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Calçar os saltos na liderança

Calçar os saltos na liderança

8 Mar, 2023

Quais os maiores desafios de ser mulher na gerência de uma empresa?


População, Saúde, Educação, formação e ciência, Digitalização e Tecnologias de Informação e Comunicação, Trabalho e Emprego, Poder e Tomada de Decisão, Conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar,  Prestações sociais, Violência de Género,  LGBTI. São estes 10 os pontos analisados pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).

A Comissão defende que se torna “essencial levar em consideração as diferenças entre mulheres e homens quando se analisa determinado fenómeno, determinada política ou determinado processo social para o desenvolvimento de políticas públicas mais adequadas”.

Em suma, e de acordo com a CIC, “a igualdade de género significa igualdade de direitos, de liberdades, de oportunidades, de escolhas, de participação, de reconhecimento e de valorização de mulheres e de homens, em todos os domínios da sociedade e é reconhecida hoje como essencial para o processo de desenvolvimento sustentável, democrático e à formulação de políticas de desenvolvimento nacional eficazes”.

Em 1977, as Nações Unidas instituíram o Dia Internacional das Mulheres. Internacionalmente este dia passou a ser comemorado a 8 de Março. O objetivo é falar sobre todos os temas anteriormente expostos, sensibilizar e alertar para as questões da igualdade de género.

No universo empresarial, maioritariamente constituído por homens, ser empresária ainda parece ser um grande desafio. Segundo o Boletim Estatístico de Novembro de 2022 da CIG “as mulheres ocupam menos cargos de chefia do que os homens”. Assim, “de 2020 para 2021 verificou-se uma subida significativa de 1pp quer em homens quer em mulheres a ocuparem cargos de chefia mas, em 2021, mantem-se um gap de 2,1pp em desfavor das mulheres, menos 0,4pp de diferença em relação a 2016”, concluiu o documento.

Na indústria de calçado, a realidade é idêntica. Ainda que não se possa comprovar por números oficiais, a maioria das empresas é gerida por homens. Mas, lentamente, os lugares de chefia na indústria começam a ser ocupados por mulheres.

Mas, ainda antes das carreiras de tipo, a indústria de calçado deu um passo histórico em 2017, quando a igualdade total de género, em termos remuneratórios, foi implementada através do contrato colectivo de trabalho. As remunerações passaram a ser iguais, na mesma categoria profissional, independentemente do género.

Neste mês convencionado para a celebração da mulher, falamos com algumas empresárias do cluster do calçado, dos componentes, à marroquinaria até ao calçado. Procuramos saber o que mudou na indústria? Como estão a prever o futuro? Quais os maiores desafios de ser mulher na gerência de uma empresa?

Ana Maria Vasconcelos é um desses exemplos: trabalha na empresa familiar desde 1975, onde assume – juntamente com a irmã e com uma sócia – a gerência da Vasconcelos e C. Além disso, acumula o cargo de Vice-Presidente da APICCAPS e vários cargos executivos em diversas instituições. “Apesar da falta de equidade de género, que sabemos ser transversal em todo o mundo, não me parece que neste momento seja um fator limitador para o crescimento do número de mulheres no setor. O setor do calçado é maioritariamente masculino, mas curiosamente no setor da Marroquinaria já não acontece o mesmo. Pessoalmente não sinto entraves no meu trabalho por ser mulher”, avança Ana Maria ao Jornal da APICCAPS.  
 
Em declarações ao poadcast “Promova Talks” - o projeto da CIP que tem como objetivo ser um espaço de debate que pretende alargar o acesso das mulheres a cargos de liderança nas empresas portuguesas”, Ana Vasconcelos salientou também que “a condição de as mulheres trabalharem há relativamente menos tempo do que os homens, conduz a que muitos lugares não tenham ainda sido conquistados”. Assim, e para contrariar essa tendência, a CEO da Belcinto defendeu ser necessário dignificar as mulheres e reconhecer a sua resiliência no trabalho. “No mercado empresarial, 43% do trabalho é feito por mulheres. Não vou falar em mulheres em cargos de gestão, como é evidente, porque os números vão por aí abaixo”, confessou, deixando claro que as dificuldades são profundas.

A responsável pela Belcinto defendeu ainda que “ser mulher num mundo de homens, leva a que façam mais e melhor. Tudo o que fazemos tem de ser sonante. Temos de ser sucintas, mas muito impactantes, e, portanto, as mulheres que venham para este setor têm de vir fazer a diferença”.

Dulce Cardoso é outro exemplo de uma segunda geração a chefiar os destinos da empresa da família, onde trabalha há 20 anos. “O desafio é bem real e contínuo. O estigma começa desde cedo, no seio familiar, onde todos anseiam por um filho para dar continuidade ao projeto do pai. Como sou a segunda geração da empresa, sempre tive noção que o meu pai, como fundador, tinha essa ambição. Quis o destino que apenas pudesse ter duas filhas. Hoje, admite com veemência que estava enganado e é o primeiro a levantar a bandeira da igualdade”, admite.

Opinião partilhada por Paula Melo, responsável pela empresa Rolando da Cunha e Melo onde trabalha há 35 anos. “É sempre desafiante ser uma mulher no mundo empresarial, o preconceito, felizmente cada vez menos, ainda se vai sentindo”. Além disso, continua a responsável da RCM, “outro condicionante é o conciliar da vida pessoal com a carreira empresarial, onde não existem horários, dificultando a situação maternal e a disparidade remuneratória”.

A indústria de calçado
“Nestas três décadas e meia a indústria da moda portuguesa não parou de crescer. A concorrência dos mercados internacionais foi-se fazendo sentir e a indústria da moda, nomeadamente do calçado, teve de se ir ajustando”, admite Paula Melo. “A aposta no design, criatividade, inovação, tecnologia e criação de marcas próprias foram algumas das evoluções que assistimos ao longo dos anos. Merece ainda especial destaque a notável aposta do setor na redução da pegada ecológica, desenvolvimento de alternativas mais ambientalmente neutras assim como aposta em matéria-prima vegetal”.

Ana Maria Vasconcelos defende que “a oferta de saber-fazer, a diversidade de produtos, a ética empresarial e a seriedade dos diversos parceiros portugueses são fatores de escolha pela produção made in Portugal”. Dulce Cardoso vai ainda mais longe e explora a história da indústria, cuja evolução é “enorme e variada. Quando comecei no calçado, assistia-se ao êxodo das multinacionais e o setor estava fragilizado. No entanto, a moda “made in Portugal” estava a começar a tornar-se uma indústria com contornos bem definidos e o calçado soube acompanhar. As marcas portuguesas começaram a surgir, aliadas ou não a criadores e o “made in Portugal” começou a ganhar valor”.

Para a responsável da Jobel, “o domínio da arte de fazer sapatos permitiu uma qualidade exímia, e o mundo não resistiu. É evidente que, principalmente, nesta última década, a massificação dos computadores e telemóveis transformou o mundo da moda, e a indústria mais uma vez adaptou-se muito bem. A flexibilização das empresas para responder com eficiência a pequenas encomendas, e a implementação do e-commerce como canal de comunicação, permitiu uma resposta real ao crescimento da fast fashion. Aliás, nunca esta indústria se retraiu ao investimento tecnológico. A globalização mudou a moda, a digitalização mudou a moda, mas o cluster, alavancado com inteligentes campanhas de marketing internacional, nunca ficou para trás”.

Nos próximos dias conheça as entrevistas em pormenor.

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