Setor do calçado adota economia circular como modelo de negócio
As empresas de calçado têm seguido, nos últimos anos, um caminho de mudança de paradigma, no que diz respeito à sustentabilidade das suas operações, gestão de recursos e impacto ambiental. Hoje, “mais do que consciencializadas para esta realidade, as empresas começam a adotar a Economia Circular como modelo de negócio”, defende Maria José Ferreira, coordenadora da área de Ambiente do Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP).
De acordo com o portal economia “as atuais tendências de aumento populacional, crescimento da procura e consequente pressão nos recursos naturais têm vindo a sublinhar a necessidade das sociedades modernas avançarem para um paradigma mais sustentável, uma economia mais verde que assegure o desenvolvimento económico, a melhoria das condições de vida e de emprego, bem como a regeneração do capital natural".
O paradigma vigente, baseado num modelo linear, confronta-se hoje com questões relativamente à disponibilidade de recursos. Só em 2010 cerca de 65 mil milhões de toneladas de matérias-primas entraram no sistema económico prevendo-se que se atinjam os 82 mil milhões de toneladas em 2020. Este é um sistema que expõe empresas e países a riscos relacionados com a volatilidade dos preços dos recursos e interrupções de fornecimento. Uma economia "mais circular" tem vindo a ser apresentada como um conceito operacional no caminho para a mudança de paradigma, tendo em vista enfrentar os problemas ambientais e sociais decorrentes da globalização dos mercados e do atual modelo económico baseado numa economia linear de “extração, produção e eliminação”.
Na última década, o CTCP tem promovido projetos de IDT que têm uma vertente muito direcionada para esta temática. O projeto NEWALK (2011-2014) “teve como objetivo a inovação nos materiais, explorando as potencialidades do couro, a inovação nos produtos, assente na criatividade, especialização e engenharia, a inovação tecnológica que permitisse o aumento de capacidades do domínio da flexibilidade e resposta rápida do setor e a inovação nos modelos de negócio, tirando partido do potencial das tecnologias de informação e logística”, sublinhou. Também no âmbito da formação e qualificação, o Centro Tecnológico coordenou o projeto Europeu Step2Sustainability (2013-2016), “formando técnicos com conhecimentos para a implementação de estratégias mais sustentáveis no fabrico de calçado”. Já o projecto em curso FAMEST(2017-2020), e que engloba 23 empresas da fileira, “a temática da Economia circular está patente, através da investigação, desenvolvimento e criação de novos materiais, componentes, tecnologias e designs economicamente competitivos”. Em simultâneo, esta iniciativa pretende “contribuir para a redução de desperdícios gerados durante o processo produtivo das empresas que compõe o Cluster do calçado em Portugal”.
No espaço comunitário, o projeto europeu LIFE GreenShoes4All (LIFE17 ENV/PT/000337), promete “a implementação e disseminação da metodologia da Pegada Ambiental do calçado e o desenvolvimento de um ecodesign eficiente, reciclagem e soluções de manufactura”.
Empresas beneficiárias
No âmbito do Portugal 2010, as empresas poderão ser beneficiárias de apoios não domínio da economia circular. Para isso terão de optar “por afastar-se do modelo económico linear, baseado em “extrair, transformar, consumir e descartar, assente no pressuposto dos recursos serem abundantes, fáceis de obter e descartar”. Se, como alternativa, “escolherem o modelo económico circular, no qual as fronteiras ambientais do planeta são respeitadas pela conservação e maximização do uso dos recursos. O modelo circular envolve o aumento do uso de recursos renováveis ou recicláveis, a redução do consumo de matérias-primas e energia e, ao mesmo tempo, a diminuição das emissões e perdas de material. O objetivo geral passa pela então pela eficiência e sustentabilidade de todos os recursos”.
Em termos genéricos é importante considerar o eco design, a eficiência de recursos, a prevenção de resíduos, a reciclagem, gestão e os novos modelos de negócio. Estes, assumem um papel relevante na manutenção da utilidade e valor dos materiais e produtos na economia, contribuindo para uma gestão efetiva dos recursos e desenvolvimento sustentável
O que é a economia circular?
Economia Circular é um conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear, por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado, a economia circular é vista como um elemento chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos, relação até aqui vista como inexorável.
Inspirando-se nos mecanismos dos ecossistemas naturais, que gerem os recursos a longo prazo num processo contínuo de reabsorção e reciclagem, a Economia Circular promove um modelo económico reorganizado, através da coordenação dos sistemas de produção e consumo em circuitos fechados. Caracteriza-se como um processo dinâmico que exige compatibilidade técnica e económica (capacidades e atividades produtivas) mas que também requer igualmente enquadramento social e institucional (incentivos e valores).