"Como Criar a Estratégia Digital Perfeita"
A conferência Encontros Digitais “Como Criar a Estratégia Digital Perfeita” juntou marcas portuguesas e especialistas da área do digital com o objetivo de promover e sensibilizar as empresas para a necessidade de adotarem tecnologias digitais. O evento, promovido no âmbito do projeto Digi4fashion, em parceria com os setores do têxtil e do vestuário, realizou-se no passado dia 13 de maio, no Palácio de Cristal, no Porto, e contou com mais de 200 profissionais ligados ao setor da moda.
No decurso deste Encontro Digital, que contou com a abertura de João Maia, diretor-geral da APICCAPS, foram partilhadas as estratégias empresariais de várias empresas de referência de diversos setores, como do turismo, da moda, do mobiliário, da comunicação e do grande consumo.
A APICCAPS promoveu o evento com o objetivo de apoiar as empresas para a transição digital de forma a transformarem os seus modelos de negócio. Inserido no plano estratégico para 2030 e com o apoio do PRR, o projeto procura responder à dupla transição que o cluster enfrenta, por um lado o digital e por outro a sustentabilidade e a economia circular.
Como refere João Maia, a transição digital vai muito além de “máquinas ou de fábricas inteligentes”. Assim, o evento procurar explorar uma forma diferente de como “o digital pode transformar o setor do calçado”, tanto na forma como é promovido internacionalmente, como no lançamento das marcas portuguesas através “de novos canais de vendas, como o e-commerce”.
Alertou ainda para a situação macroeconómica adversa, realçando a guerra comercial iniciada pelo Presidente dos EUA, que provocou uma rutura de confiança com os princípios do comércio livre, e para os riscos das plataformas de capital chinês, que levou a “Comissão Europeia a por em cima da mesa um conjunto de regulações de forma a tentar balancear esta forma de competir desigual”.
Luís Onofre, Presidente da APICCAPS, também destaca que a internacionalização do setor do calçado “obriga-nos a estar constantemente atentos às dinâmicas globais”, principalmente “neste momento de grande incerteza no comércio internacional”, acrescentando que é “nestes momentos que surgem as maiores oportunidades”.
De facto, o mundo digital transformou a forma como as empresas se relacionam com os seus clientes, pelo que o desafio passa por chegar a novos clientes e promover novos modelos de negócio. Tal como disse Paulo Rios de Oliveira, administrador da AICEP, “o digital derruba fronteiras e desafia geografias, ainda para mais num setor com produtos que permite uma expressão”, onde o “Made in Portugal tem força” para abraçar estes desafios.
Opinão partilhada pelo Presidente da APICCAPS, que defende que “o universo digital não é apenas uma alternativa, é cada vez mais uma porta de entrada privilegiada aos mercados e para novas formas de criar valor. O digital não substitui a qualidade dos nossos produtos, mas simplesmente complementa, amplifica e projeta-os no mundo”.
Digi4Fasion: uma partilha de experiências concretas
As sessões temáticas da conferência iniciaram-se com a intervenção de Paulo Gonçalves, da APICCAPS, que explorou a questão do digital como palco da indústria portuguesa de calçado, realçando o apoio às empresas para acelerarem o caminho da digitalização através de plataformas online, da criação de conteúdos e do marketing digital.
Seguiu-se a intervenção do orador internacional de relevo Mustafa Himdi, da Condé Nast, um grupo editorial detentor de títulos como GQ, Glamour, Love, Vanity Fair, Vogue ou The New Yorker, que falou da “estratégia online das Grandes Marcas Internacionais”.
O painel “Parcerias criativas com influencers”, que se realizou da parte da manhã, com a moderação de Catarina Maia, contou com a participação de André Ribeiro, da Ambitious, Sílvia Silva, da Lemonade, Daniela Neto, da Salsa, e Carlos Tavares, da Tavares.
Da parte da tarde, foi apresentado o estudo “Como construir o site perfeito” por Sophie Soar, diretora editorial de recursos comerciais da The Business of Fashion (BoF), um nome de relevo na área. A palestra abordou a evolução do comportamento do consumidor, como criar o website de comércio eletrónico perfeito e algumas das tecnologias de última geração que estão a moldar o retalho online atualmente.
A esta intervenção seguiu-se um novo painel de especialistas que abordaram o tema “Estratégia empresarial casos de estudo”. A moderação coube a Maria José Martins, da Imagens de Marca, e contou com a participação de Sara Meneses, da Boca do Lobo, Inês e Marta Fonseca, da LATITID, Rodrigo José Gralheiro, da NOS, Francisco Gomes, da Renova, Vítor Costa, da Sanjo, e Matilde Ribeirinho, do Yeatman. Para finalizar António Custódio e Irina Chitas, da ModaLisboa, apresentaram a última palestra da tarde, abordando como tema “Boas práticas de comunicação”.
Coube a João Ribau, coordenador da Agência Nacional de Inovação (ANI), encerrar aquele que foi um dia de partilha de experiências e de contactos. Este último concluiu na sua intervenção que “na criação de um projeto comercial é fundamental a troca de conhecimento entre parceiros, mas também a partilha do risco envolvido no crescimento e na inovação para termos um produto novo e inovador”.
Já Luís Onofre frisou o privilégio que foi “ouvir oradores internacionais de grande prestígio e marcas” que inspiraram os participantes com os seus percursos, desafios e conquistas. Além de “partilharem estratégias e ferramentas”, também expuseram “visões e experiências concretas” para “pensar com ambição”.
