APICCAPSAPICCAPSAPICCAPS
Facebook Portuguese Shoes APICCAPSYoutube Portuguese ShoesAPICCAPS

Geração 4.0: Stéfanie Branco

Geração 4.0: Stéfanie Branco

26 Jul, 2022

Conheça a fundadora da Asa Leather Work


Formada em Arquitetura há 12 anos, frequentou em 2017 e 2018 o Curso de Técnico Especialista em Design de Calçado no CFPIC. Pelo meio frequentou diversas formações que contribuíram para lançar uma marca própria: a Asa Leather Work (ASA).

Como nasceu a Asa Leather Work?
Na verdade, a ASA nasceu em 2010 mais focada na área no Calçado. Nesse momento estava a trabalhar como arquiteta em Paris e como não encontrava os “sapatos ideais” decidi fabricá-los eu. Na altura, fiz uma formação de produção manual de calçado, e consegui fabricar o meu primeiro par de sapatos inteiramente à mão.  Foi nesse momento que nasceu a minha paixão por Craftsmanship. O mais engraçado foi que, passado pouco tempo descobri que o meu bisavô Luis Esperança tinha sido sapateiro, bem como grande parte da família da minha mãe.

Era algo que desconhecia quando comecei a fabricar sapatos, mas depois disso, foi uma alegria imensa ouvir a minha família contar histórias sobre o meu querido bisavô, e desta forma, conhecê-lo um pouco melhor. Foi então que percebi que, na realidade essa paixão já corria nas minhas veias desde há gerações, e por isso, foi naturalmente que nasceu a ASA. ASA (em malaio) quer dizer “Esperança”, e é um tributo ao meu bisavô Luis Esperança. Esse nome fez todo o sentido na altura, por ser uma grande admiradora de pássaros, e de,na altura, querer mesmo asas para voar :)
Em 2016 regressei a Portugal para seguir a formação de Design de Calçado no CFPIC, seguida por uma experiência profissional com as minhas queridas Inês Caleiro e Maria Inês Rodrigues na GUAVA. Foi uma experiência fantástica pela aprendizagem, pelo lado humano, companheirismo e grande amizade que existia na equipa.

Gostei muito da experiência na área do calçado, mas faltava-me o lado artesanal e o fabrico manual. Em 2018, quando regressei a Lisboa fiz um pequeno workshop de um fim-de-semana de fabrico de marroquinaria, continuei a praticar sozinha em casa durante algum tempo, e a vender para amigos. Até surgir a ASA Leather Work foi um passo. Agora sim, encontrei o meu caminho.  

Quais os elementos diferenciadores da marca?
A ASA é uma marca Premium e Sustentável de marroquinaria feita por medida. Todos os produtos são costurados à mão, inspirados na técnica “Couture Sellier” da Hermès, com couros oriundos de stock parado de fábricas nacionais. No fundo, a ASA é uma experiência na qual oferecemos artigos personalizados aos consumidores que procuram um produto que não conseguem encontrar no mercado, exclusivamente fabricados para eles, em edição numerada e limitada.

A nossa abordagem sustentável passa por priorizar o Slow Fashion. Em primeiro lugar, fabricamos todos os nossos produtos por medida e personalizados, evitando stock e desperdício: as nossas clientes acabam por comprar um produto que vai de encontro ao que necessitam e por isso, compram melhor e menos. Usamos couros portugueses que, de outra forma seriam desperdiçados ou deitados ao lixo apesar de estarem em excelente qualidade, contribuído desta forma, para a economia circular. Por último, costuramos e fabricamos tudo manualmente para uma maior durabilidade: a costura manual é uma técnica muito mais resistente do que a feita à máquina, porque é efetuada com 2 agulhas que passam no meu furo. É muito difícil desfazer esse tipo de costura.

Por outro lado, desenvolvemos também modelos totalmente novos a pedido de clientes, assim como protótipos para pequenas marcas. Mais recentemente lançamos oficialmente uma série de pequenos workshops para colmatar a procura de quem desejava aprender esta técnica artesanal. Quando comecei na área da Marroquinaria, foi quase impossível encontrar em Portugal pessoas que usassem a técnica manual da Hermés.  Por isso, hoje, o nosso maior desejo é perpetuar esta arte e impedir que se torne obsoleta.

