Entrevista Bernardo Ivo Cruz, Secretário de Estado da Internacionalização
Para o responsável pela pasta da internacionalização, “a criatividade, a novidade, a adaptação é uma parte do segredo do setor do calçado em Portugal”.
Visitou pela primeira vez a MICAM. Com que sentimento é que fica depois de visitar a delegação portuguesa na maior feira de calçado do mundo?
Sempre que visito empresas portuguesas, seja aqui na Itália, seja em Portugal, seja onde for, fico com a mesma sensação, que é a sensação de sucesso. As empresas portuguesas aqui presentes são empresas que inovam, que têm mercados no mundo inteiro, são empresas que integraram a sustentabilidade nos seus meios de produção, são empresas que mudaram os designs, que têm marca. Um dos empresários contou-me que quando começou a trabalhar no setor não colocava a palavra Portugal nos seus produtos e, agora, são os clientes que lhe dizem “não, tem de colocar made in Portugal, ponha a palavra Portugal na caixa, ponha a palavra Portugal nos produtos”.
É claro que sim. É um mercado muito competitivo. Nós estamos na Itália - que é, se quisermos, o centro de design da moda -, e os nossos sapatos, o nosso calçado, as nossas malas e os outros produtos que as empresas portuguesas aqui trouxeram não deixam nada a desejar quando comparamos com quem aqui está. E está o mundo inteiro. Mas isto apenas se acontecesse porque o setor nunca está descansado. Está sempre a procurar melhor, a querer fazer mais, a ver a concorrência, a estudar o mercado. Portanto, sim, a criatividade, a novidade, a adaptação é uma parte do segredo do setor do calçado em Portugal.
Todos os empresários com quem falei hoje - eu falei com todos, falei com todos os empresários portugueses que cá estão - disseram-me a mesma coisa: vir à feira já não é tanto sobre manter os clientes - porque a pandemia ensinou-nos a trabalhar online -, vir à feira é descobrir novos clientes. E, como nós precisamos de diversificar os nossos mercados exportadores, precisamos reforçar a capacidade exportadora das nossas empresas. Logo, vir a feiras como esta permite ir identificando clientes no mundo inteiro. Portanto, sim. Participar na feira não é para quem está confortável, é para quem quer mais, é para quem quer fazer mais, é para quem quer fazer melhor, é para quem quer ganhar novos mercados, é para quem quer ganhar novos clientes. E todas as empresas que aqui estão disseram a mesma coisa. Vir cá é garantir que vamos expandir a nossa rede de exportação para o mundo inteiro, que vamos manter os clientes que já temos porque trabalhamos com eles durante a pandemia, pós-pandemia, mas vamos acrescentar novos clientes às nossas carteiras.
As exportações portuguesas aumentaram de forma muito expressiva em 2022. Mas o ano 2023 poderá, também, ser marcado pelo abrandamento económico. Que medidas desenvolverá o Governo português para relançar a atividade exportadora?
Nós estamos a trabalhar com as empresas, estamos a trabalhar com as associações e estamos a trabalhar com os nossos parceiros um pouco por todo o lado para identificar duas coisas. Uma, qual será, de facto, o impacto que terá a diminuição da atividade económica? Porque, no final de 2022, previa-se que fosse uma diminuição mais grave do que aquela que estamos a prever agora no início de 2023. No entanto, eu continuo preocupado para saber se os nossos mercados exportadores por excelência vão entrar em recessão ou não. E isso é muito importante.
Nós tínhamos previsto 50% da exportação do PIB para o final da legislatura, mas atingimos isso em 2022. Portanto, atingimos isso bastante antes do final da legislatura. Vamos continuar, obviamente, a querer mais, a querer aumentar o peso das exportações no PIB. A internacionalização da economia portuguesa é absolutamente fundamental para a qualidade de vida dos portugueses. Os 10 milhões de consumidores, cada um de nós e todos nós, não geramos riqueza suficiente, por si só, por nós próprios, para gerar a qualidade de vida que nós merecemos. E, portanto, temos de exportar, temos de ter uma presença internacional, temos de atrair investimento estrangeiro para Portugal, investimento que crie emprego, que pague impostos, que gere riqueza. Precisamos gerar riqueza dentro e fora. E a exportação e a internacionalização das nossas empresas é um elemento-chave desta necessidade de gerar mais riqueza que nos permite - a mim, a si, a todos nós - termos uma vida mais confortável, uma vida melhor, uma vida que merecemos conjuntamente. Portanto, a internacionalização da economia é absolutamente central neste esforço coletivo de todos vivermos melhor, de todos termos uma qualidade de vida melhor. Todos queremos viver melhor que os nossos pais e que os nossos filhos vivam melhor que nós.