Todos à Coreia
Ainda que possa parecer, à vista desarmada, um mercado pouco natural para o calçado português, numa análise mais aprofundada perfila-se como uma excelente oportunidade. Todos à Coreia é o mote. Saiba porquê.
Cinquenta e três euros e cinquenta e oito cêntimos. Esse é o preço médio do calçado exportado por Portugal para a Coreia do Sul na primeira metade do ano, bem mais do dobro da média do setor (23,88€). Aproximado só o preço médio do calçado exportado para o Japão (51,63€), mas particularmente distante do praticado por exemplo para Alemanha (23,25€) ou para França (29,92€).
A conquista de novos mercados de elevado potencial de crescimento é, desde há muito, uma prioridade estratégica para a indústria portuguesa de calçado. As exportações extracomunitárias representam atualmente 19% do total do setor, mais do dobro do registado uma década antes. A Coreia do Sul demonstra ser um desses exemplos a explorar.
De janeiro a junho, Portugal exportou 70 mil pares de calçado, no valor de 3,8 milhões de euros para o país asiático. Relativamente ao período homologo do ano anterior, assinala-se um crescimento de 88,5%.
Em 2022, de acordo com o World Footwear Yearbook, a Coreia do Sul importou 251 milhões de pares de calçado, em especial de China (quota de mercado de 71‰), Vietname (17‰) e Indonésia (7‰).
Com uma população de 52 milhões de pessoas, com um PIB per capita de 32 250 dólares (que compara com os 24 522 dólares de Portugal), a Coreia do Sul “merecerá uma avaliação mais atenta dos empresários portugueses”, de acordo com o Gabinete de Estudos da APICCAPS.
O fenómeno coreano
A Coreia do Sul despontou internacionalmente no universo da moda, beleza, cultura pop, muito especialmente junto das populações mais jovens.
O fenómeno coreano não é recente. No início do século, chegou a ser apelidado na China de Hallyu ou febre coreana. O cinema e as séries televisivas, o cinema e mesmo a música sul-coreana têm hoje adeptos em todo o mundo.
De acordo com Osvaldo Alencar Billig e Amanda Paiva da Silva no estudo “A expansa?o do hallyu: o uso da diplomacia cultural e seus impactos na economia sul-coreana”, este fenómeno “teve início nos anos 90 e começou a expandir-se nos anos 2000”, tendo como objetivo “melhorar a imagem da Coreia do Sul no exterior e, consequentemente, sua economia indiretamente e diretamente”.
O Governo de Seul privilegiou “a diplomacia cultural para criar uma marca da nação e mudar drasticamente a imagem do pai?s no exterior”, investindo por isso de forma muito particular no setor cultural. Importa recordar que a Coreia do Sul passou grande parte do século XX em regimes militares autoritários e só se democratizou em 1988. O país asiático é um bom exemplo internacional de smart power, combinando o poder político ao potencial económico. Gigantes coreanas como a Hyunday, Kia, LG e, principalmente, Samsung são exemplos disso.
O streetwear, quase omnipresente na moda da geração Z, também ganha público cativo na moda coreana. De acordo com a Business of Fashion, “o mercado sul-coreano prefere marcas locais, mas as marcas europeias vislumbram no país uma imensidão de oportunidades”. A Seoul Fashion Week cresce a cada edição e já é vista como uma das grandes semanas de moda fora do circuito principal de moda.