Ruben Avelar, Sons of a Cobbler
Rúben Avelar é um empresário de terceira geração. Com a Sons of a Cobbler desenvolve, a parti de Santa Maria da Feira, coleções de calçado para clientes de todo o mundo. Neste primeiro “Estado da Indústria”, aborda o momento do setor e perspetiva novas janelas de esperança.
Depois de um ano de 2022 de forte fulgor, todos os principais players de calçado enfrentam dificuldades no corrente ano, com quebras ao nível da produção e das exportações. No seu entendimento, a que se deve isso?
O pós Covid foi um período de ‘folia comercial’ em praticamente todos os mercados mundiais. As pessoas estavam ávidas de sentir a ‘liberdade’ de sair, mostrar-se e, acima de tudo, de se sentirem felizes. Com o poder ganho pelas redes sociais no período de confinamento, as marcas tiveram aqui uma oportunidade de ouro de escoarem os seus stocks. Mas, ao mesmo tempo, este ‘boom’ das redes sociais resultou também numa mudança de mentalidade do consumidor que, habituado a não sair de casa para receber produtos, tornou-se também extremamente exigente, não só com a qualidade, mas também com o preço e, acima de tudo, com prazos de entrega. Aqui as marcas, nomeadamente as de calçado, mostraram pouca maturidade e, num ato reflexo, aumentaram exponencialmente- e de forma um pouco descontrolada - os orçamentos de compra e ‘entupiram’ as fábricas de todo o mundo (com exceção da Ásia devido ao confinamento decretado pelos governos asiáticos), forçando-nos, fabricantes, a reestruturarmos a nossa capacidade produtiva, aumentando estruturas e, acima de tudo, forçando a um incremento de mão-de-obra, que, como se sabe, já era insuficiente no nosso país, tornando-se assim impossível termos capacidade de resposta sem recorrermos a outros países produtores.
Para além disso, houve também, a meu ver, uma fraca visão comercial de alguns fabricantes nacionais que, para aumentarem a sua faturação e manterem estruturas quase ‘megalómanas’ para a nossa realidade e massa crítica, aceitaram produzir centenas de milhares de pares a preços quase idênticos aos praticados na Ásia, o que fez cair e muito a qualidade e preço médio do sapato português, algo que, na minha opinião, vai em contrassenso com o que o Fabricado em Portugal, que deve manter como fator principal na sua apresentação aos mercados: qualidade e valor acrescentado. É aqui que nos devemos posicionar. E, não tenho a menor dúvida de que se o tivéssemos feito estariam as empresas de calçado portuguesas muito mais tranquilas e a trabalharem com liquidez.
Depois de um ano de 2022 de forte fulgor, todos os principais players de calçado enfrentam dificuldades no corrente ano, com quebras ao nível da produção e das exportações. No seu entendimento, a que se deve isso?
O pós Covid foi um período de ‘folia comercial’ em praticamente todos os mercados mundiais. As pessoas estavam ávidas de sentir a ‘liberdade’ de sair, mostrar-se e, acima de tudo, de se sentirem felizes. Com o poder ganho pelas redes sociais no período de confinamento, as marcas tiveram aqui uma oportunidade de ouro de escoarem os seus stocks. Mas, ao mesmo tempo, este ‘boom’ das redes sociais resultou também numa mudança de mentalidade do consumidor que, habituado a não sair de casa para receber produtos, tornou-se também extremamente exigente, não só com a qualidade, mas também com o preço e, acima de tudo, com prazos de entrega. Aqui as marcas, nomeadamente as de calçado, mostraram pouca maturidade e, num ato reflexo, aumentaram exponencialmente- e de forma um pouco descontrolada - os orçamentos de compra e ‘entupiram’ as fábricas de todo o mundo (com exceção da Ásia devido ao confinamento decretado pelos governos asiáticos), forçando-nos, fabricantes, a reestruturarmos a nossa capacidade produtiva, aumentando estruturas e, acima de tudo, forçando a um incremento de mão-de-obra, que, como se sabe, já era insuficiente no nosso país, tornando-se assim impossível termos capacidade de resposta sem recorrermos a outros países produtores.
