Despontou cedo como manequim e desfilou nas principais passarelas internacionais. Começa agora a dar passos consistentes na vertente empresarial, com a abertura da primeira loja na 5ª Avenida, em Nova Iorque. Eis Armando Cabral.

Como defines a tua carreira no universo da moda ?
Tenho sorte de ter uma carreira que se estende por mais de duas décadas no mais alto nível. Uma carreira que me deu tanto de várias maneiras. Quando comecei na moda o meu objetivo era apenas fazer bem o meu trabalho e viajar pelo mundo. Mas o que recebi em troca foi uma carreira repleta de grandes conquistas e que me valeu o respeito dos meu colegas e da indústria. A mesma carreira que me expôs ao mundo do empreendedorismo e ao calçado.

Recordaste de algum momento especial na passerelle?
Tive muitos momentos marcantes nas passarelas ao longo da minha carreira. Mas o momento mais recente e mais memorável foi o último desfile de Dries Van Noten em Paris, em junho passado. Foi um momento mágico, vendo tantas pessoas do passado, todas num só lugar. Tendo trabalhado com Dries durante grande parte da minha carreira, foi muito especial ser chamado para fazer parte do seu último desfile.

Em que momento decidiste lançar a tua maca?
Lancei a minha marca em 2009, num momento muito difícil da minha vida pessoal. Tinha acabado de perder a minha mãe, e nada fazia sentido para mim. Para transformar essa energia negativa, quis fazer algo positivo por mim. Pensei: tenho um diploma em gestão, estou na moda e adoro calçado. Comecei a brincar com a ideia e a contactar pessoas que conhecia para me ajudarem e darem conselhos. E, antes que me apercebesse, a marca nasceu.

No dia de hoje, modelo ou empresário? Em que papel te sentes mais confortável?
Ainda consigo gerir as duas coisas. Mas a maior parte do meu tempo é dedicada ao negócio. Estou numa posição muito privilegiada com a moda onde já não tenho de fazer tudo. Sou capaz de selecionar trabalhos de forma estratégica.

Abriste a tua primeira loja no Rockefeler Center e mais recentemente chegaste à 5º Avenida e ao Sack.
Quais são os teus objetivos para o crescimento da marca Armado Cabral?
A abertura da nossa primeira loja nos EUA, no coração de Nova Iorque, no Rockefeller Center, foi um marco enorme para a marca. Ainda melhor foi a mudança para a 5ª Avenida. É um passo na direção certa na nossa estratégia de expansão e uma oportunidade para servir melhor os nossos clientes.
O objetivo é posicionarmo-nos em mercados chave com as nossas próprias lojas físicas, para permitir aos clientes entrarem no universo Armando Cabral.  A loja na 5a Avenida reforça o nosso compromisso em criar uma experiência de compra personalizada e envolvente, conectando os clientes à rica história cultural da marca.

Como definirias a tua marca?
A marca Armando Cabral é uma marca de calçado e lifestyle de luxo conhecida pelo seu estilo intemporal, conforto e artesanato de qualidade, combinando herança africana com a qualidade artesanal Europeia. Trabalhamos materiais de qualidade e influências culturais, oferecendo sapatos que se adaptem perfeitamente a um estilo de vida dinâmico.

Ainda que a tua marca tivesse sempre uma forte ligação a Itália, onde começaste por produzir os teus sapatos, recentemente começaste a colaborar com a indústria portuguesa de calçado. Porque o decidiste fazer?
Desde o início, a ideia foi produzir a Armando Cabral em Portugal. Infelizmente, deixei Portugal no início dos anos 2000 para ir estudar em Londres e não tinha contactos com as fábricas do Norte. Além disso, na altura, o meu Diretor Criativo, Rocky Zambrano (ex-diretor criativo de calçado e acessórios da Hugo Boss), estava a vir de Itália e conhecia todas as fábricas da região. Por isso, decidimos manter a produção em Itália, por razões óbvias: eficácia de custos de viagem e o acesso dele às melhores fábricas. Apesar de a nossa primeira coleção ter sido produzida em Itália, lancei a marca em Portugal.
Isso confirma o meu interesse em querer produzir em Portuga desde o inicio.

Mas a minha recente visita às fábricas em Portugal realmente abriu-me os olhos e impulsionou-me a tomar a decisão de produzir em Portugal. O tão aguardado regresso a casa está finalmente a acontecer.


Qual a tua opinião sobre o calçado português?
O calçado português é sinónimo de qualidade, tradição e herança. Na minha opinião, durante muitos anos, faltaram esforços de marketing para promovê-lo pelo que realmente é. No passado, acho que as pessoas associavam Portugal a habilidades básicas de fabrico de calçado, com produção a baixo custo. O que é contrário ao que oferecemos – qualidade, preço competitivo e um know-how que se expande ao longo de séculos. Graças às ótimas iniciativas de sensibilização da APICCAPS, os esforços de promoção estão finalmente a dar frutos.

Quais os principais atributos da indústria portuguesa que aconselharias a um colega teu americano?
Portugal tem uma longa tradição na fabricação de calçado, com um know-how, uma tradição, uma qualidade e um património único. Só isso já é um atributo muito atrativo quando falamos da indústria de calçado portuguesa. Dito isto, acho que é fácil vender a marca 'Made in Portugal' aos meus colegas americanos como tem vindo a ser. Só precisamos fazer mais disso e continuar a aumentar a notoriedade.


Sapatos há muitos…qual o teu modelo preferido?
O meu estilo de sapato favorito é o loafer. Vai bem com tudo, pode ser usado de forma mais elegante ou casual.