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Estado da Indústria: Pedro Pereira

Estado da Indústria: Pedro Pereira

27 Nov, 2023

Pedro Pereira, Reve de Flo


Depois de um ano de 2022 de forte fulgor, todos os principais players de calçado enfrentam dificuldades no corrente ano, com quebras ao nível da produção e das exportações. No seu entendimento, a que se deve isso?

O ano de 2022 foi um ano bastante “particular” para a grande maioria das empresas. Estávamos a recuperar do período do Covid, uma situação para a qual nenhuma das empresas (ou país) estavam preparadas e onde as pessoas mudaram completamente os seus hábitos de compra, apostando cada vez no mercado online devido ao facto de não poderem sair das suas residências para ir às lojas. Esta alteração, juntamente com o crescimento que as redes sociais tiveram neste último par de anos e com a vontade que as pessoas tinham em “consumir” depois do período de isolamento fez com que o consumo e as vendas online tivessem um boom que, consequentemente, levou a grande maioria das empresas de calçado a terem também um crescimento no seu volume de encomendas.

No entanto, com o decorrer do ano de 2022 e passagem para o ano de 2023 sem um fim à vista na Guerra da Rússia com a Ucrânia, o início de outros conflitos, a escalada de preços a nível energético que se refletiu num aumento ao nível geral a nível dos preços dos materiais e do produto final e na minha opinião, um provável exagero nas compras por parte de alguns dos principais players do calçado, levaram a que numa altura em que o consumo diminuiu (devido a uma crescente dificuldade financeira a nível global) as grandes empresas tivessem bastante stock “empatado” e arriscassem menos a nível das compras e sobretudo, a nível de apostar em novos produtos.

 
Numa situação conjunturalmente complexa, de que forma podem as empresas contornar as dificuldades?
Todas as condicionantes que mencionei na questão acima vieram trazer dificuldades acrescidas às empresas, por um lado devido ao aumento que tivemos em todos os materiais e que, naturalmente, tivemos de aplicar no produto final e, por outro lado, porque num período de maior crise os clientes negoceiam cada vez o preço final do produto.

Nesse sentido, para tentarmos contornar as dificuldades, temos obrigatoriamente de ser cada vez mais eficientes e analisar estrategicamente todos os investimentos para perceber se vale a pena uma alocação, ou não, dos recursos financeiros da empresa. Em simultâneo temos também de assumir, sem rodeios, que o único caminho viável para as empresas portuguesas é a aposta em mercados e em clientes de maior valor acrescentado e temos de trabalhar arduamente nesse sentido, de forma a conseguirmos evitar as “guerras de preços” e levar os novos produtos a cliente que realmente compreendam e valorizem a qualidade assegurada pelo cunho “Made in Portugal”.

Quais são os principais argumentos competitivos que as empresas portuguesas podem esgrimir para superar a concorrência?
Além da qualidade reconhecida do calçado português, que obviamente temos de trabalhar por manter e/ou melhorar, na minha opinião as empresas portuguesas podem superar a concorrência pela sua flexibilidade de produção e rapidez de resposta tanto a nível produtivo como a nível de novos desenvolvimentos. Atualmente vivemos num mundo em que o “digital” e as redes sociais fazem com que os clientes queiram tudo com a maior rapidez possível para colocar o produto no mercado e é nesse sentido que nos podemos diferenciar, fazendo novos produtos em timings que outros não conseguem e, se necessário, adaptar a produção a quantidades mais pequenas que vão também permitir aos nossos clientes muitas vezes testar o produto no mercado e analisar o seu potencial.

Os dados das grandes organizações internacionais apontam para uma recuperação económica, ainda que moderada, em 2024. Acredita que o próximo ano seja melhor para o calçado português?
 
Honestamente não acredito que o ano de 2024 seja o ano da recuperação económica para o setor do calçado. Penso que o final do ano de 2023 e os primeiros meses do ano de 2024 ainda serão bastante complicados para as nossas empresas e que teremos uma luta constante por nos mantermos “vivos” enquanto esperamos, com bastante ansiedade, que o panorama internacional regresse à “normalidade” ou, pelo menos, que toda esta incerteza económica se mantenha minimamente estável para que tanto as empresas como as pessoas consigam fazer algum planeamento nas suas vidas.

Numa fase em que o Orçamento de Estado começa a ser negociado, no seu entendimento, que medidas extraordinárias deveriam ser tomadas para relançar a atividade económica em Portugal?

Do que temos visto nos últimos anos, penso que não podemos esperar uma ajuda significativa por parte do governo no novo Orçamento de Estado.
Vamos ter novamente um aumento do salário mínimo, salário esse que penso que todos nós concordamos que é baixo, mas é um aumento que não pode continuar a ser suportado integralmente pelas empresas e com um maior benefício para o governo do que para os colaboradores. É fundamental que as taxas contributivas sejam revistas para que as empresas pelo menos sintam que os custos que têm resultam realmente num aumento de salário do trabalhador e da sua qualidade de vida, contrariamente ao que acontece agora em que o estado leva uma parte demasiado significativa do salário do colaborador.

Além disso, temos de dizer com clareza que a grande maioria do tecido empresarial em Portugal são PME’s que lutam diariamente para conseguir cumprir as suas obrigações financeiras e chegar ao final do ano com algum fundo de maneio que permita assegurar os salários em alturas de maior crise e que são estas empresas que fazem o país avançar, por isso era importante que o governo olhasse mais para as PMEs na altura de delinear medidas de apoio às empresas.



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