Centro Tecnológico do Calçado vem claramente desempenhando um papel essencial como parceiro estratégico das empresas do setor, oferecendo suporte técnico, inovação e desenvolvimento tecnológico, para enfrentar os desafios da indústria.

E do lado das empresas verifica-se um enorme investimento - que conta obviamente com apoios públicos - na automação, na investigação, desenvolvimento e aplicação de novos materiais e processos sustentáveis, na diversificação de mercados e na descarbonização, aliada a uma fortíssima componente de design.

Muito se fala de re-industrialização da Europa. Que mudanças de fundo devem ser equacionadas para que contrariar o declínio europeu no setor industrial?
O processo de re-industrialização, que se deseja ocorra no país como na Europa, está a fazer o seu caminho, talvez não tão rápido como desejaríamos, mas não podemos esquecer que o processo inverso durou décadas e seria sempre expectável um re-arranque em tempo e que o processo ocorre em circunstâncias bastante desafiadoras. Há no entanto, indicadores e estudos recentes que indicam, por exemplo, que a transição energética está no bom caminho e sabemos que este é um catalisador para a re-industrialização da economia nacional.

Temos de aproveitar a oportunidade que a transição energética representa para a indústria nacional. A nossa capacidade para produzir energia mais limpa deve ser encarada como uma vantagem estratégica e poderá dar-nos o impulso necessário ao processo de re-industrialização.

O peso da indústria na economia - 13,6% em 2023 - é ainda mais de dois pontos percentuais inferior à média da UE e está longe dos 19% de 1996.
Mas, pela positiva, temos o investimento em ativos fixos industriais a crescer gradualmente desde 2013 e 14% só em 2022, atingindo os 12 mil milhões.
Apesar deste progresso positivo, este crescimento ainda não está a contribuir ao nível do VAB ou do emprego na indústria transformadora, particularmente no seu peso no total do emprego. Porém, é nosso entendimento que há que deixar algum espaço aos investimentos em curso, cujos impactos não podem ser medidos no curto prazo, mas chegarão.

Que futuro está reservado aos setores ditos tradicionais como o calçado ou o vestuário na economia portuguesa?
As empresas destes setores - têxtil, vestuário, calçado e marroquinaria - na sua maioria PME, são frequentemente catalogadas como ‘empresas tradicionais’. Mas essa caracterização está já muito ultrapassada. Nestes setores assistimos há décadas a enormes vagas transformadoras, e estamos seguramente perante a terceira vaga transformacional que lhes é exigida. Sabemos, por isso, que são setores resilientes, profundamente empenhados em corresponder às mudanças e aos desafios. São setores que se reinventam e têm sabido aliar décadas de história, tradição e know-how à tecnologia.
Sabemos que a transformação está em curso e o desafio está a ser aceite. Temos em acompanhamento no IAPMEI investimentos destes setores na ordem dos 252 milhões de euros (Medida C5 do PRR), que nos trarão novas soluções de robótica nas atividades de confeção, ferramentas para redução do consumo de água no sector têxtil, produção de fios de fibras recicladas e naturais dando origem a produtos têxteis e de vestuário inovadores, tecnologias inovadoras de Eco Design, novos processos e materiais sustentáveis e linhas de produção automática para o calçado. São apostas de enorme relevância, que contam com 126 milhões de euros de apoio público.

Na vertente especifica da descarbonização (Medida C11 do PRR), registamos 170 candidaturas do setor têxtil e do setor do calçado, numa aposta evidente numa mudança de paradigma na utilização dos recursos e na aceleração da transição para uma economia neutra em carbono.

A nível comunitário, temos assistido à introdução de um novo quadro regulatório com o objetivo de promover a transição para uma economia mais sustentável. Que papel cabe ao IAPMEI neste processo?
A sustentabilidade será, a curto prazo, uma exigência com alcance e impacto em toda a atividade económica e, por conseguinte, em todas as empresas independentemente da sua dimensão.

As políticas públicas e os sistemas de incentivos procuram justamente orientar as empresas portuguesas a capacitarem-se na adoção de práticas sustentáveis de forma integrada, para uma transformação positiva e assim e contribuir para a construção de uma economia competitiva, mais ética, equitativa e ambientalmente consciente.

O IAPMEI promove a adoção generalizada dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e dos princípios ESG (Ambiental, Social e Governança), o que permitirá fortalecer a resiliência e a responsabilidade social das nossas empresas, com iniciativas e parcerias várias: a nossa parceria com a RDP Internacional sobre Sustentabilidade Empresarial, a Conferência Internacional que realizamos a 10 de dezembro sobre o Passaporte Digital na Indústria, por exemplo.

No que respeita às imposições de reporte ESG, e pese embora as PME não estejam formalmente obrigadas, estamos conscientes de que terão de abraçar também este desafio - embora de forma simplificada - para se manterem nas cadeias de valor das grandes organizações e para garantir a sua competitividade a médio e longo prazo.

Encarar a sustentabilidade e a responsabilidade social de uma perspetiva estratégica é cada vez mais importante para a competitividade das empresas, que daí podem colher benefícios evidentes de melhoria do seu desempenho, incluindo o financeiro. Podem gerir riscos de forma mais eficaz, impulsionar a inovação, melhorar a sua reputação, incluindo a sua marca, e assim obter vantagens competitivas no mercado. A adoção de estratégias e práticas de sustentabilidade e responsabilidade social, constrói relações de confiança duradouras com os trabalhadores, os consumidores e os cidadãos, conducentes a modelos empresariais sustentáveis.  Estas relações têm, necessariamente, que assentar em pressupostos e condutas éticas.

Está já em vigor um novo Quadro Comunitário de Apoio. Que contributo espera que este QCA possa dar para alavancar a competitividade das empresas portuguesas?
No âmbito do Programa Compete 2030, as PME têm 18 milhões de euros disponíveis para inovarem métodos de gestão, incluindo na área da sustentabilidade e Eco inovação, por exemplo.

No contexto da Inovação Produtiva, encontra-se disponível apoio público para operações individuais de investimento, promovidas por PME que contribuam para a melhoria das capacidades produtivas e para o desenvolvimento de soluções inovadoras, digitais e sustentáveis, sobretudo baseadas nos resultados de I&D e no aumento do emprego qualificado.

Também no domínio da Qualificação e Capacitação se encontram disponíveis apoios para os investimentos das PME que visem a qualificação e digitalização dos modelos de negócio através do uso de fatores imateriais de competitividade.

Importa destacar os apoios previstos no âmbito do Sistema de Incentivos à Transição Climática e Energética, visando promover a eficiência energética e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, bem como promover as energias renováveis. Serão apoiados “Investimentos Produtivos Verdes” e a “Qualificação Verde das PME”.

O IAPMEI recebeu até ao momento mais de 2300 candidaturas no âmbito do PT2030, volume que pensamos representar o interesse e a adesão das empresas.

Quais são as áreas prioritárias de trabalho do IAPMEI?
Os apoios públicos disponíveis, especificamente os que se encontram sob coordenação do IAPMEI, estão direcionados para apoiar a inovação, a transição energética, a transição digital, a descarbonização e a economia circular.

São esses os nossos pilares de intervenção. E estes não se esgotam em incentivos ou instrumentos de financiamento, mas vão muito para além, com ações de sensibilização e capacitação, bem como o estabelecimento de parcerias com entidades que, pela sua relevância ou alcance junto do mundo empresarial, possam contribuir para que capacitemos mais e melhor as nossas PME, em domínios como, por exemplo, a literacia financeira ou a sustentabilidade.


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