Para além disso, houve também, a meu ver, uma fraca visão comercial de alguns fabricantes nacionais que, para aumentarem a sua faturação e manterem estruturas quase ‘megalómanas’ para a nossa realidade e massa crítica, aceitaram produzir centenas de milhares de pares a preços quase idênticos aos praticados na Ásia, o que fez cair e muito a qualidade e preço médio do sapato português, algo que, na minha opinião, vai em contrassenso com o que o Fabricado em Portugal, que deve manter como fator principal na sua apresentação aos mercados: qualidade e valor acrescentado. É aqui que nos devemos posicionar. E, não tenho a menor dúvida de que se o tivéssemos feito estariam as empresas de calçado portuguesas muito mais tranquilas e a trabalharem com liquidez.
Infelizmente, de um momento para outro, especialmente com o início da guerra Rússia/Ucrânia, o consumo caiu de uma forma abrupta e isso despoletou uma reação quase obrigatória dos mercados, nomeadamente alemão e francês, dois países que vendiam uma grande percentagem de pares ao mercado russo, e praticamente metade eram fabricados em empresas portuguesas. Também as marcas, de forma a manterem as suas estruturas e conseguirem reduzir stocks, reviram orçamentos de compra, quase como que à espera que o conflito terminasse. E agora temos que continuar a lutar e rever a estratégia quase mensalmente, esperando que o mundo se reequilibre.
Numa situação conjunturalmente complexa, de que forma podem as empresas contornar as dificuldades?
A única forma dos fabricantes portugueses se reequilibrarem e reerguerem perante os mercados é haver uma reestruturação urgente das estruturas, reduzindo significativamente as dimensões das fábricas e respetiva capacidade produtiva, de forma a conseguirmos ter capacidade para produzir os melhores sapatos do mundo, com valor acrescentado, diferenciação e, acima de tudo, termos capacidade de prestar um serviço único aos clientes de forma a sermos reconhecidos como um mercado produtor de calçado de qualidade e não de preços baixos. Sem dúvida alguma que, se continuarmos a pensar que podemos e somos capazes de rivalizar com mercados produtores de produção massiva, iremos sempre perder e face á nossa falta ‘massa crítica’ nunca seremos competitivos nos mercados compradores. E, o mais grave a médio/longo prazo, sempre que o mundo mostrar sintomas de ‘doença’, o setor do calçado será o primeiro a sentir dificuldades. Não há como fugir desta realidade. Aqui tenho a certeza que a APICCAPS terá um papel de ator principal no que diz respeito a criar a dinâmica de reestruturação de que falo.
Quais são os principais argumentos competitivos que as empresas portuguesas podem esgrimir para superar a concorrência?
Qualidade, qualidade, seriedade, capacidade de resposta, capacidade de interpretar qualquer necessidade do cliente ou marca e, acima de tudo, capacidade invulgar de conseguirmos proporcionar aos clientes uma experiência única ao escolher Portugal como país ‘parceiro’, pois, numa espécie de ‘joint venture’ com outros setores de atividade, conseguimos conquistar o respeito e fidelizar sem grande esforço. Tudo isto, aliado a um preço que se tem de ajustar a tudo isto que podemos aportar ao produto que fabricamos. Nunca, mas nunca, seremos competitivos por termos capacidade de fabricar a preços baixos.
Os dados das grandes organizações internacionais apontam para uma recuperação económica, ainda que moderada, em 2024. Acredita que o próximo ano seja melhor para o calçado português?
Sinceramente acredito que será mais um ano de luta intensiva…mas sim, com alguma capacidade de sofrimento de todos, creio que podemos melhorar um pouco. Honestamente não creio que antes de 2025 consigamos reequilibrar a ‘balança’ comercial.
Numa fase em que o Orçamento de Estado começa a ser negociado, no seu entendimento, que medidas extraordinárias deveriam ser tomadas para relançar a atividade económica em Portugal?
