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Ministro da Economia e do Mar: Indústria de calçado está preparada

Ministro da Economia e do Mar: Indústria de calçado está preparada

3 Out, 2022

Entrevista António Costa e Silva, Ministro da Economia e do Mar


António Costa e Silva visitou, em setembro, a maior feira de calçado do mundo. Na estreia do Ministro da Economia e do Mar na “feira das feiras” e, numa entrevista exclusiva ao Jornal da APICCAPS, oportunidade para tomar o pulso do setor, aprofundar as medidas de apoio do Governo para as empresas e perspetivar  as tendências económicas para os próximos anos.
Para o Ministro da Economia e do Mar “os setores tradicionais têm um papel absolutamente relevante” e a indústria do calçado “é um exemplo paradigmático”. Reconhece que “podemos ter um abrandamento económico forte no próximo ano” e, por isso, “vai haver a necessidade de diversificar os mercados de exportação”. Para isso não se pode “descurar de maneira nenhuma a promoção externa”.

Por Cláudia Pinto


Com que opinião fica do setor do calçado depois de visitar a maior feira de calçado do mundo?
A minha opinião sobre o setor do calçado já era extremamente positiva e fica muito reforçada. Tive a oportunidade de assistir a uma declaração do CEO da feira  (MICAM), que é simultaneamente um dos maiores empresários de calçado italiano, a afirmar que o melhor centro tecnológico de calçado que ele conhece é o português. É um grande orgulho. Esta indústria, que está a ter uma performance absolutamente espetacular este ano - com a exportação de 40 milhões de pares de sapatos no primeiro semestre, o melhor desempenho de sempre num semestre - está a projetar um ano que pode ser record nas exportações e nas vendas em Portugal.
Ainda por cima, é uma indústria em que 95% da produção é exportada, portanto atinge grandes mercados mundiais, especialmente na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá. Está em grande expansão, porque é uma indústria que aposta na inovação tecnológica, na integração do design, da sofisticação tecnológica e na pesquisa em novos materiais. Vimos aqui nesta feira, em múltiplas empresas, que já têm uma aposta muito significativa, não só na inovação tecnológica, mas também na sustentabilidade. No futuro os consumidores vão ser sensíveis a esses fatores. A nossa indústria está preparada e a responder.

As agendas mobilizadoras podem ser mais um impulso para o setor?
Ontem mesmo marquei presença na cerimónia de assinatura das agendas mobilizadores, presidida pelo Senhor primeiro-ministro, e uma das agendas mobilizadoras cujo contrato foi assinado foi exatamente para a indústria do calçado. Esta agenda tem como empresa coordenadora a Carité, mas tem depois o centro tecnológico e várias empresas envolvidas, e que destina-se a inovar a capacidade produtiva, a inovar os produtos, a inovar os processos de produção, os próprios modelos de negócio, ligando aos materiais e o desenvolvimento das tecnologias, sobretudo a digitalização e a sua incorporação na indústria. E se fizermos isso com a grande revolução tecnológica que está a ocorrer com a automatização e a robotização, penso que vamos ter uma indústria cada vez mais significativa, que é um orgulho para o país.

Que papel está reservado aos setores considerados tradicionais no futuro da economia portuguesa?
 Os setores tradicionais têm um papel absolutamente relevante e a indústria do calçado é um exemplo paradigmático. Os setores ditos tradicionais como o calçado estão a reinventar-se, estão-se a colocar na primeira linha de disputa e de competitividade nos mercados internacionais.
Penso que a nossa indústria de calçado já compete com a indústria italiana nos segmentos de maior valor acrescentado. Granjeou um grande respeito tradicional e a própria presença aqui, nesta feira, é transformá-la numa referência à escala internacional.
A marca Portugal hoje é, não só requisitada, como procurada, por exemplo, pelos Estados Unidos, pelo Canadá, pelos vários mercados europeus. Acredito, por isso, que o futuro pode ser muito promissor para todos estes setores em que o importante é reinventarmo-nos, é pensarmos sempre o que é que podemos fazer melhor. E aqui nesta feira temos excelentes empresários que estão sempre a pensar no futuro: o que é que podemos fazer de melhor, não nos acomodarmos, não sermos complacentes, e introduzir a criatividade e a inovação tecnológica nos nossos processos de trabalho, nos nossos produtos, e inclusive nos modelos de negócio, e assim o caminho para o futuro vai ser brilhante. 


