Abrandamento das principais economias mundiais e Guerra na Ucrânia estarão na génese de um momento conjuntural particularmente adverso
Depois de um ano de 2022 de forte crescimento nos principais mercados externos, as empresas exportadoras portuguesas iniciaram o corrente ano a um ritmo bem mais lento do que o expectável. Abrandamento das principais economias mundiais e Guerra na Ucrânia estarão na génese de um momento conjuntural particularmente adverso que constrange a quase totalidade dos setores de atividade.
No primeiro semestre do ano, a titulo de exemplo, o setor têxtil e vestuário registou um recuo nas exportações de 3% (para 3 053 milhões de euros), o setor da ourivesaria de 7% (para 250 milhões de euros) e apenas o calçado continua em terreno positivo (mais 1% para 964 milhões de euros), no obstante a redução dos pares exportados.
No primeiro semestre do ano, a titulo de exemplo, o setor têxtil e vestuário registou um recuo nas exportações de 3% (para 3 053 milhões de euros), o setor da ourivesaria de 7% (para 250 milhões de euros) e apenas o calçado continua em terreno positivo (mais 1% para 964 milhões de euros), no obstante a redução dos pares exportados.
“Depois de passarmos por uma crise de saúde pública desencadeada pela pandemia com impacto imensurável para os setores industriais da moda, seguiu-se um ano promissor em 2022 com indicadores que apontaram para uma retoma plena em 2023. Longe dos planos e previsões estava uma guerra em território europeu e uma crise energética com impacto significativo no custo das matérias-primas”, afirma César Araújo. De acordo com o Presidente da ANIVEC (Associação Portuguesa de Vestuário), “a retração económica que se sucedeu (e sucede) e a crise inflacionista são consequências deste efeito “dominó”, que revelam uma profunda receção na economia Europeia”.
A conjuntura atual “está a comprometer ainda mais os setores industriais tradicionais, entre os quais se enquadram o vestuário e o calçado”, considera. Acresce que persiste “um problema estrutural na regulamentação dos mercados e no nosso posicionamento competitivo face aos mercados externos”, na medida em que “85% dos bens dos setores da moda consumidos na Europa têm proveniência em países terceiros”. “Existe claramente alguma falha no exercício político”, sublinha, lamentado que “a política europeia apele à abertura dos mercados sem exigir reciprocidade e imputa às empresas por cá estabelecidas uma série de procedimentos e certificações que, embora devesse, não são exigidos aos produtos provenientes de países terceiros”.
Para César Araújo, “embora Portugal esteja integrado numa comunidade com outros 26 países, nunca é demais sublinharmos que as condições de cada um representam a sua individualidade e é essencial que o Governo mantenha a sua soberania no que respeito diz à aplicação das diretrizes europeias já que, a política nacional é que tem necessariamente de ser executada à medida da nossa individualidade”. Em termos práticos, “Portugal e a União Europeia têm, urgentemente, de definir um plano estratégico de interesse europeu para estes setores. Caso contrário as consequências poderão reverter todo o progresso feito desde a crise de 2010.
Os argumentos competitivos
Para César Araújo, “embora Portugal esteja integrado numa comunidade com outros 26 países, nunca é demais sublinharmos que as condições de cada um representam a sua individualidade e é essencial que o Governo mantenha a sua soberania no que respeito diz à aplicação das diretrizes europeias já que, a política nacional é que tem necessariamente de ser executada à medida da nossa individualidade”. Em termos práticos, “Portugal e a União Europeia têm, urgentemente, de definir um plano estratégico de interesse europeu para estes setores. Caso contrário as consequências poderão reverter todo o progresso feito desde a crise de 2010.
Os argumentos competitivos
Para César Araújo, “para além do problema estrutural europeu que está a permitir a extinção dos setores mais tradicionais, existe ainda um problema conjuntural em Portugal no que respeito diz ao mercado da moda. A inexistência de marcas e falta de apoios para verticalizarmos as nossas indústrias, são uma premissa da fragilidade dos setores. A falta de um plano estratégico aliado à realidade setorial de uma economia fragmentada, assente em micro e PME’s comprometem a nossa competitividade”.
O Presidente da Associação de Vestuário lamenta que “em detrimento de premiar o crescimento das empresas e consequente solidez económica, as medidas atuais promovem a estagnação e um cenário empresarial extremamente fragmentado”.
Por esse motivo, César Araújo sublinha que “deve ser delineada uma estratégia em cooperação entre empresas e decisores políticos com vista a potencializar a internacionalização e consequente crescimento das nossas empresas”. Nesse contexto, “é fundamental assumir que a existência de empresas locomotiva, capazes de arrastar consigo outras tantas, é fulcral para o reforço da nossa visibilidade e posicionamento internacional. Pela sua relevância socioeconómica para o país, a política que envolve estes setores deve deixar de ser micro e as decisões envolto não podem ser reações às “cambalhotas” causadas por esta fragmentação”.