O que mais a fascina neste setor?
Essa pergunta é difícil! Diria tudo. Desde o cheiro dos couros e da cola, ao som do trabalho da pele, trabalhar com as mãos e até o rigor da modelação e dos acabamentos. A meu ver, a marroquinaria permite muito mais liberdade criativa do que o calçado, e o facto de poder desenhar, modelar, fabricar tudo de A a Z é incrivelmente gratificante.
Devido à minha formação, tudo o que desenho tem inspiração em arquitetura, design, cinema, fotografia, pintura, escultura… é uma componente intrínseca e reflete-se no design da ASA. Adoro poder criar algo irreverente mais ainda assim, funcional e possível de se usar. Toda a parte técnica da marroquinaria assemelha-se muito ao que faço num projeto de arquitetura, por isso, neste sector sinto sempre que estou a construir uma mini casa para as minhas clientes levarem a sua vida lá dentro    
O outro lado fascinante, é o de poder ensinar técnicas a artesãos que estão a iniciar. Na marroquinaria a passagem de conhecimento só pode ser feita praticando e verbalmente. Mesmo que esteja num dia mais intenso, sinto-me ganhar ASAs quando dou uma workshop.  

O que é que acham que esta nova geração que está a entrar para o setor tem para oferecer?
Acredito que a nova geração tem grande poder inovativo e ideias fora da caixa. Para além de uma abertura sobre o mundo incrível, graças `a imersão nas tecnologias digitais.

Estamos a ver surgir cada vez mais ideias disruptivas, com um foco na sustentabilidade, economia circular e responsabilidade social. Em contrapartida, existe igualmente uma vontade crescente de regressar às raízes, fugir das cidades e redes sociais, voltar a criar com as mãos e simplesmente focar no essencial. Com a venda online, as novas gerações perceberam que, hoje é possível trabalhar em qualquer parte do mundo com melhor qualidade de vida, e fazer o que verdadeiramente os apaixona.

Recentemente fui selecionada para o Worth Partnership Projet II em parceria com a marca Trendipeople. A Trendipeople é uma plataforma que conecta num único site/app, um conjunto de artesãos de todo o mundo e clientes que procuram produtos feito por medida e/ou artesanais. A meu ver, ligar, por exemplo, duas vertentes aparentemente tão díspares — tecnologia e ofícios artesanais — pode ser uma nova forma de criar negócios no futuro.  
 
Que conselho daria a um jovem que está a começar?
Não querendo dar conselhos, falarei por mim e no que tento fazer, ainda que não seja sempre fácil manter esse mindset todos os dias. Sentir, primeiro que tudo. Não criar um negócio para gerar riqueza. Se for esse o objetivo não será fácil resistir nos momentos mais difíceis. O que nos mantém firmes é a paixão por exercer determinada atividade. Sem isso, torna-se complicado. Por outro lado, Acreditar, Começar, Errar, Fazer melhor, avançar; errar de novo, melhorar, avançar…

Basta ler qualquer biografia ou ver qualquer documentário sobre as personalidades mais inspiradoras deste planeta, para perceber que o que as motivou foram valores: melhorar o mundo, diminuir a pobreza, mudar mentalidades, fazer algo nunca feito, criar um produto inovador… Por detrás disto tudo estão emoções sentidas nas “tripas”, o que no fundo é, lutar e trabalhar para algo muito maior do que nós próprios. Sem essa convicção e resiliência, nem sempre é fácil manter um negócio.  

Por vezes os setores industriais em Portugal não veem com bons olhos ideias novas, porque simplesmente é algo que nunca fizeram. Ouvimos muitas vezes “não fazemos” ou “não é possível”. Quando ouço essas palavras, quer na marroquinaria ou no meu trabalho de arquiteta, recordo-me sempre do que dizia a Inês Caleiro da Guava quando começou a fabricar os seus saltos geométricos em Portugal e não conseguia encontrar um parceiro: “Não diria que sou obsessiva, mas sou teimosa. Quando acredito que uma ideia vai funcionar, mesmo que os fabricantes digam “não dá” ou “não funciona”, tento sempre pensar em formas e opções para chegar onde quero”.


Partilhar:

Últimas Notícias