“Temos uma tarefa gigantesca pela frente”
Esteve recentemente na Ação de Demonstração do setor do calçado, onde foram apresentados os primeiros resultados do projeto Bioshoes4all. Com que impressão ficou?
Conheço muito bem o setor do calçado, e fiquei muito agradavelmente surpreendido. O setor está a dar passos decisivos para a sustentabilidade e a apostar em projetos de produção de economia circular.
O setor do calçado está a reaproveitar os materiais em projetos inovadores e com design avançado. Apesar dos desafios que tem pela frente e a concorrência a nível mundial, o calçado pode continuar num lugar privilegiado dentro da economia portuguesa se implementar novas formas de produção com respeito pelo meio ambiente. Essa é uma vantagem competitiva.
É um dos setores mais exportadores e criadores de emprego da nossa economia. E as empresas do setor, presentes no Bioshoes4all, continuam a apostar na inovação e na sustentabilidade, o que me deixou muito agradado
Nesse dia, admitiu que quer tornar Portugal mais atrativo para os jovens e que isso também passa por um país mais dedicado à transição climática... O que nos falta para reter talento?
Falta-nos oferecer melhores salários aos nossos jovens. Temos de ter uma economia baseada em empregos qualificados e em salários mais atrativos. Só assim se pode reter talento.
Isto não se faz por decreto. Não é o Governo que cria empregos, são as empresas. O Governo tem de criar condições de estabilidade governativa e fiscal para que as empresas possam investir em segurança.
De que forma está o Governo a apoiar as empresas na transição para processos de produção mais sustentáveis?
Temos de apostar num modelo de desenvolvimento sustentável, numa visão circular da economia. O Governo já canalizou para o setor mais de 80 milhões de euros para desenvolver projetos no seio do BioShoes4all, que apostam na inovação e na sustentabilidade.
Também o COMPETE tem verbas e fundos disponíveis para as empresas. O ciclo de vida dos produtos tem de estar assente na redução, na reutilização, na recuperação, regeneração e reciclagem.
Quais são as metas específicas que o Governo estabeleceu para reduzir a pegada de carbono nos próximos anos?
Portugal está apostado na utilização das energias renováveis. Queremos mais eficiência energética e aumentar a produção de energias renováveis. A meta para a produção de eletricidade com base nas energias renováveis, para 2026, é de 80%.
Queremos alcançar a neutralidade carbónica até 2045. Isto significa que temos de reduzir mais de 85% das emissões de gases com efeito estufa. Por isso, é preciso continuar a investir na produção de energia hídrica, eólica, fotovoltaica e no hidrogénio verde.
A Agência Portuguesa do Ambiente já sinalizou que a deposição de resíduos em aterro em 2022 foi de 57%, quando a meta da UE é de 10%. Temos, por isso, uma tarefa gigantesca pela frente.
Que tem de envolver o Governo, empresas, trabalhadores e, fundamentalmente, os cidadãos. Os produtos sustentáveis têm de ser a regra e, estou certo, o setor do calçado vai no bom caminho, a impulsionar modelos empresariais circulares e a capacitar o consumo para a transição ecológica.
De que forma o PRR pode contribuir para uma economia mais verde?
O Programa do Governo e o PRR, visa uma economia mais eficiente e uma sociedade mais sustentável. Nesse sentido, o PRR aposta no apoio à economia verde e em processos de transição energética e de digitalização.
O setor do calçado está preparado para competir nos mercados mais desenvolvidos do mundo. Portugal tem no setor do calçado empresas que produzem produtos de grande qualidade. Penso que a qualidade da nossa indústria de calçado, no que diz respeito ao segmento “luxo”, já rivaliza com a Itália.
Há várias iniciativas comunitárias a serem ultimadas, como o passaporte digital, que terão impacto na nossa economia. No seu entendimento, as empresas portuguesas vão estar preparadas para os novos desafios?
As empresas portuguesas de calçado são das melhores Europa. Têm uma grande capacidade de inovação e investigação. A APICCAPS tem feito um trabalho notável nesse sentido e tenho a certeza que esse trabalho se vai repercutir no setor.
Os empresários portugueses são resilientes e arriscam. O que a economia e as empresas precisam é de estabilidade governativa e fiscal. Este Governo está empenhado nas duas tarefas.
Quais são as expectativas do Governo em relação ao impacto económico da adoção de práticas sustentáveis na nossa economia?
O Governo português está empenhado na transição energética, na descarbonização da economia e na criação de um modelo de desenvolvimento mais sustentável. As práticas sustentáveis são uma inevitabilidade. Portugal continuará a ser um exemplo internacional, capaz de contribuir para o objetivo global de travar as alterações climáticas e de preservar o meio ambiente.