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Diário de um desconfinamento: Joaquim Heitor

Diário de um desconfinamento: Joaquim Heitor

17 Fev, 2022

Joaquim Heitor, JJ Heitor


Nesta edição do Diário de um (Des)confinamento, falamos com Joaquim Heitor, responsável pela JJ Heitor.

“Toda a gente, neste período, navegou à vista”


A pandemia trocou literalmente as voltas ao setor do calçado. De que forma se adaptou a sua empresa a este período crítico?

Na JJHeitor sentimos os efeitos da pandemia, fundamentalmente, a três níveis. Por um lado, no que diz respeito ao absentismo, uma vez que tivemos de usar da grande polivalência das nossas pessoas para suprir o elevado nível de absentismo que sentimos. Foi um grande esforço e, mesmo assim, a nossa produção em 2020 caiu cerca de 30%  e em 2021 cerca de 10%. Contudo, como conseguimos novos clientes, com um produto de maior valor acrescentado, a nossa rentabilidade não foi afetada. Em segundo lugar, sentimos o impacto da pandemia no cancelamento das encomendas, uma vez que tivemos alguns clientes que cancelaram encomendas à última hora ou as colocaram em stand by. Acredito que toda a gente, neste período, navegou à vista. Tivemos de fazer a gestão diariamente, uma vez que  não havia planeamento que resistisse a tamanha Instabilidade.
Por último, sentimos um forte impacto nos transportes. A logística foi fortemente afetada pela pandemia. Os atrasos nos transportes foram e são frequentes e, os custos, dispararam.
Entregas que se faziam em 1 ou 2 dias passaram a fazer-se em 3 ou mesmo 4 e o transporte aéreo subiu substancialmente.

Valeu-nos, nestes tempos tão exigentes, a nossa grande resiliência, flexibilidade e capacidade de improvisação que, como sabemos, é um ponto forte dos portugueses.

Considera que o pior já passou?

 Talvez. Mas há efeitos desta pandemia que vieram para ficar por algum tempo. Refiro, especificamente, à questão dos transportes. Recentemente, com o elevadíssimo nível de contágios, nesta fase da pandemia, voltámos a sentir níveis elevados de absentismo.

Será 2022 um ano de afirmação do calçado português no exterior?

Para nós, na JJHeitor, 2022 será um bom ano e creio que para as restantes empresas do setor também. Com a pandemia,a os clientes passaram a valorizar muito mais a proximidade fazendo pequenas encomendas com curtos prazos de entrega.

Mas não pensemos que a guerra está ganha no nosso sector. O enquadramento é-nos favorável, mas, se não fizermos a nossa parte, nada feito.

-Quais são as principais dificuldades que sente nesta altura?

Uma dificuldade que se vem sentindo é a falta e o elevado custo das matérias-primas.
Por outro lado , também é difícil  encontrar mão-de-obra especializadas para o nosso setor. O recrutamento é cada vez mais difícil.

Passada esta “tormenta”, o que ficou? Antevê alterações ao nível do perfil do consumo ou mesmo da estratégia de subcontratação das grandes marcas internacionais que favoreçam, por exemplo, uma relação de maior de proximidade?

O e-commerce veio afirmar-se definitivamente. Neste período de pandemia as vendas online cresceram o que teriam crescido em cinco anos normais.

A procura pelo conforto, no calçado, reafirmou-se com uma caraterística incontornável. Já era uma tendência em crescimento, mas agora instalou-se definitivamente.

E, ao nível da subcontratação das marcas internacionais, o fator proximidade, como já referi, passou a ser um fator decisivo na escolha de parceiros para os negócios. E, percebe-se bem porquê.

A sustentabilidade veio para ficar ou é, na sua opinião, uma moda passageira?

A sustentabilidade foi mais uma tendência que a pandemia apenas acelerou. Não é uma moda passageira, pelo contrário, veio para ficar.

O que tem a indústria portuguesa de calçado para oferecer nos mercados externos?

A indústria do calçado oferece grande qualidade na produção; entregas rápidas; eficácia esmo nas pequenas encomendas, proximidade dos grandes mercados tradicionais e um design diferenciador.

Todos estes fatores são críticos tanto no negócio de private label, como na marca própria. Neste último caso faltam-nos, muitas vezes, os recursos financeiros e um mindset orientado para a estratégia de marca própria, por parte dos empresários. O desenvolvimento de uma marca própria exige perseverança, uma vez que o tempo é uma variável fundamental.
 

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