Para ser franco e sem hipocrisias, não acredito em estratégias políticas. Acredito sim que, independentemente das medidas que os governos tomem, orçamentos de estado lançados, irá caber-nos sempre a nós, empresários, empreendedores, associações empresariais, a quem apelido justamente de ‘contribuintes de luxo’, o ónus de elaborarmos estratégias constantes e quase mensais de forma a conseguirmos sobreviver no meio desta ‘selva’ de impostos, taxas, taxinhas e grandes ‘tachos’ que existem no mundo inteiro, de quem orgulhosamente dependemos, uma vez que os nosso tecido industrial tem a ‘ousadia’ de exportar produtos para praticamente todos os países do mundo.
Numa situação conjunturalmente complexa, de que forma podem as empresas contornar as dificuldades?
A única forma dos fabricantes portugueses se reequilibrarem e reerguerem perante os mercados é haver uma reestruturação urgente das estruturas, reduzindo significativamente as dimensões das fábricas e respetiva capacidade produtiva, de forma a conseguirmos ter capacidade para produzir os melhores sapatos do mundo, com valor acrescentado, diferenciação e, acima de tudo, termos capacidade de prestar um serviço único aos clientes de forma a sermos reconhecidos como um mercado produtor de calçado de qualidade e não de preços baixos. Sem dúvida alguma que, se continuarmos a pensar que podemos e somos capazes de rivalizar com mercados produtores de produção massiva, iremos sempre perder e face á nossa falta ‘massa crítica’ nunca seremos competitivos nos mercados compradores. E, o mais grave a médio/longo prazo, sempre que o mundo mostrar sintomas de ‘doença’, o setor do calçado será o primeiro a sentir dificuldades. Não há como fugir desta realidade. Aqui tenho a certeza que a APICCAPS terá um papel de ator principal no que diz respeito a criar a dinâmica de reestruturação de que falo.
Quais são os principais argumentos competitivos que as empresas portuguesas podem esgrimir para superar a concorrência?
Qualidade, qualidade, seriedade, capacidade de resposta, capacidade de interpretar qualquer necessidade do cliente ou marca e, acima de tudo, capacidade invulgar de conseguirmos proporcionar aos clientes uma experiência única ao escolher Portugal como país ‘parceiro’, pois, numa espécie de ‘joint venture’ com outros setores de atividade, conseguimos conquistar o respeito e fidelizar sem grande esforço. Tudo isto, aliado a um preço que se tem de ajustar a tudo isto que podemos aportar ao produto que fabricamos. Nunca, mas nunca, seremos competitivos por termos capacidade de fabricar a preços baixos.
Os dados das grandes organizações internacionais apontam para uma recuperação económica, ainda que moderada, em 2024. Acredita que o próximo ano seja melhor para o calçado português?
Sinceramente acredito que será mais um ano de luta intensiva…mas sim, com alguma capacidade de sofrimento de todos, creio que podemos melhorar um pouco. Honestamente não creio que antes de 2025 consigamos reequilibrar a ‘balança’ comercial.
Numa fase em que o Orçamento de Estado começa a ser negociado, no seu entendimento, que medidas extraordinárias deveriam ser tomadas para relançar a atividade económica em Portugal?
Para ser franco e sem hipocrisias, não acredito em estratégias políticas. Acredito sim que, independentemente das medidas que os governos tomem, orçamentos de estado lançados, irá caber-nos sempre a nós, empresários, empreendedores, associações empresariais, a quem apelido justamente de ‘contribuintes de luxo’, o ónus de elaborarmos estratégias constantes e quase mensais de forma a conseguirmos sobreviver no meio desta ‘selva’ de impostos, taxas, taxinhas e grandes ‘tachos’ que existem no mundo inteiro, de quem orgulhosamente dependemos, uma vez que os nosso tecido industrial tem a ‘ousadia’ de exportar produtos para praticamente todos os países do mundo.
Do governo, sinceramente, só espero medidas que nos aumentem a responsabilidade contributiva, logo, conto com medidas pejorativas, que nos tiram muitas vezes do ‘jogo’ por falta de capacidade competitiva…os sucessivos governos, nomeadamente este último, tratam os industriais como os ‘ricos’ que têm obrigação de assumir e de pagar tudo o que de mal acontece nas estratégias e orçamentos de estado. Não acredito mais.