"Não podemos descurar de maneira nenhuma a promoção externa"

 
O Governo lançou recentemente um novo pacote de medidas de apoio às empresas, que impacto espera que estas medidas possam gerar na economia nacional?
Eu espero que gerem um impacto importante. Desde logo, temos um pacote para apoiar as indústrias intensivas no consumo de gás. Portanto, os preços do gás estão a subir, no último ano subiram cerca de 700%, e este aumento está a repercutir-se em muitas destas indústrias. Logo, este pacote é um pacote significativo, que pode apoiar essas indústrias neste grande desafio que têm em relação ao futuro.
É um pacote também muito significativo para a descarbonização, cerca de 290 milhões de euros para estimular a descarbonização, isto é, as próprias empresas devem transformar-se em comunidades energéticas autossustentáveis, produzirem a sua eletricidade a partir dos painéis fotovoltaicos. As empresas portuguesas que já fizeram isso têm hoje uma fatura de eletricidade muito mais baixa, são muito mais competitivas e, portanto, diria que este é um pacote muto importante.
Há também outro pacote para apoiar a formação (e são subvenções), no contexto da produção, uma espécie da lay on porque o lay off foi desenhado quando havia um colapso da procura mundial. Hoje não temos um colapso da procura, temos dificuldades na oferta, portanto faz todo o sentido manter a atividade das empresas, preservar ao máximo e auxiliar através de programas de formação as próprias empresas.
Depois está toda a parte fiscal, que vamos continuar a trabalhar e a dar sinais claros ao tecido produtivo dessa redução do IRC em várias cadeias. Portanto, eu penso que este pacote combinado com as linhas de crédito a auxiliar a tesouraria das empresas que estão em dificuldade pode ser positivo para a indústria.
Sempre fomos humildes, portanto estamos a dialogar, hoje com a indústria do calçado, há dois dias estive no Vale do Ave com a indústria têxtil. Vamos sempre dialogar. Temos também o nosso Secretário de Estado da Economia que faz sempre um trabalho muito detalhado de contacto diário com as empresas. Vamos reforçar esta dinâmica para perceber se as medidas estão a ser implementadas, se estão a resultar, se precisam de ser afinadas e humildemente corrigir onde for necessário.
 


"Não podemos descurar de maneira nenhuma a promoção externa"


A promoção comercial externa é uma prioridade para um setor exportador, como é neste caso o do calçado. Que expectativas é que podem ter as empresas relativamente à abertura agora deste novo concurso?
Sim, nós lançámos um programa com 30 milhões de euros e os avisos para a internacionalização e promoção externa vão sair muito rapidamente, ainda no decurso deste mês, exatamente para auxiliar indústrias como a do calçado, e as outas que vivem muito dependentes das exportações, para estarem nos principais eventos internacionais, promoverem a sua presença nas feiras internacionais, como aqui na MICAM, e, portanto, desenvolver em toda a sua rede de contactos. Penso que nós não podemos descurar de maneira nenhuma a promoção externa e a obrigação do governo ajudar fortemente as empresas nesta área. Espero que este aviso de 30 milhões de euros esteja rapidamente no terreno e ajude à promoção externa, não só da indústria do calçado como das outras que estão muito focadas nas exportações internacionais.
 
Tanto o Banco Mundial como a Comissão Europeia reviram esta semana em baixa as previsões económicas para o próximo ano. Qual espera que possa ser o desempenho da economia portuguesa?
É evidente que este ano o desempenho está a ser notável, porque vamos crescer à volta de 6.5%. É evidente que há aqui um efeito de base, porque compara com o ano passado em que o crescimento foi fraco. Mas existem outros fatores que estão a contribuir para este crescimento, particularmente a procura externa líquida, os serviços, e sobretudo o turismo, que este ano vai bater as receitas de 2019, uma vez que está a crescer em valor. Além disso, temos indústrias como a do calçado, mas outras também, como têxteis, vestuário, a indústria metalomecânica que também estão a bater os seus próprios records de exportação e, portanto, este ano é um ano extremamente importante para sedimentar e consolidar esta trajetória de convergência com a União Europeia.

Mas não podemos esquecer o que se está a passar na Europa, particularmente na Alemanha, com a dificuldade do orçamento de gás. Podemos ter um abrandamento económico forte no próximo ano e, por isso, ao falar com as empresas aqui [na MICAM] pergunto sempre quais são os mercados de exportação. Vai haver a necessidade de diversificar os mercados de exportação para amortecer algum impacto que o abrandamento económico na Europa possa ter no próximo ano.

Mas é evidente que a economia portuguesa no próximo ano, se a Europa tiver um abrandamento, também vai sofrer e quanto mais diversificarmos as exportações e quanto mais motores de crescimento tivermos, melhor será para responder a esses diferentes desafios.


"Podemos ter um abrandamento económico forte no próximo ano e, por isso, vai haver a necessidade de diversificar os mercados de exportação".





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