Para todos os efeitos, César Araújo defende que “as empresas têm que querer crescer e sentirem-se apoiadas”. Neste momento, “as empresas com mais de 250 trabalhadores ou com 50 milhões de faturação ficam interditas ao acesso a apoios do Estado, não sendo considerada a sua realidade assente em capital humano intensivo”. Acresce ser “necessário investimento no desenvolvimento individual de cada estrutura”. Cada vez mais, apontou, “um fornecedor tem de se assumir como parceiro de negócios e aumentar a oferta de serviços e o acompanhamento que dá ao cliente. A Fábrica tem de estar mais envolvida na criação e desenvolvimento das coleções dos clientes e desenvolver o serviço “chave na mão”, conduzindo o processo produtivo e logístico, assumindo um papel promovedor e cada vez mais indispensável”.
E Agora?
Como o setor de vestuário opera por estações, a esperança dos empresário recai agora sobre a coleção Outono/ Inverno de 2024 que começará a ser comercializada no segundo trimestre de 2024. “Espera-se que nessa altura haja significativos sinais de recuperação económica baseada na normalização dos níveis de consumo”, adianta César Araújo. “Neste momento, o sentimento de insegurança leva o consumidor a comprar menos e, consequentemente, na redução dos volumes de encomendas colocadas pelas marcas. Com uma potencial melhoria do cenário socioeconómico na Europa, o consumidor deverá recuperar os índices de segurança e reabilitar o seu poder económico com uma retração da inflação”, concluiu.
O Presidente da Associação de Vestuário lamenta que “em detrimento de premiar o crescimento das empresas e consequente solidez económica, as medidas atuais promovem a estagnação e um cenário empresarial extremamente fragmentado”.
Por esse motivo, César Araújo sublinha que “deve ser delineada uma estratégia em cooperação entre empresas e decisores políticos com vista a potencializar a internacionalização e consequente crescimento das nossas empresas”. Nesse contexto, “é fundamental assumir que a existência de empresas locomotiva, capazes de arrastar consigo outras tantas, é fulcral para o reforço da nossa visibilidade e posicionamento internacional. Pela sua relevância socioeconómica para o país, a política que envolve estes setores deve deixar de ser micro e as decisões envolto não podem ser reações às “cambalhotas” causadas por esta fragmentação”.
Para todos os efeitos, César Araújo defende que “as empresas têm que querer crescer e sentirem-se apoiadas”. Neste momento, “as empresas com mais de 250 trabalhadores ou com 50 milhões de faturação ficam interditas ao acesso a apoios do Estado, não sendo considerada a sua realidade assente em capital humano intensivo”. Acresce ser “necessário investimento no desenvolvimento individual de cada estrutura”. Cada vez mais, apontou, “um fornecedor tem de se assumir como parceiro de negócios e aumentar a oferta de serviços e o acompanhamento que dá ao cliente. A Fábrica tem de estar mais envolvida na criação e desenvolvimento das coleções dos clientes e desenvolver o serviço “chave na mão”, conduzindo o processo produtivo e logístico, assumindo um papel promovedor e cada vez mais indispensável”.
E Agora?
Como o setor de vestuário opera por estações, a esperança dos empresário recai agora sobre a coleção Outono/ Inverno de 2024 que começará a ser comercializada no segundo trimestre de 2024. “Espera-se que nessa altura haja significativos sinais de recuperação económica baseada na normalização dos níveis de consumo”, adianta César Araújo. “Neste momento, o sentimento de insegurança leva o consumidor a comprar menos e, consequentemente, na redução dos volumes de encomendas colocadas pelas marcas. Com uma potencial melhoria do cenário socioeconómico na Europa, o consumidor deverá recuperar os índices de segurança e reabilitar o seu poder económico com uma retração da inflação”, concluiu.
Conjuntura penaliza ourivesaria
Numa conjuntura económica adversa, com uma recessão económica a permanecer no horizonte, inflação em alta e taxas de juro «estratosféricas», os bens considerados não essenciais são os primeiros a ser penalizados
“É importante salientar que quando falamos do calçado, vestuário e joalharia estamos a referir-nos a setores com contextos diferentes. Se o calçado e vestuário têm como propósito suprir necessidades básicas e estão acoplados a sazonalidades, a joalharia, que tem como principal função a reserva de valor, está geralmente associada às emoções e ao legado”, recorda João Faria.
De acordo com o Presidente da AORP (Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal), “durante a pandemia, a joalharia não registou uma quebra acentuado no consumo”, uma vez que durante este período “foram registadas as taxas mais elevadas de níveis de poupanças das famílias”. “Muitas canalizaram as poupanças para a aquisição de produtos com reserva de valor, como é o caso dos artigos com metal precioso”, destacou. Por esse motivo, “e ao contrário dos outros setores da fileira moda, o setor da joalharia registou um crescimento no volume de negócios superior a 22% de 2020 a 2021”. Já no pós-pandemia, “não se verificaram alterações na trajetória de crescimento, pelo que se pode inferir que os consumidores continuaram a apostar na compra neste tipo de produtos”. No entanto, “a questão da guerra Ucrânia-Rússia e a consequentes sanções impostas à Rússia provocaram impactos diretos no setor, nomeadamente nas questões relacionadas com a inflação, energia, transportes e os diamantes”.
