Conheça a situação na Europa
Comecemos por Itália. Tudo se alterou nas últimas horas, por via do encerramento compulsivo das empresas decretado pelo Governo de Guiseppe Conte. Os primeiros anúncios surgiram de forma espontânea e avulsa. O grupo Tod começou por encerrar toda a produção por cinco dias, convidando os colaboradores, em comunicado, a “reorganizar as suas vidas e a lidar com os novos regulamentos emitidos pelo governo”. Também a Gucci, do grupo Kering, decidiu inicialmente, parar toda a operação baseada na Toscania, por uma semana.
Em França a situação não é muito diferente. Por indicação de Emanuel Macron, a quarentena decretada, para já, é de duas semanas. Por via disso, empresas como a Chanel “decretaram” o encerramento temporário de toda a produção.
Já por Espanha, depois de um ano de 2019 de crescimento, a indústria de calçado enfrenta grandes dificuldades. De acordo com a associação setorial, o que mais preocupa o setor é a escassez de capital, facto que pode comprometer a solvência das empresas e o acesso a créditos. Segundo José Monzonìs, presidente da Federação da Indústria Espanhola de Calçado (FICE), “a indústria conseguirá resolver os problemas relacionados com o surto de Covid-19, apenas no curto prazo”, já que se a situação continuar até meados de maio, "teremos muitos encerramentos de empresas a lamentar”.
A FICE solicitou ao governo de Pedro Sanchez que estabelecesse algumas linhas de crédito extraordinárias, bem como assegurasse garantias específicas para financiar a atividade. Além disso, solicitou medidas excecionais de curto e médio prazo para enfrentar a questão dos excedentes da produção. “Se mantivermos as produções atuais nos armazéns, dificilmente conseguiremos vendê-las posteriormente”. Por fim, o presidente da FICE criticou medidas anunciadas pelo governo espanhol de apoio exclusivo às PME. “O nosso setor funciona numa lógica de cluster: ou o Governo toma medidas para ajudar também as grandes empresas ou haverá um efeito imediato nas pequenas e médias empresas”.
Alemanha
O ano de 2019 foi atípico para a indústria alemã de calçado. De acordo com Carl-August Seibel, presidente da Associação Alemã de Calçado, (HDS), “em 2019 a receita total da indústria foi de 2,89 mil milhões de euros. As vendas no país caíram 1,8%, enquanto a receita externa caiu 6,8%. Felizmente, este desempenho não teve impacto no número total de empregos, que aumentou 2%”. Ainda assim as exportações atingiram os 340 milhões de pares, no total de 7,6 mil milhões de euros, um aumento de 10% no número de pares exportados. Em termos de valor, as exportações cresceram 9,9%.
Carl-August Seibel, acredita que ainda é cedo para fazer avaliações relativamente ao impacto do COVID 19 na indústria. “Ainda não podemos avaliar o impacto do coronavírus com precisão. Obviamente, já se percebe que esta emergência global está a causar um aumento nos preços e, no final, não poderão ser os consumidores a pagar a fatura”. Para o responsável alemão, “mesmo neste cenário difícil, há boas expetativas quanto ao mercado chinês e norte-americano”.
Para evitar maiores consequências na economia alemã, a Chanceler Ângela Merkel anunciou a criação de um fundo de 500 mil milhões para apoiar empresas, assegurando dessa forma uma injeção de capital e empréstimos às empresas.
Adicionalmente, o ministro das Finanças alemão, Olaf Scholz, admitiu a possibilidade de compra de ações das cotadas germânicas, de forma a evitar que entrem em colapso durante este período.