Conferência CIP: As mulheres e o emprego
Para assinalar o Dia Internacional da Mulher, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal realizou ontem, em parceria com a Randstad, uma conferência dedicada aos temas da igualdade de género nas empresas portuguesas. Esta é mais uma iniciativa da CIP, integrada no Projeto Promova, um contributo efetivo para o desenvolvimento de talentos femininos para funções em altos cargos de direção.
Sandra Ribeiro, Presidente da Comissão para a Igualdade de Género, começou precisamente por citar estatísticas que demonstram um aumento das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas, representando hoje mais de metade das pessoas licenciadas e a quase paridade na população ativa. No entanto, os estudos demonstram igualmente que “a participação feminina diminui à medida que sobe o grau de responsabilidade dos cargos, o mesmo acontecendo nas áreas e funções de base tecnológica”.
Os números revelam ainda que, em Portugal, apenas 26,6% das empresas têm uma liderança feminina, um valor abaixo da média europeia que se situa nos 30%, sabendo que o valor mínimo da paridade é de 40%, e que os quadros superiores masculinos ganham mais 26% do que mulheres com funções idênticas.
Para Isabel Barros, Presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição e Vice-Presidente da CIP, este não é um tema só de números: “Para que os números apareçam, temos de mudar comportamentos e mentalidades, e isto faz-se com homens e mulheres. Estas heranças culturais – do women take care e do men take charge – vão-se alterando com as gerações, mas precisamos dos homens para que isto se altere. Porque 75% das tarefas domésticas ou 75% da educação dos filhos ainda está a cargo das mulheres. E os homens vão tomando parte, mas a transformação ainda está a ser lenta. Portanto é um debate da sociedade que tem de ser feito com homens. Grande parte dos órgãos de decisão de gestão são ainda compostos por homens e, portanto, é com eles que temos de fazer políticas, implementá-las e assumi-las nas empresas”.
António Saraiva, recordou que a CIP “há muito que defende a necessidade de encontrar novas abordagens para promover de forma mais eficaz a cultura da igualdade de género nas empresas. Temos consciência de que não só não se devem desperdiçar talentos, como temos a perfeita noção de que a diversidade das equipas de gestão, bem como o conhecimento e as competências, são os principais fatores de competitividade das empresas e, logo, da economia.”
Também José Luis Arnaut, Presidente do Conselho de Administração da ANA – Aeroportos de Portugal, destacou a importância da diversidade nas equipas: “No grupo Vinci, acreditamos que a diversidade é uma vantagem competitiva para uma empresa. (…) Há uma imagem masculinizada do setor dos transportes e que tem evoluído. Tem evoluído com o contínuo aumento de formação das mulheres nas áreas da tecnologia, da engenharia e da matemática. Há uma predominância feminina nas universidades e essa predominância vai-se afirmar depois no mercado de trabalho”.
O Presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo nota precisamente que, atualmente, mais de metade das pessoas que têm o ensino superior são mulheres, e que esse será certamente um fator de aceleração na ascensão de mais mulheres a cargos de liderança. “Sabendo que há um caminho claro para percorrer, esta evolução vai ser acelerada. E vai ser acelerada por vários motivos: por medidas legislativas, por políticas de discriminação positiva, mas também, inequivocamente, por causa do talento. A base do conhecimento é essencial para as empresas. Porque as organizações precisam é de talento e de conhecimento”.
Paulo Macedo destaca ainda o facto de mais de metade das equipas de recrutamento da CGD serem mulheres, assim como os trainees, “o que faz com que haja uma progressão também em quantidade que é necessária”.
Medidas que visam combater estereótipos de género inconscientes. José Miguel Leonardo, CEO da Randstad, lembra um estudo da Universidade de Yale que demonstrou que homens e mulheres cientistas da mesma área tinham maior probabilidade de contratar homens porque os consideram mais competentes do que as mulheres e pagavam-lhes mais de 4 mil dólares por ano do que às mulheres. “Essa discriminação está relacionada com estereótipos e estigmas que são parte da natureza humana e por isso não podemos negar que existem, mas temos de garantir que os quebramos”. Reforça, por isso, a importância de “ter processos de candidatura e de avaliação de competências focados exatamente nisso, nas competências”.
Em Portugal, o Governo introduziu, em 2017, a lei das quotas de género, a qual obriga à existência de, pelo menos, 33,3% de mulheres nos conselhos de administração e nos órgãos de fiscalização das empresas públicas e cotadas. Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, classifica a via legislativa como um “impulsionador de justiça”. Ressalva, no entanto, que: “Como mulher, jamais gostaria de estar num cargo por uma questão de quotas, mas temos que ter aqui algum impulsionador –um grilo falante nas nossas cabeças - para que isto aconteça não daqui a 130 anos, mas para que o consigamos fazer de forma mais rápida”.
Já Salvador de Mello, Presidente Executivo do Grupo José de Mello, considera que “do meu ponto de vista, as quotas não são a solução para o problema. Penso que no futuro vai ser muito evidente que as mulheres vão ter uma participação muito mais ativa. As mulheres saem melhor preparadas à saída da universidade, as mulheres respondem melhor em entrevistas de emprego. Só para dar um exemplo, na CUF nos últimos dois anos mais de 80% do recrutamento foi feminino”.
Para que o debate da igualdade não se faça apenas no Dia Internacional da Mulher, mas sim durante todo o ano, a CIP irá realizar os webinars “Promova Talks”, no dia 08 de cada mês, até março de 2022.