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Depois da tempestade, espera-se pela anunciada bonança

Depois da tempestade, espera-se pela anunciada bonança

22 Nov, 2024

Conselho Consultivo da APICCAPS reuniu


Mais de 40 empresários da fileira do calçado e artigos de pele participaram numa reunião alargada entre os Órgãos Sociais e o Conselho Consultivo da APICCAPS. Um encontro que se repete todos os anos e que acolhe empresários de todas as regiões de forte concentração da indústria do calçado. 

Neste debate profundo, onde se procurou “apalpar o pulso” ao setor, Luís Onofre recordou que “o atual contexto internacional, marcado por tensões geopolíticas e pelas consequências do combate à inflação nas principais economias mundiais, tem colocado desafios significativos ao setor”. O presidente da APICCAPS destacou que “o abrandamento económico na Europa, nomeadamente na Alemanha e em França, os nossos principais mercados, refletiu-se num desempenho setorial aquém do desejado”. No entanto, “é precisamente nestes momentos mais desafiantes que a experiência e visão estratégica dos empresários se tornam mais valiosas. Acreditamos que 2025 será um ano de mudança”, concluiu o presidente da APICCAPS.

O DIAGNÓSTICO
Numa análise aprofundada à realidade internacional, Vasco Rodrigues, do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto (CEGEA),  destacou o contexto internacional difícil, acentuado pelas guerras: Ucrânia e Médio Oriente, pelo fraco desempenho da economia dos nossos principais mercados internacionais, pelo abrandamento da economia portuguesa e pelo aumento dos custos salariais. No entanto, alguns sinais positivos parecem estar já no horizonte: surto inflacionista parece superado; o BCE tem baixado sucessivamente as taxas de juro e, apesar de todos os problemas passados, como a pandemia, a inflação e a guerra, o crescimento económico mundial permanece sólido.

No caso específico da indústria portuguesa do calçado, a confiança dos empresários parece estar a melhorar. A avaliação do estado dos negócios no Inquérito de Conjuntura da APICCAPS caiu a pique entre o 4º trimestre de 2022 e o 3º de 2023. No entanto, desde o 4º trimestre de 2023 que está a recuperar.

Vasco Rodrigues destacou o bom desempenho do setor de artigos que deve ser olhado como um estudo no caso dentro do cluster. Desde o primeiro semestre de 2019 até ao primeiro semestre de 2024 cresceu mais 120%, exportando atualmente 200 milhões de euros. Este subsetor do cluster tem registado uma performance muito positiva, com a quota nas exportações do cluster a duplicar nos últimos cinco anos (passou de 9% em 2019 para 19% em 2024).

No contexto internacional, o especialista da Universidade Católica destaca a alteração profunda na origem das importações da UE 27. Polónia (+1,7 p.p.), Alemanha (+2,1 p.p.) e Países Baixos (+3,2 p.p.) reforçaram muito as suas quotas, enquanto a China foi quem mais caiu (-4,4 p.p.).


ENTENDER O CONTEXTO
Alberto de Castro é professor na Universidade Católica do Porto. Acompanha de perto o setor do calçado há praticamente 30 anos e foi o responsável pela maioria dos diagnósticos do setor efetuados nesse período. Na reunião-magna da APICCAPS, desafiou os empresários a analisarem a envolvente atual, dando como exemplos grandes empresas internacionais que não se adaptaram à mudança, como a Weston Union ou a BlackBerry. “A certa altura é preciso perceber que o contexto está a mudar para entender se é preciso mudar o modelo de negócio”. O professor da Universidade Católica explica, no entanto, que “não estamos nesse momento, mas esta reflexão é importante para cada empresa fazer individualmente”.

Alberto de Castro explica que é necessário “analisar em que medida – é uma lição que se leva daqui – cada uma das empresas percebe se o modelo de
negócio que está a usar precisa de ajustamentos ou de rutura porque, efetivamente, o mundo está a mudar muito”.

Há aproximadamente duas décadas, aquilo que designávamos de “países emergentes passaram a pesar mais na economia mundial do que os países desenvolvidos”, recordou. Para Alberto de Castro isso significa que é precisamente nesses países que “a procura poderá crescer. Quando olhamos para a Europa, vemos uma estagnação demográfica total (envelhecimento da população). Não podemos esperar uma procura igual à que existia anteriormente”. A esse propósito, importa recordar o diagnóstico do Plano Estratégico. De acordo com a Universidade Católica, “mercados em crescimento oferecem melhores perspetivas de sucesso comercial”. Feitas as contas, “as perspetivas de evolução da população e do PIB per capita de cada país sugerem que, na próxima década, será sobretudo na Ásia e em África que o consumo de calçado mais aumentará”. Já entre as economias avançadas, “os EUA são o país que oferece melhores perspetivas, nomeadamente quando se considera adicionalmente a dimensão do mercado”.

A Católica admite que “o mercado potencial do calçado português é constituído pelos consumidores que têm um rendimento igual ou superior à média do PIB per capita dos países da OCDE em 2020, ou seja, cerca de 38.500 dólares”. Com base na informação disponível, estima-se que haja no mundo 145 cidades que albergam mais de 500 mil clientes potenciais, para o calçado português. Cerca de 2/3 dos investimentos do setor deverá centrar-se na Europa ou EUA, mas também há oportunidades identificadas na Coreia do Sul e no Japão. São, aliás, já esses os mercados que motivarão uma abordagem profissional do calçado português já a partir de julho, primeiro em Seul, depois  em Atlanta, e Tóquio no início do próximo ano.

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