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Entrevista com Rikard Adolfsoon, Axel Arigato

Entrevista com Rikard Adolfsoon, Axel Arigato

20 Mai, 2022

Entrevista com Rikard Adolfsoon | Axel Arigato


É uma das marcas mais reputadas do momento. Fundada em 2014 por Albin e Max, a Axel Arigato entrou no mercado de forma disruptiva e é assim que quer continuar. Nasceu digitalmente e com o objetivo de se estabelecer num segmento de luxo, mas oferecendo um valor acessível. Portugal é um dos fornecedores de referência da marca.

O Jornal da APICCAPS conversou com Rikard Adolfsoon, responsável pela cadeia de abastecimento da marca.  

Como é que nasceu este projeto?
A Axel Arigato foi fundada em 2014 pelo Albin e Max, que são os nossos co-fundadores e continuam ativos na empresa. Atualmente, o Max é o diretor criativo e o Albin assume a função de CEO. Em 2014, juntaram-se e lançaram uma ideia disruptiva para o setor, ao oferecer um produto de luxo acessível e desafiando as tradicionais marcas de luxo e as marcas de Fast Fashion. A marca encontrava, assim, um espaço no meio de ambas as realidades; criando aquilo a que chamamos de luxo acessível. Em 2015 o nosso primeiro produto chegava ao consumidor.
O modelo de negócio utilizado para o lançamento da marca foi uma forte presença no Instagram e online, através do website. Queríamos estar perto do consumidor e rapidamente perceber quais eram as tendências de mercado. Utilizamos esta estratégia desde o primeiro dia. Atualmente, continuamos muito perto do consumidor através da iniciativa Drop of the week. Todas as semanas é lançado um novo modelo de sneakers. Isto permite-nos estar perto das tendências, receber o feedback instantâneo do consumidor e conseguir estar um passo-à-frente da nossa concorrência e até do próprio mercado.
Esta foram as bases do nosso sucesso. Continuamos a construir uma comunidade, a preparar cuidadosamente o Drop of the Week, a acompanhar as tendências, no TikTok, no Instagram...

Acredita que a construção de uma comunidade foi o segredo para o sucesso da marca?
Sim, acredito que sim. E a democratização do luxo. Os nossos produtos são referenciados de forma diferente de outros produtos no segmento de luxo; criamos um luxo acessível. E para nós é essencial criar um sapato produzido de forma artesanal, como temos oportunidade de fazer nas empresas portuguesas.

Enquanto responsável pela cadeira de abastecimento, quais são as maiores preocupações quando avalia um fornecedor, seja de componentes, sejam produtores de calçado?
São muitas, mas diria que são critérios de qualidade e de avaliação. Estamos numa posição, neste momento, de start-up em desenvolvimento para uma empresa estável e escalável. Por isso, a agilidade é muito importante para sermos adaptáveis. Acredito que estamos numa posição em que precisamos de confiança e previsibilidade. Quando avaliamos possíveis fornecedores de calçado, avaliamos naturalmente o tempo de entrega, porque queremos estar perto dos consumidores e do mercado, avaliamos a qualidade, porque como disse queremos que os nossos produtos evoluam qualitativamente. Avaliamos também a questão da sustentabilidade de duas formas distintas, por um lado no uso materiais e, por outro, nas condições de trabalho dos funcionários.  
Há outro aspeto que considero muito relevante: a capacidade de a empresa crescer connosco. Olhamos para os fornecedores como parceiros, porque no fundo são eles que produzem os sapatos que vamos entregar aos nossos clientes.

A sustentabilidade é o tópico do momento? Como é a que Axel Arigato encara para este tema?
É um tema central. É um assunto relevante e ainda tempos muito para fazer enquanto indústria. Mas, para nós, é um pilar central na nossa identidade e no nosso valor. Se não criarmos um produto sustentável e não agirmos de forma sustentável não temos amanhã, nem consumidores para servir. Queremos ser um exemplo, mas sabemos que há sempre forma de melhorar. Queremos que a sustentabilidade seja parte de cada escolha que fazemos, desde a impressão de uma folha no escritório até à escolha dos materiais, ao modo de transporte, etc.
Os nossos fornecedores de couro, por exemplo seguem os critérios do Leather Working Group, introduzimos material reciclado nas nossas solas… mas queremos ser melhores no futuro e diminuir a nossa pegada de carbono.

