Pedro Saraiva, Bolflex
No ano que findou, as empresas foram testadas ao limite. Que soluções encontrou para minimizar os efeitos da pandemia?
Face à magnitude, imprevisibilidade e rapidez desta crise pandémica, o grupo Bolflex tomou algumas medidas. A decisão mais importante foi a de manter-se fiel ao seu rumo, plano e visão.
A gestão passa também por escutar muito os sinais do mercado, ouvir as pessoas, e diariamente fazer um balanço, acreditando que melhores dias virão para o setor.
O Governo foi apanhado num turbilhão, uma surpresa nefasta, tal como todos nós, e teve que reagir rápido e com os instrumentos que à altura tinha disponível.
As linhas de crédito, os apoios e rápida legislação tal como por exemplo o lay-off foram bem recebidos pelo sector. Diria mesmo fulcrais!
De outra maneira eventualmente teríamos muitos parceiros de negócio em verdadeiros apuros.
Exige-se só que haja um maior acompanhamento da realidade e das grandes dificuldades pelas quais a nossa indústria passa diariamente.
É preciso que o Governo tenha equipas no terreno para registarem e ajudarem a resolver os problemas. A indústria que tanto tem dado ao país não pode ser esquecida e ser relembrada só nas Feiras e em momentos de festa.
Que expectativas tem para o ano de 2021?
2020 foi um ano bom para nós, dado que chegamos a um valor equilibrado de faturação, similar a 2019, conseguimos honrar os nossos compromissos e ainda nos permitiu estabelecer as bases de alguns projetos futuros.
Contamos que 2021 seja um ano melhor, na expectativa que também a pandemia abrande e nos permita começar a circular livremente.
O que tem a indústria portuguesa para oferecer aos seus clientes?
Apesar de não termos uma escola de artes de renome, considerando também que o mercado interno é pequeno e a mentalidade é periférica, o calçado Português deu um grande salto evolutivo, fruto da nossa resiliência, flexibilidade e capacidade de trabalho.
Existe muita inovação, qualidade e vontade de fazer as coisas. Somos percussores da verdadeira
Revolução verde da Indústria do Calçado.
Ainda nos falta o design, aquele toque, mais associado aos Italianos e Nórdicos, mas estou em crer que com o advento das novas gerações e linguagens tudo se irá ajustar.
Vejo Portugal jà como um hub para o desenvolvimento de projectos de grandes marcas, o que sendo bastante positivo, também é por vezes uma birfurcação. Muitos dos projectos são desenvolvidos em Portugal e depois as grandes produções são feitas na Ásia.
De todo o modo, a economia do preço económico e das grandes quantidades terá de desaparecer da Indústria Portuguesa sob pena de sermos autofágicos.
O modelo de futuro terá de se pautar pela qualidade, capacidade de resposta a séries mais pequenas com maior frequência, bem como associarmo-nos uma forte capacidade de desenvolvimento e inovação.
Este ano, o nosso país começa a beneficiar de um pacote extraordinário de medidas de apoio, a famosa «bazuca europeia». Que expectativas tem relativamente a esse pacote de medidas?
Sabemos que não é fácil governar nem liderar. Sabemos que para além da nossa indústria, também outros sectores buscam auxílio. Os apoios chegam à indústria em número escasso para as necessidades e normalmente em forma de créditos. Veremos o que està reservado para o sector do Calçado. Estamos algo apreensivos.
Se do ponto de vista do negócio, o ano de 2020 foi particularmente difícil, o que mudou na sua vida pessoal nestes últimos meses?
A nível pessoal, sendo eu pai de um menor, tive que conciliar horários de trabalho com a vida familiar. Os dias de trabalho passaram a ser mais longos e até mesmo extensíveis ao final de semana. As restrições a nível de horários, escolas fechadas, etc., não facilitam a vida de quem tem de trabalhar e manter as empresas abertas.
Esperemos que estas restrições às liberdades e atividades sejam temporárias e rapidamente ultrapassáveis.
Saudade foi a palavra eleita pelos portugueses para resumir o ano der 2020. De que sente mais saudades?
Não querendo fazer clichés, saudades tenho apenas do futuro. A história/passado é uma parte importante das nossas vidas. Serve para nos situarmos, orientar e podermos definir um rumo.