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A criatividade, a novidade, a adaptação é uma parte do segredo do setor do calçado em Portugal

A criatividade, a novidade, a adaptação é uma parte do segredo do setor do calçado em Portugal

20 Mar, 2023

Entrevista Bernardo Ivo Cruz, Secretário de Estado da Internacionalização


Bernardo Ivo Cruz visitou, em fevereiro último, a maior feira de calçado do mundo. Na estreia do Secretário de Estado da Internacionalização na MICAM e, numa entrevista exclusiva ao Jornal da APICCAPS, oportunidade para tomar o pulso do setor, aprofundar as medidas de apoio do Governo para as empresas e perspetivar as tendências económicas para os próximos anos.

Para o responsável pela pasta da internacionalização, “a criatividade, a novidade, a adaptação é uma parte do segredo do setor do calçado em Portugal”.

Visitou pela primeira vez a MICAM. Com que sentimento é que fica depois de visitar a delegação portuguesa na maior feira de calçado do mundo?
Sempre que visito empresas portuguesas, seja aqui na Itália, seja em Portugal, seja onde for, fico com a mesma sensação, que é a sensação de sucesso. As empresas portuguesas aqui presentes são empresas que inovam, que têm mercados no mundo inteiro, são empresas que integraram a sustentabilidade nos seus meios de produção, são empresas que mudaram os designs, que têm marca. Um dos empresários contou-me que quando começou a trabalhar no setor não colocava a palavra Portugal nos seus produtos e, agora, são os clientes que lhe dizem “não, tem de colocar made in Portugal, ponha a palavra Portugal na caixa, ponha a palavra Portugal nos produtos”.

Portanto, acabamos de sair da pandemia, tal como todos os países com dois anos de paragem da economia. Rapidamente, as empresas portuguesas recuperaram ao nível em que estavam antes da pandemia. E, aqui na MICAM, as empresas portuguesas e o setor do calçado no seu conjunto, aumentaram 20% as exportações em relação ao ano anterior. Portanto, falamos de mais de 2 mil milhões de euros só em exportações do setor português do calçado. Se tudo isto não significa sucesso, eu não sei o que é sucesso.

Há pouco dizia que as empresas portuguesas são muito criativas. Acha que também é um fator de sucesso esta criatividade e necessidade de reinvenção?
É claro que sim. É um mercado muito competitivo. Nós estamos na Itália - que é, se quisermos, o centro de design da moda -, e os nossos sapatos, o nosso calçado, as nossas malas e os outros produtos que as empresas portuguesas aqui trouxeram não deixam nada a desejar quando comparamos com quem aqui está. E está o mundo inteiro. Mas isto apenas se acontecesse porque o setor nunca está descansado. Está sempre a procurar melhor, a querer fazer mais, a ver a concorrência, a estudar o mercado. Portanto, sim, a criatividade, a novidade, a adaptação é uma parte do segredo do setor do calçado em Portugal.

No seu entendimento, qual é a importância das feiras internacionais em setores exportadores como é o caso do sector do calçado?
Todos os empresários com quem falei hoje - eu falei com todos, falei com todos os empresários portugueses que cá estão - disseram-me a mesma coisa: vir à feira já não é tanto sobre manter os clientes - porque a pandemia ensinou-nos a trabalhar online -, vir à feira é descobrir novos clientes. E, como nós precisamos de diversificar os nossos mercados exportadores, precisamos reforçar a capacidade exportadora das nossas empresas. Logo, vir a feiras como esta permite ir identificando clientes no mundo inteiro. Portanto, sim. Participar na feira não é para quem está confortável, é para quem quer mais, é para quem quer fazer mais, é para quem quer fazer melhor, é para quem quer ganhar novos mercados, é para quem quer ganhar novos clientes. E todas as empresas que aqui estão disseram a mesma coisa. Vir cá é garantir que vamos expandir a nossa rede de exportação para o mundo inteiro, que vamos manter os clientes que já temos porque trabalhamos com eles durante a pandemia, pós-pandemia, mas vamos acrescentar novos clientes às nossas carteiras.

“Falamos de mais de 2 mil milhões de euros só em exportações do setor português do calçado. Se tudo isto não significa sucesso, eu não sei o que é sucesso”.


