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Diário de um confinamento: Pedro Saraiva

Diário de um confinamento: Pedro Saraiva

2 Fev, 2021

Pedro Saraiva, Bolflex


É responsável pelo departamento comercial da Bolflex. A sustentabilidade está na ordem do dia desta empresa de componentes. Pedro Saraiva acredita que tudo está dependente da evolução da pandemia.

No ano que findou, as empresas foram testadas ao limite. Que soluções encontrou para minimizar os efeitos da pandemia?
Face à magnitude, imprevisibilidade e rapidez desta crise pandémica, o grupo Bolflex tomou algumas medidas. A decisão mais importante foi a de manter-se fiel ao seu rumo, plano e visão.
Continuamos, ao logo de 2020, a investir com a inclusão de mais uma unidade de injecção de EVA B-light na linha de produção Bolflex, mas também aumentando o parque de máquinas da nossa unidade de reciclagem Rubberlink.

Incrementamos ainda a nossa capacidade interna de Armazém para o dobro, incluindo um 2ª piso, que nos permite ter maior quantidade de matéria-prima dentro de portas.

O investimento em 2021 prossegue, com mais maquinaria de Serralharia e Acabamentos que estará para chegar.
Em Março de 2020 quando a pandemia apareceu com força, fomos obrigados a uma gestão mais  rápida e inteligente das matérias-primas assegurando dentro de portas material necessário e suficiente para podermos trabalhar 4 a 6 meses em contínuo.

A engenharia financeira foi também ajustada à situação. Apostamos também forte em projetos “out of the box”, muito virados para a sustentabilidade e reciclagem. Na calha estão ainda outros desenvolvimentos, direta e indiretamente ligados ao setor do Calçado. Também a nossa marca de malas, Pooch, teve um crescimento considerável com a inclusão de uma equipa de vendas aliada ao reforço do investimento online.

A diversificação do negócio, não descurando o core business, também foi e é uma solução. Quanto ao contacto com os clientes, apesar de continuarmos a ter inúmeras visitas de clientes, de visitar as fábricas Portuguesas e Agentes diariamente, verifica-se que houve a introdução de uma nova variável para a apresentação de projetos e coleções – as ferramentas de reunião virtual.

Obviamente que tal não substitui as visitas presenciais mas ajuda e aproxima as partes intervenientes.
A gestão passa também por escutar muito os sinais do mercado, ouvir as pessoas, e diariamente fazer um balanço, acreditando que melhores dias virão para o setor.
 
Que avaliação faz às medidas apresentadas pelo Governo?
O Governo foi apanhado num turbilhão, uma surpresa nefasta, tal como todos nós, e teve que reagir rápido e com os instrumentos que à altura tinha disponível.
As linhas de crédito, os apoios e rápida legislação tal como por exemplo o lay-off foram bem recebidos pelo sector. Diria mesmo fulcrais!
De outra maneira eventualmente teríamos muitos parceiros de negócio em verdadeiros apuros.
Exige-se só que haja um maior acompanhamento da realidade e das grandes dificuldades pelas quais a nossa indústria passa diariamente.
É preciso que o Governo tenha equipas no terreno para registarem e ajudarem a resolver os problemas. A indústria que tanto tem dado ao país não pode ser esquecida e ser relembrada só nas Feiras e em momentos de festa.
 
Que expectativas tem para o ano de 2021?
2020 foi um ano bom para nós, dado que chegamos a um valor equilibrado de faturação, similar a 2019, conseguimos honrar os nossos compromissos e ainda nos permitiu estabelecer as bases de alguns projetos futuros.
Contamos que 2021 seja um ano melhor, na expectativa que também a pandemia abrande e nos permita começar a circular livremente.
 
O que tem a indústria portuguesa para oferecer aos seus clientes?
Apesar de não termos uma escola de artes de renome, considerando também que o mercado interno é pequeno e a mentalidade é periférica, o calçado Português deu um grande salto evolutivo, fruto da nossa resiliência, flexibilidade e capacidade de trabalho.
Existe muita inovação, qualidade e vontade de fazer as coisas. Somos percussores da verdadeira
Revolução verde da Indústria do Calçado.
Ainda nos falta o design, aquele toque, mais associado aos Italianos e Nórdicos, mas estou em crer que com o advento das novas gerações e linguagens tudo se irá ajustar.
Vejo Portugal jà como um hub para o desenvolvimento de projectos de grandes marcas, o que sendo bastante positivo, também é por vezes uma birfurcação. Muitos dos projectos são desenvolvidos em Portugal e depois as grandes produções são feitas na Ásia.
De todo o modo, a economia do preço económico e das grandes quantidades terá de desaparecer da Indústria Portuguesa sob pena de sermos autofágicos.
O modelo de futuro terá de se pautar pela qualidade, capacidade de resposta a séries mais pequenas com maior frequência, bem como associarmo-nos uma forte capacidade de desenvolvimento e inovação.
 
Este ano, o nosso país começa a beneficiar de um pacote extraordinário de medidas de apoio, a famosa «bazuca europeia». Que expectativas tem relativamente a esse pacote de medidas?
 Sabemos que não é fácil governar nem liderar. Sabemos que para além da nossa indústria, também outros sectores buscam auxílio. Os apoios chegam à indústria em número escasso para as necessidades e normalmente em forma de créditos. Veremos o que està reservado para o sector do Calçado. Estamos algo apreensivos.
 
Se do ponto de vista do negócio, o ano de 2020 foi particularmente difícil, o que mudou na sua vida pessoal nestes últimos meses?
A nível pessoal, sendo eu pai de um menor, tive que conciliar horários de trabalho com a vida familiar. Os dias de trabalho passaram a ser mais longos e até mesmo extensíveis ao final de semana. As restrições a nível de horários, escolas fechadas, etc., não facilitam a vida de quem tem de trabalhar e manter as empresas abertas.

Obviamente que o convívio, reuniões familiares, reuniões com amigos, festas, as viagens, passeios e vida ao ar-livre são um complemento necessário para que a mente esteja sã e em forma, de modo a executarmos um trabalho com a performance desejada.
Esperemos que estas restrições às liberdades e atividades sejam temporárias e rapidamente ultrapassáveis.
 
Saudade foi a palavra eleita pelos portugueses para resumir o ano der 2020. De que sente mais saudades?
Não querendo fazer clichés, saudades tenho apenas do futuro. A história/passado é uma parte importante das nossas vidas. Serve para nos situarmos, orientar e podermos definir um rumo.

A história/passado dá-nos lições que podemos ou não aproveitar para o futuro. É importante não esquecer quem somos, de onde viemos e o caminho que trilhamos até aqui.

Estou seguro de que o rumo traçado pela Bolflex, aliado aos projetos em marcha trarão muitas e boas alegrias, e como tal não me vejo ainda a contemplar um passado com um travo nostálgico.

Quanto à pandemia tudo acaba por eventualmente passar e a vida retomará o seu curso mais ou menos normal. O ser humano tem tendência a valorizar apenas as coisas quando as deixa de ter, em detrimento de aproveitar o melhor de cada dia.
 

 


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