De futuro, “a aposta deverá recair na aposta no segmento médio-alto e de luxo”, considera João Faria. “Apesar da maioria da indústria do setor ser caracterizada por micro e pme’s de cariz familiar, isso não é impeditivo, antes pelo contrário, pode ser considerado uma mais-valia, no sentido em que privilegia a exclusividade dos artigos através da produção em pequena escala”, sublinhou o Presidente da AORP.
Para o Presidente da AORP “um dos fatores que contribuem para o sucesso da indústria de luxo no setor da joalharia em Portugal é a mão-de-obra altamente especializada. Os artesãos portugueses possuem habilidades tradicionais transmitidas de geração em geração, permitindo a criação de peças únicas e exclusivas. Atualmente a tecnologia de ponta tem um papel primordial no processo de fabrico, unindo a capacidade dos profissionais aos recursos disponíveis”. Outro fator relevante passa pelo “o design inovador. As empresas têm investido na criação de peças que se destacam pela sua estética e singularidade. A combinação de técnicas e designs tradicionais com elementos contemporâneos tem permitido às marcas portuguesas diferenciarem-se e alcançar reconhecimento a nível mundial”. Por fim, “a adaptabilidade às exigências dos clientes também é outro fator competitivo”.
Para 2024, não estando ainda buriladas as projeções de mercado, “é expectável que se mantenha a tendência de crescimento, dada a elevada procura por artigos de luxo que por sua vez tem criado oportunidades para as marcas portuguesas expandirem os seus negócios além-fronteiras”.
Numa conjuntura económica adversa, com uma recessão económica a permanecer no horizonte, inflação em alta e taxas de juro «estratosféricas», os bens considerados não essenciais são os primeiros a ser penalizados
“É importante salientar que quando falamos do calçado, vestuário e joalharia estamos a referir-nos a setores com contextos diferentes. Se o calçado e vestuário têm como propósito suprir necessidades básicas e estão acoplados a sazonalidades, a joalharia, que tem como principal função a reserva de valor, está geralmente associada às emoções e ao legado”, recorda João Faria.
De acordo com o Presidente da AORP (Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal), “durante a pandemia, a joalharia não registou uma quebra acentuado no consumo”, uma vez que durante este período “foram registadas as taxas mais elevadas de níveis de poupanças das famílias”. “Muitas canalizaram as poupanças para a aquisição de produtos com reserva de valor, como é o caso dos artigos com metal precioso”, destacou. Por esse motivo, “e ao contrário dos outros setores da fileira moda, o setor da joalharia registou um crescimento no volume de negócios superior a 22% de 2020 a 2021”. Já no pós-pandemia, “não se verificaram alterações na trajetória de crescimento, pelo que se pode inferir que os consumidores continuaram a apostar na compra neste tipo de produtos”. No entanto, “a questão da guerra Ucrânia-Rússia e a consequentes sanções impostas à Rússia provocaram impactos diretos no setor, nomeadamente nas questões relacionadas com a inflação, energia, transportes e os diamantes”.
De futuro, “a aposta deverá recair na aposta no segmento médio-alto e de luxo”, considera João Faria. “Apesar da maioria da indústria do setor ser caracterizada por micro e pme’s de cariz familiar, isso não é impeditivo, antes pelo contrário, pode ser considerado uma mais-valia, no sentido em que privilegia a exclusividade dos artigos através da produção em pequena escala”, sublinhou o Presidente da AORP.
Para o Presidente da AORP “um dos fatores que contribuem para o sucesso da indústria de luxo no setor da joalharia em Portugal é a mão-de-obra altamente especializada. Os artesãos portugueses possuem habilidades tradicionais transmitidas de geração em geração, permitindo a criação de peças únicas e exclusivas. Atualmente a tecnologia de ponta tem um papel primordial no processo de fabrico, unindo a capacidade dos profissionais aos recursos disponíveis”. Outro fator relevante passa pelo “o design inovador. As empresas têm investido na criação de peças que se destacam pela sua estética e singularidade. A combinação de técnicas e designs tradicionais com elementos contemporâneos tem permitido às marcas portuguesas diferenciarem-se e alcançar reconhecimento a nível mundial”. Por fim, “a adaptabilidade às exigências dos clientes também é outro fator competitivo”.
Para 2024, não estando ainda buriladas as projeções de mercado, “é expectável que se mantenha a tendência de crescimento, dada a elevada procura por artigos de luxo que por sua vez tem criado oportunidades para as marcas portuguesas expandirem os seus negócios além-fronteiras”.