As exportações portuguesas aumentaram de forma muito expressiva em 2022. Mas o ano 2023 poderá, também, ser marcado pelo abrandamento económico. Que medidas desenvolverá o Governo português para relançar a atividade exportadora?
Nós estamos a trabalhar com as empresas, estamos a trabalhar com as associações e estamos a trabalhar com os nossos parceiros um pouco por todo o lado para identificar duas coisas. Uma, qual será, de facto, o impacto que terá a diminuição da atividade económica? Porque, no final de 2022, previa-se que fosse uma diminuição mais grave do que aquela que estamos a prever agora no início de 2023. No entanto, eu continuo preocupado para saber se os nossos mercados exportadores por excelência vão entrar em recessão ou não. E isso é muito importante.

Mas, mesmo que as coisas corram melhor, não significa que não devamos diversificar os nossos mercados exportadores. Quanto mais mercados exportadores tivermos, menor é o risco de um grande mercado - um mercado fundamental, um mercado muito importante para as nossas exportações - entrar em recessão, ou em problemas, e isso impactar a nossa capacidade exportadora.

Portanto, estamos a trabalhar com as associações, estamos a trabalhar com as próprias empresas. É claro que compete às empresas definir quais são as suas estratégias de internacionalização e compete-nos, a nós, ajudar na definição, na informação e no acompanhamento, mas este trabalho tem de ser conjunto. Governo, AICEP, associações, empresas, temos de nos sentar todos juntos e temos de trabalhar em conjunto para identificar para onde queremos ir, como vamos e que tipo de apoios e estrutura é que temos de ter para acompanhar as empresas nesse exercício.

As exportações já significam mais de 50% do PIB nacional, mas ainda estão num registo que podemos dizer ligeiramente baixo num país com as características de Portugal. De que forma será possível num futuro próximo alavancar a capacidade exportadora das empresas?
Nós tínhamos previsto 50% da exportação do PIB para o final da legislatura, mas atingimos isso em 2022. Portanto, atingimos isso bastante antes do final da legislatura. Vamos continuar, obviamente, a querer mais, a querer aumentar o peso das exportações no PIB. A internacionalização da economia portuguesa é absolutamente fundamental para a qualidade de vida dos portugueses. Os 10 milhões de consumidores, cada um de nós e todos nós, não geramos riqueza suficiente, por si só, por nós próprios, para gerar a qualidade de vida que nós merecemos. E, portanto, temos de exportar, temos de ter uma presença internacional, temos de atrair investimento estrangeiro para Portugal, investimento que crie emprego, que pague impostos, que gere riqueza. Precisamos gerar riqueza dentro e fora. E a exportação e a internacionalização das nossas empresas é um elemento-chave desta necessidade de gerar mais riqueza que nos permite - a mim, a si, a todos nós - termos uma vida mais confortável, uma vida melhor, uma vida que merecemos conjuntamente. Portanto, a internacionalização da economia é absolutamente central neste esforço coletivo de todos vivermos melhor, de todos termos uma qualidade de vida melhor. Todos queremos viver melhor que os nossos pais e que os nossos filhos vivam melhor que nós.

O esforço da internacionalização é, assim, um esforço que tem de ser continuado, um esforço que tem de ser conjunto. É muito importante que percebamos uma coisa: a internacionalização é um exercício de competência e de competição. Quando nós ganhamos um cliente algures, há outros países que não estão a ganhar esse cliente. Portanto, temos de trabalhar de facto juntos. A APICCAPS faz um trabalho magnífico na organização do setor. E nós vemos pessoas que diríamos “são concorrentes, estão no mesmo mercado, estão a concorrer uns contra os outros”. Não, estamos todos sentados à mesma mesa, estamos todos a trabalhar em conjunto, estamos todos a olhar para mercados que podemos ganhar. E como a maior parte das nossas empresas são PMEs, a forma mais segura de o fazer é em conjunto. Não me parece que haja espaço ou racionalidade para que as empresas portuguesas não se unam no esforço da internacionalização. O mundo é muito grande e muito competitivo, e nós temos de ser melhores que todos os outros países que queiram os mesmos clientes que nós. Isso significa que temos de trabalhar juntos. Portanto, o trabalho da APICCAPS, o trabalho da AICEP, o trabalho das associações, das confederações, do Governo, é encontrarmos o nosso esforço conjunto e apontarmos as nossas baterias no caminho certo, em que todos possamos, depois, ganhar.


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