Lançaram recentemente o projeto de re-utilização de pares: o X-Change. Comos surgiu este projeto?
É uma iniciativa que tem como objetivo fechar o loop. Podemos ser responsáveis por várias decisões que tomamos sobre o ciclo de vida do produto. Queremos oferecer uma opção para estender esse ciclo de vida ou, até, criar novos ciclos de vida. E foi assim que nasceu o X-Change: para desenvolver a comunidade e dar nova uma vida às amostras.

Trabalham maioritariamente com empresas de calçado europeias, com bases familiares, essencialmente sediadas em Portugal…
Sim. É algo que queremos continuar. Portugal é hoje o nosso maior fornecedor de calçado e vai continuar a ser um player importante na nossa empresa. Mas com o nosso crescimento, é natural que tenhamos de expandir para outras partes do globo, especialmente fora da Europa.
No futuro, teremos de avaliar se deveremos produzir cada vez mais perto dos consumidores, mas será uma decisão que apenas tomaremos quando expandirmos para novos mercados.
Mas produzir perto do mercado onde atuamos é algo essencial para sermos sustentáveis.

Trabalham há muitos anos com a indústria portuguesa de calçado. Que opinião tem da indústria?
É fantástica. E é por isso que continuam connosco há oito anos. Cerca de 97% da nossa produção está em Portugal e não queremos mudar isso, a não ser que as nossas vendas mudem de forma radical para outras geografias. De uma perspetiva cultural e de qualidade diria que é o país certo para estar.

Quais são as maiores diferenças no negócio depois da pandemia?
Acredito que um desafio traz sempre algo bom para apreender. No caso da nossa marca, tivemos alguns desafios durante a pandemia, essencialmente financeiramente e na cadeia de abastecimento - onde ainda sofremos algumas repercussões. Felizmente somos uma marca nativa digital, logo a maioria das nossas vendas é realizada online e pudemos continuar a servir os nossos clientes. Tivemos sorte de produzir em Portugal onde existiram poucos lockdowns e onde os negócios e a indústria continuaram a trabalhar.
Aprendemos com a pandemia. E precisamos de aprender a planear no futuro. Não só perceber de onde vêm as nossas vendas, mas também onde produzimos, de onde vem a nossa matéria-prima e tentar mitigar os riscos associados a estas distâncias.

O retalho também está a mudar de forma muito substancial. Quais são os maiores desafios?
Acredito que a sustentabilidade será muito relevante quando se fala de consumo. Não acho que será a questão “se devemos ter um produto”, mas antes uma questão de perceber se marca que compramos tem ou não preocupações sustentáveis. Os consumidores vão querer a verdade.
Há alguns anos falávamos do fim do retalho físico e de uma migração para o online, mas acredito que ambos devem de coexistir e servem um propósito. A questão é como se combinam para servir os clientes. Pode ser um department store, uma loja física, ou online, mas todos servem um propósito.

A Axel Arigato abriu recentemente lojas físicas. Sendo uma marca nativa digital, como é comportamento do consumidor? Utilizam a loja apenas para experimentar produtos ou efetivam as compras fisicamente?
Ambos, depende do consumidor. Pessoalmente, existem alturas em que prefiro comprar online e receber em casa. Noutras alturas, sinto necessidade de sentir e experimentar o produto. Há muitos benefícios para uma marca em ter espaços físicos. É possível criar brand awareness, servir os clientes de uma forma diferente e personalizada. A indústria precisa de compreender como é que se pode transportar o serviço de uma loja física para uma experiência no digital.

Para nós, e quanto marca é importante construir uma comunidade e por isso realizamos muitos eventos nas nossas lojas. Eventos musicais, festas de limpeza de sneakers (chamamos-lhes  sneakers cleanning churchs) que servem, no essencial, para riar uma comunidade e um propósito para seguir a marca.

O que podemos esperar para o futuro da marca?
Continuaremos a desafiar tudo o que fazemos e como fazemos. A pandemia mostrou-nos que não podemos dar nada por garantido. Estamos a registar um crescimento grande e precisamos de nos desafiar para sermos bem-sucedidos. Como todas as marcas, temos red flags… sustentabilidade e qualidade são assuntos que temos sempre em mente. Mas o essencial é manter o consumidor no centro de todas as decisões.

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