APICCAPSAPICCAPSAPICCAPS
Facebook Portuguese Shoes APICCAPSYoutube Portuguese ShoesAPICCAPS

As empresas estão a fazer o suficiente em matéria salarial?

 As empresas estão a fazer o suficiente em matéria salarial?

19 Dez, 2022

Artigo de Opinião de António Saraiva


“As empresas estão a fazer o suficiente em matéria salarial?” A pergunta foi colocada pelo Semanário Expresso (9 de dezembro de 2022). Na base da questão estavam as conclusões do próprio Jornal de que este ano menos de 10% das empresas iriam aumentar os trabalhadores ao nível da inflação. António Saraiva, presidente da CIP, respondeu à questão.

Por entendermos que se trata de uma informação rigorosa e esclarecedora, citamos, de seguida, e na íntegra, o texto assinado por António Saraiva na edição de 9 de dezembro do Expresso.

 
“SIM. A pergunta é legítima: é certo que os aumentos salariais médios em 2022 ficarão abaixo da inflação, ou seja, os trabalhadores estão a perder poder de compra. Poderiam as empresas evitar os reflexos sobre o rendimento dos trabalhadores de um choque externo de grande amplitude que se abateu sobre a economia?

Para responder a esta questão, temos de ter em conta o que se está a passar: por um lado, sofremos o impacto da subida exponencial dos custos de produção — em particular da energia e matérias-primas industriais e agrícolas — que impulsionou a inflação para níveis sem precedentes nos últimos 30 anos.

Mas, por outro lado, a inflação afeta também, de forma bem direta, as margens das empresas, uma vez que os aumentos dos custos não estão a ser repercutidos plenamente nos preços. Ao não o fazerem, as empresas estão, de certo modo, a travar a inflação.

Como poderão as empresas aumentar os salários sem deteriorarem ainda mais as suas margens ou sem repercutirem esses aumentos nos preços, contribuindo para uma escalada da inflação mais estrutural, mais duradoura, de mais difícil reversão? E, fazendo-o, como evitar a perda de clientes e de mercados, que poria em risco a sua sobrevivência, com o consequente aumento do desemprego?

Mesmo assim, os números mais recentes do INE apontam para que, entre setembro de 2021 e setembro de 2022, a remuneração bruta mensal média por trabalhador no sector privado tenha aumentado 4,8% (o que compara com 2,1% no sector público).

É preciso, além disso, ter em conta o que se passou nos últimos anos: entre 2014 e 2019 os salários reais aumentaram sempre acima da produtividade, compensando a divergência que se tinha verificado entre 2010 e 2013. Em 2020, a produtividade caiu profundamente (-6,7%) e os salários reais aumentaram 4,6%. Em 2021, a produtividade recuperou parcialmente (2,8%) e os salários reais aumentaram 4%. Esta falta de sincronização atinge em cheio a nossa competitividade. O aumento dos custos unitários de trabalho, quando avança de forma tão pronunciada, tem efeitos perversos que, a prazo, acabam por ameaçar a competitividade e os balanços das empresas. A queda dos salários reais em 2022 vem colmatar apenas parcialmente a divergência que se cavou em 2020 e 2021.
Citando o governador do Banco de Portugal, diria que “neste momento, é importante ter muita cautela na avaliação daquilo que são as atualizações salariais, porque esta questão de reforço do rendimento disponível não é uma matéria apenas para um semestre ou um ano, o impacto é mais longo”.
Em suma, estamos entre a espada e a parede: apesar de tudo, as empresas procuram melhorar as suas ofertas salariais, mas este esforço, que acumula com os aumentos significativos registados nos últimos anos, traz consigo uma terrível contradição, com reflexos a médio e longo prazo”

Líder da CIP

*Texto originalmente publicado na página 2 do Expresso nº. 2615 de 9 de dezembro de 2022

Partilhar:

Últimas Notícias