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Diário de um confinamento: Décio Pereira

Diário de um confinamento: Décio Pereira

5 Fev, 2021

Décio Pereira, Vapesol


É a segunda geração da Vapesol, uma empresa de Felgueiras especializada em solas para calçado. Acredita que os primeiros quatro meses do ano vão ser de muita instabilidade, face ao avançar da pandemia.

No ano que findou, as empresas foram testadas ao limite. Que soluções encontrou para minimizar os efeitos da pandemia?
Fomos forçados em focar-nos mais em todos os detalhes, Apesar do choque e instabilidade em que a empresa se viu, naturalmente um momento sem paralelo no passado. Tivemos inclusive sentido necessidade de recorrer ao lay-off parcial por um período de um mês, de modo a poder repensar o presente e o futuro.

Desde logo, procuramos reforçar o contacto com os clientes para sentir as suas reais necessidades. Depois, procurar intensamente novos clientes nacionais e estrangeiros, para contrariar a quebra abrupta de encomendas. E, por fim, renegociar novos produtos.

Procuramos aceder, compreender e tolerar formas de pagamento mais flexíveis, pese embora as seguradoras de crédito terem políticas que em nada ajudaram a estas negociações. 

Contudo, a empresa decidiu apostar, ainda mais forte, com o intuito de ter mais alternativas e soluções para os clientes atuais e atrair ainda outros com produtos diferenciados.

Destaco o reforço do investimento no EVA, em que a empresa cresceu 200% nas suas vendas de solas de EVA com aquisição de novas máquinas e a implementação de uma nova unidade industrial de cerca de 1500 m2.A empresa criou uma linha de montagem de EVA com outros materiais como TPU, TR ou borracha. Apostamos numa nova linha de solas pré-fabricadas com o intuito de ter equipamentos para prefabricados de forma a enriquecer o nosso produto injetado.

Por fim, a nossa aposta no digital foi enorme, através da criação de um novo e dinâmico site onde os nossos clientes em todo mundo podem ver as nossas coleções online, investimento esse impulsionado por um investimento nas redes sociais com apresentação de novidade quase semanalmente.

Já a terminar o ano de 2020 diversificamos ainda mais o nosso portefólio de produtos: borracha vulcanizada e PU vazado com cortiça. Estes serão os nossos grandes desafios para 2021.
 
Que avaliação faz às medidas apresentadas pelo Governo?

Não poderei responsabilizar o Governo por tudo, ainda que considere que não existiu uma ajuda efetiva para preparar as  empresas para um futuro de grandes dificuldades.

Considero mesmo que as medidas se revelam presentes envenenados, pois são curta duração. Quando a pandemia terminar,  iniciar-se-ão outros problemas igualmente complexos. Que sentido faz um colaborador que tem necessidade de estar em casa para cuidar do filho com todo o direito e a empresa tem de lhe pagar uma percentagem do salário. Ou seja, a empresa fica sem o colaborador  e ainda tem de lhe pagar?! Não considero que se ajude assim as empresas.

Por outro lado, promover linhas de crédito com taxa de juro impedindo as empresas de efetivarem despedimentos durante 3 anos não me parece justo. Se nem as empresas, o governo nacional, os políticos da EU, sabem o que vai acontecer daqui a 3 semanas quanto mais daqui a 3 anos…
 
Que expectativas tem para o ano de 2021?
Tudo muda demasiadamente rápido. Tivemos uma fase de setembro a dezembro brilhante e de enorme recuperação. No início de janeiro,  diria que as expectativas para 2021 eram boas e de crescimento. Tudo se alterou agora e o próximo quadrimestre vai ser muito difícil, com os principais pontos de venda fechados e a população confinada.
 
O que tem a indústria portuguesa para oferecer aos seus clientes?
Essencialmente, um bom produto e de alta qualidade, com a  melhor relação qualidade/preço e resposta a nível mundial. A proximidade com boa parte dos grandes consumidores é igualmente uma grande vantagem comparativa.
 
Este ano, o nosso país começa a beneficiar de um pacote extraordinário de medidas de apoio, a famosa «bazuca europeia». Que expectativas tem relativamente a esse pacote de medidas?

Do que vamos conhecendo as expectativas não são as melhores. As empresas precisam de apoios e de não promessas.
 
Se do ponto de vista do negócio, o ano de 2020 foi particularmente difícil, o que mudou na sua vida pessoal nestes últimos meses?
Com a exceção dos meses de verão em que podemos ter alguma (embora controlada) liberdade, mudou tudo……
Restaurantes zero, socializar zero, viajar nunca…..
 
Saudade foi a palavra eleita pelos portugueses para resumir o ano der 2020. De que sente mais saudades?
Ver a expressão facial das pessoas em geral. Nos negócios, em especial, estar a conversar com um cliente e não poder ver a expressão facial dificulta o sentido da negociação e do dialogo.

Sinto falta de poder contactar mais diretamente com clientes, sejam portugueses e estrangeiros.
E naturalmente de viajar, pois fazia habitualmente dezenas de viagens de prospeção por ano. Esse contacto com o mundo faz-nos muita falta para podermos evoluir.
 

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