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Lineapelle: indústria de componentes prepara futuro

Lineapelle: indústria de componentes prepara futuro

20 Mar, 2023

Mais de 24 mil compradores visitaram a Lineapelle


Making tomorrow bloom (fazer florescer o amanhã) foi o slogan da Lineapelle para a edição de fevereiro. O objetivo era claro: ser a edição de regresso à normalidade. E, de acordo com a organização, a meta foi cumprida.

A edição 101 da Lineapelle, dedicada à temporada de verão de 2024, fechou com um sentimento de grande energia, que foi confirmada pela grande afluência de compradores e pela qualidade do trabalho de networking realizado na feira. Os 1.161 expositores presentes na feira, oriundos de 42 países (61,7% italianos, 38,3% estrangeiros) receberam mais de 24.000 compradores: um crescimento de 55% comparando com a edição de fevereiro de 2022, e de 6% em comparação com a edição de inverno (setembro de 2022). A organização admite que esta foi uma “edição de regresso à normalidade pré-pandémica”, uma vez que 41% dos visitantes chegaram do estrangeiro, com particular destaque para visitantes europeus (Alemanha, Espanha, França, Portugal, Reino Unido e Países Baixos), bem como dos Estados Unidos.

Na Lineapelle, entre empresas de componentes para calçado de curtumes, a delegação nacional foi assegurada por 33 empresas. Pelos corredores da feira, as empresas nacionais apresentaram novidades e tendências para o verão 2024.

A Multicouro é uma das empresas repetentes neste certame. “Fazemos a Lineapelle há muitos anos e vamos continuar a fazer porque é um palco de excelência para apresentar as nossas coleções e artigos, para contactar com clientes, por exemplo da Ásia e da América do Sul. Este é o momento em que estes clientes vem à Europa e podem conhecer os produtos. é também um momento de confiança e de fortalecer relações", defende Rodolfo Andrade. “É muito importante conseguir contactar com os nossos clientes diretamente, reduzindo a necessidade de os visitar. Temos muitos clientes da América do Sul e do Norte e a Lineapelle permite-nos estar em contacto com eles e fazer novos contactos”, defende Ricardo Pinto da Combocal.

Na bagagem, as empresas portuguesas de componentes e curtumes levaram novas tendências para a próxima estação quente. E a sustentabilidade foi, uma vez mais, o denominador comum a todas. Mais informados e mais exigentes, os clientes já procuram produtos concretos. “Diria que a histeria coletiva passou e a informação agora flui melhor e, por isso, os clientes estão mais bem informados. A indústria dos sintéticos tentou passar a ideia de que o couro era um produto nocivo, mas essa ideia já foi desconstruída. Os sintéticos são com base em PU e muito poucos sustentáveis. Pelo contrário, o couro é natural, biodegradável, subproduto da indústria alimentar e chegamos a conclusão de que não usarmos este couro vamos ter um problema muito grave”, avança Rodolfo Andrade.

Também a Combocal apresentou várias propostas surpreendentes de incorporação de resíduos. Fibra da bananeira, arroz, cortiça e milho são apenas algumas das opções.  “Nos últimos anos temos investido muito em duas grandes áreas: na investigação de novos produtos amigos do ambiente e nas certificações ambientais. Em primeiro lugar porque o mercado procura e, em segundo lugar, porque queremos dar aos clientes novas opções mais amigas do ambiente. Uma grande parte da nossa produção tem incorporação de borracha reciclada. E é algo que acreditamos que pode ser potenciado”, defende Ricardo Pinto. O responsável comercial da Combocal explicou ainda que existe uma segunda linha de produtos, “os bio-compositos de borrachas, onde incorporamos vários resíduos, como por exemplo resíduos de fibras de bananeira. Muitos resíduos são reencaminhados para empresas de reciclagem, mas muitos tem como destino o aterro. O que tentamos fazer é dar uma segunda vida a resíduos naturais. Ou seja, não permitimos o desaproveitamento energético. Ao incorporar estes resíduos nas solas estamos a reaproveitar os resíduos e, por outro lado, estamos a reduzir o impacto ambiental de um sapato”.

Os clientes reagem positivamente a estas opções. “Tem havido muito procura, principalmente nas fibras de bananeira. Mas existem outras alternativas, como as cascas de café que são recolhidas nas empresas que fazem a torrefação. Essas cascas são habitualmente direcionadas para aterros. Temos resíduos industriais de pneus, provenientes da lona de pneus”. Ricardo admite que o futuro passa pelas empresas serem cada vez mais “ecoeficientes, aproveitando os resíduos de produtos. Queremos ser uma empresa com 0% de resíduos”. 

A sustentabilidade e a tecnologia são uma parceria de sucesso. Quem o pode comprovar é a Bolflex. Na Lineapelle, a empresa de componentes apresentou uma aplicação exclusiva para os clientes. O objetivo é permitir que possam testar, através de tecnologia virtual, diferentes cores e diferentes tipologias de sola, sem ser necessária a produção de uma amostra física.

E como entra a sustentabilidade nesta equação? Com uma redução substancial do número de amostras. “Tínhamos dois problemas para resolver: o acesso dos clientes à informação e a quantidade de amostras, muitas vezes em diferentes cores, que o cliente precisava”. Esta nova aplicação permite “que o cliente experimente o corte com o tipo de sola de que está à procura. Temos um catálogo atualizado onde o cliente pode consultar tudo aquilo que temos e não necessitamos de ter uma amostra física para a ter no catálogo”, avança Flávio Ferreira.

Bolflex: sustentabilidade e tecnologia
A sustentabilidade é uma das traves-mestras da empresa. O grupo de Felgueiras tem, através da empresa Rubberlink, a patente única para o processo e produto de desvulcanização da borracha, que permite a sua reciclagem e reutilização no circuito produtivo. Tudo partiu do sonho do fundador da empresa, António Ferreira, de acabar com os resíduos da indústria de calçado em Portugal. Ao tomar consciência das toneladas de desperdícios que gerava a sua atividade industrial não desistiu enquanto não encontrou uma solução de dar uma nova vida aos resíduos.
Foram necessárias duas décadas de investigação, experiência e de muito investimento: cerca de oito milhões de euros só na última década. No ano passado, a empresa conseguiu patentear o processo de desvulcanização da borracha e o produto que daí resulta. Neste processo, nasceu a Rubberlink, que se compromete a "devolver a borracha reutilizável ao mercado, a preços mais competitivos que a borracha virgem e com uma qualidade de excelência", defende António Ferreira em declarações ao Dinheiro Vivo.
"São 220 toneladas por ano que deixam de ir para aterro", avança o responsável do grupo Bolflex. Mas a empresa não trata apenas os desperdícios da Bolflex. Além dos desperdícios de borracha, a empresa trata materiais não metálicos, sapatos, e termoplásticos de indústrias diversas. Mas não é só. A Rubberlink recebe e trata fatos de neoprene (usados, por exemplo, no surf), luvas de latex, perfis de automóveis e pranchas de EVA, entre outros materiais.
Embora a solução ainda não tenha “convencido” todos os industriais nacionais, o grupo já está a receber resíduos para tratar e valorizar oriundos de outros países, como Itália, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Suécia e até do Chile e dos EUA. O objetivo é atingir as duas mil toneladas de desperdícios tratados para terceiros, que devolve em pasta pronta a ser reutilizada. "Se não cresço em Portugal, cresço fora", admite António Ferreira em declarações ao Dinheiro Vivo.

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