Os desafios dos influencers para as marcas no mundo digital
Como é que uma marca se reinventa num mundo em que o marketing digital se quer tão ativo com influencers? Carlos Tavares, sócio-gerente da Tavares, uma casa centenária de joalharia portuguesa, fundada em 1922, é da opinião que no passado os líderes da opinião eram o taxista, o polícia ou o padre.
Hoje, “a profissão está mais institucionalizada” e temos necessidade de “poder apresentar as nossas soluções, os nossos projetos, as nossas criações e a nossa história a partir desses novos líderes de opiniões”. Refere ainda que um influencer deve ter “uma identidade devidamente identificada com a marca” e que através desta “forma de comunicar com o cliente, ou seja, através de um influencer”, se reflete logo “nas vendas online e nas visitas à loja”.
Daniela Neto, Brand Marketing Manager da Salsa, durante a sua intervenção afirma que, neste momento, “estamos todos a descobrir ao mesmo tempo e a ensinar-nos uns aos outros coisas que nem sabemos”. Tal com Carlos Tavares, partilha da opinião de que as parcerias devem ser feitas “com quem se identifica realmente com o produto” que estão a apresentar.
Segundo a experiência de André Ribeiro, da Ambitious, acontece que muitas das vezes “é o próprio influencer a ir ter com a marca para falar sobre o produto e partilhar a sua opinião”. Já Sílvia Silva, da Lemonade, uma marca com quatro anos, afirma que “há influencers que não dão logo uma venda direta, mas que podem criar uma comunidade que poderá surgir como futuros potenciais compradores da marca”. Partilha ainda que a marca lança alguns produtos específicos já a pensar em alguns influencers para os promoverem e que “num mundo em constante mutação”, é preciso estar atento a todas as mudanças para “conseguir entrar no mercado da melhor forma possível”.
De facto, “o marketing de influência hoje em dia é uma parte essencial de qualquer plano de marketing, de qualquer marca, e não há como passar ao lado”, conclui André Ribeiro.
Os riscos da Inteligência Artificial
De que forma a que a Inteligência Artificial (IA) pode mudar a natureza e o futuro da indústria? Quais são as oportunidades e os riscos associados à sua integração na digitalização das marcas? Rodrigo José Gralheiro, Head of Digital Brand na NOS, não tem dúvidas de que quando falamos em IA “ainda precisamos de mais dados e de mais processamento”. De facto, “ela não substitui a parte criativa e a parte da intuição, mas também não desumaniza”.
Aponta que uma das grandes potencialidades da IA passa por termos “à nossa disposição uma tecnologia que consegue tratar uma quantidade absurda de dados e que consegue tirar um propósito deles, o que, por si só, é extraordinário, uma vez que nos poupa imenso tempo”. Acredita que não devemos descartar os perigos associados à IA, mas também não a devemos “diabolizar”.
Vítor Costa, diretor criativo da marca Sanjo, pelo contrário afirma que “os criativos gostam do erro e é no erro que está a vontade de melhorar”. Acredita na ferramenta, “mas ainda não é o seu colega de trabalho”. Tal como Marta e Inês Fonseca, fundadoras da marca LATITID, também preferem “usar as próprias mãos”. Já Francisco Gomes, que gere a área digital da Renova, refere a importância da tecnologia no e-commerce e na sua automação.
Matilde Ribeirinho, diretora de marketing do Yeatman, afirma que a IA já está a ser usada na empresa “de forma a melhorar a experiência do cliente sem perder o tal toque humano que é tão importante no setor do turismo”, como na aplicação de um chatbot com AI Machine Learninge no nível de automação. Defende ainda que o grande desafio, independentemente do setor ou da indústria, “passa pela integração de dados, uma vez que os dados têm várias fontes e vários motores de reserva pelo que a grande dificuldade passa por otimizar essa integração”.
Já no caso de Sara Meneses, diretora de marketing da Boca do Lobo, a empresa “olha para a IA de uma maneira muito exploratória”. Olham para a tecnologia “quase como um brainstorming”, acrescentando que “é um bom atalho, sobretudo uma grande fonte de inspiração e que devemos também ensinar a máquina”.
O sucesso passa por construir um ecossistema digital
Uma das conclusões que surgiu durante o último painel da tarde passou pela importância da identidade da marca e de que forma é relevante adaptar a comunicação para ter o alcance que se pretende. Francisco Gomes referiu que o posicionamento da marca em relação ao cliente deve ser feito tendo em conta “aquilo que nós queremos que as pessoas pensem em relação aos nossos produtos”.
No caso da Renova, a empresa pretende que os clientes pensem nos seus produtos como “produtos para o seu bem-estar pessoal”, uma comunicação que está muito mais próxima do mundo da moda e da perfumaria. Por isso, se a campanha passa por aí, o objetivo passa por colocarem-se estrategicamente perto das pessoas que querem alcançar. Neste caso, a marca chegou a fazer campanhas no Tinder e, como alguns anúncios foram bloqueados por mostrar muito o corpo e a pele, chegaram a criar uma página no Onlyfans.
Para Rodrigo Gralheira, a “emoção deve ocupar um lugar central na estratégia da marca”. O digital é o “meio”, mas o que se conta lá é a “essência”. Por isso, o lema passa por “construir o próprio ecossistema digital”, acrescentando que “não existem estratégias perfeitas, porque estamos sempre a evoluir”. A título de conclusão realça ainda que, quando se vai escolher um produto, os valores que representam a marca vêm quase sempre em primeiro. Esta mudança no mercado protagoniza, desta forma, uma oportunidade para as marcas repensarem nas suas estratégias para não perderem este comboio em constante movimento.