Nelson Gomes, Apple of Eden
Depois de um ano de 2022 de forte fulgor, todos os principais players de calçado enfrentam dificuldades no corrente ano, com quebras ao nível da produção e das exportações. No seu entendimento, a que se deve isso?
No meu entender esta quebra deve-se à falta de poder de compra por parte do consumidor final. E este é o principal motivo. Aumento da inflação e das rendas são a génese do problema. Ora, na conjuntura atual, as famílias não têm capacidades para assumir as despesas primárias, como habitação, alimentação e energia. Dificilmente conseguem esticar o orçamento para comprar calçado.
Não podemos esquecer igualmente o aumento exponencial durante a pandemia das compras online devido à poupança que as pessoas conseguiram fazer, bem como a deslocação das produções do Extremo Oriente para a Europa nesse período e que agora já não acontece.
Numa situação conjunturalmente complexa, de que forma podem as empresas contornar as dificuldades?
Neste momento não consigo visualizar alguma falta grave por parte das empresas do sector do calçado. Muito pelo contrário, toda a indústria do calçado foi altamente modernizada, quer a nível de condições de trabalho, flexibilidade e inovação, o que ajudou ao enorme crescimento da indústria nos últimos anos.
A única solução que eu vejo é reivindicarmos a diminuição da carga fiscal para as empresas, mas principalmente a das famílias. Porque as famílias são as que compram o produto das empresas e não adianta ter um produto e um serviço fantástico se não tiver ninguém que o possa adquirir.
Quais são os principais argumentos competitivos que as empresas portuguesas podem esgrimir para superar a concorrência?
Quais são os principais argumentos competitivos que as empresas portuguesas podem esgrimir para superar a concorrência?
Qualidade, serviço, flexibilidade e olhos sempre postos na sustentabilidade continuarão a revelar-se como os principais argumentos competitivos para a indústria portuguesa.
A continuação do nosso processo evolutivo fará toda a diferença face aos nossos ditos concorrentes que simplesmente não têm estes atributos, quer pela distância quer pelo respeito pelas normas Europeias.
Os dados das grandes organizações internacionais apontam para uma recuperação económica, ainda que moderada, em 2024. Acredita que o próximo ano seja melhor para o calçado português?
Fico esperançoso que estes prognósticos sejam verdadeiros, mas face à conjuntura atual, poderá ser demasiado otimista.
Fico esperançoso que estes prognósticos sejam verdadeiros, mas face à conjuntura atual, poderá ser demasiado otimista.
Para que a recuperação económica se efetive em 2024, teriam que acontecer vários fatores em simultâneo. Muitas dessas decisões passam em exclusivos pelos governos e pelo Banco Central.
Numa fase em que o Orçamento de Estado começa a ser negociado, no seu entendimento, que medidas extraordinárias deveriam ser tomadas para relançar a atividade económica em Portugal?
Penso que neste momento a carga fiscal sobre as famílias e as empresas é o principal redutor do crescimento. De nada importa ter um produto de excelência se as populações não têm o poder de o adquirir.
Penso que neste momento a carga fiscal sobre as famílias e as empresas é o principal redutor do crescimento. De nada importa ter um produto de excelência se as populações não têm o poder de o adquirir.