Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030
O setor de calçado enfrenta, há já dois anos, um momento de particular complexidade a nível internacional, com praticamente todos os players a revelarem um desempenho modesto.
No mais recente Plano Estratégico do Cluster do Calçado 2030, recorda-se que o “património reunido permite invocar um conjunto de forças que nos posicionam favoravelmente face à concorrência Internacional”, nomeadamente “ao contrário do que acontece, ou tem acontecido, em diversos países europeus, Portugal mantém uma base industrial sólida, bem equipada, com reconhecidas competências manufatureiras, e preparada para responder com rapidez e flexibilidade às necessidades dos clientes”. Acresce que “o cluster português de calçado evoluiu muito, na última década, quanto à sua capacidade de desenvolvimento do produto de acordo com os mais elevados padrões de qualidade, design e sustentabilidade”. Refletindo características culturais portuguesas, “os empresários e gestores portugueses têm facilidade no relacionamento com os clientes internacionais e são, geralmente, considerados parceiros de negócio confiáveis”, recorda a APICCAPS no documento.
O cluster “beneficia de trabalhadores dedicados, com competências fabris assinaláveis, e de uma baixa conflitualidade laboral”, enquanto “a marca institucional Portuguese Shoes é hoje reconhecida no mercado profissional internacional como uma garantia de qualidade e sofisticação”. É justo igualmente reconhecer que “existe uma cultura coletiva partilhada por empresas e instituições setoriais que lhes permite manter coerência de atuação e desenvolver projetos de interesse comum, nomeadamente nos domínios tecnológico e comercial”.
Importa, no entanto, estar conscientes de um conjunto de debilidades que limitam a capacidade de atuação do setor. Desde logo, “as nossas marcas têm escasso reconhecimento pelo consumidor final, o que limita a sua capacidade de afirmação no comércio online, estando a maioria da produção nacional subordinada a marca do cliente”. Portugal apresenta igualmente “#custos de produção demasiado altos para competir nos segmentos mais massificados do mercado, mas tem escassa presença nos segmentos de verdadeiro luxo”. Adicionalmente “tendo-se desenvolvido centrado no couro, o cluster português de calçado é pouco denso no que respeita à oferta de materiais alternativos e de soluções para os trabalhar”. Em ternos práticos, “tendo uma origem predominantemente fabril, as empresas portuguesas têm competências limitadas no marketing, na gestão de marcas, nos processos digitais e no controlo de cadeias de valor deslocalizadas”. Por outro lado, “embora a dimensão média das empresas portuguesas de calçado não se compare desfavoravelmente com as de outros países europeus, o cluster português dispõe de poucas empresas com escala suficiente para uma atuação autónoma nos mercados internacionais”. A fidelizar, “as empresas e as instituições setoriais têm debilidades no que respeita à codificação, preservação e transmissão de saberes e competências”.
As ameaças
“O contexto que enfrentamos coloca-nos perante ameaças que não podemos ignorar”, recorda o Plano Estratifico do Cluster do Calçado 2030, nomeadamente “a afirmação de novos concorrentes com padrões de qualidade próximos do português, beneficiando de custos de produção mais baixos e da desvalorização das suas moedas face ao euro”. Adicionalmente, “a subida dos custos de produção em Portugal, até agora impulsionada, sobretudo, pela regulamentação do mercado do trabalho, mas, no futuro, também pela tendência para a escassez de mão-de-obra que já se vinha a fazer sentir e que a pandemia de COVID-19 exponenciou”. A outro nível, importa relevar “a persistência de tendências desfavoráveis ao calçado clássico de couro, seja devido às preferências dos consumidores por calçado confortável, seja devido à perceção do mercado quanto aos seus supostos impactos ambientais” ou mesmo “a potencial subida das taxas de juro e consequente aumento do custo do endividamento, para as empresas e para o Estado”.
Oportunidades no horizonte
Não obstante 88% da produção de calçado a nível mundial ser, atualmente, assegurada por players asiáticos, continuam a verificar-se oportunidades para as empresas portuguesas. A APICCAPS, no seu documento estratégico, recorda “a tendência para a manutenção de uma maior fração da produção industrial na Europa, como proteção contra as fragilidades das cadeias globais de produção que a pandemia revelou”. De igual modo, persiste “potencial de mercados em que a penetração do calçado português ainda é reduzida, não só fora da Europa, mas também no centro e leste europeu, onde a quota do calçado português é muito inferior à alcançada nos grandes mercados da União Europeia”. Também deve ser considerada, “a disponibilidade de meios financeiros”, no âmbito 2030, para financiar novos projetos”.
Já a ascensão do comércio online ou a crescente importância da sustentabilidade, podem tanto ser, ameaças como oportunidades, desde que “saibamos responder às novas exigências regulamentares e de mercado”.