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Primeira Entrevista de Luís Onofre

Primeira Entrevista de Luís Onofre

1 Out, 2017

É presidente da APICCAPS há menos de seis meses. Ainda está a “tomar o pulso” ao setor, mas projectos não lhe faltam. Luis Onofre, o mais prestigiado designer português de calçado concede a sua primeira entrevista ao Jornal da APICCAPS.
Recorda o passado, analisa o presente e



projecta o futuro. Tudo para ler nas próximas páginas.


Luís Onofre, designer, empresário e agora líder associativo. Como é conviver com estas realidades?
São realidades, de certa forma, complementares. Sou empresário há mais de vinte anos. Aliás, sou já um empresário de terceira geração. Fui aprendendo muito nesse período. Desde logo com o meu pai, a minha grande referência.
A APICCAPS surgiu mais recentemente. Primeiro, surgiu na qualidade de diretor, a presidência chegou bem mais tarde.

E como surgiu a Presidência da APICCAPS?
De forma inesperada. Foi através de um convite do Presidente Fortunato Frederico, que aceitei com gosto e espírito de responsabilidade.

É grande a responsabilidade?
Sim, indiscutivelmente. Sucedo a um grande empresário. A APICCAPS é hoje uma associação de inegável prestígio e espero poder honrar um passado que tanto orgulha os empresários. Mas, agora, é tempo da minha direção trilhar o seu caminho.


Queremos criar uma relação mais próxima com o cliente final


Pela primeira vez, existiram duas candidaturas à presidência da APICCAPS…

As eleições já terminaram. Agora é tempo de união. O setor de calçado deu, de resto, uma prova de grande pluralidade nestas eleições.
Uma das características que tornou a APICCAPS numa associação de referência, em Portugal e no exterior, é precisamente a lógica de união. O setor sempre falou a uma só voz e os (bons) resultados são visíveis aos olhos de todos. Esta é a estratégia que, estou seguro, todos iremos, em conjunto, continuar a desenvolver.

Será a primeira vez que um designer assume a presidência de uma grande associação industrial…

Talvez. Não sei precisar. Parece-me uma opção mais do que válida, até porque este setor se insere numa fileira mais alargada, a da moda. O calçado português já vai sendo reconhecido pela excelência da produção e qualidade, foi incorporando design e hoje, também desse ponto de vista, vai sendo atractivo. Gostaria que a criação e o design fossem cada vez mais um elemento distintivo desta indústria. Se puder contribuir para isso…

Que planos tem para a presidência da APICCAPS?

Considero que não é tempo de grandes rupturas. Mas, acredito que, com a equipa me rodeia, poderemos criar condições para que o setor seja definitivamente uma grande referência internacional, pela sofisticação e pelo bom gosto. No plano tecnológico, somos ainda mais ambiciosos: queremos ser líderes mundiais na utilização das novas tecnologias e aproveitar esta nova revolução digital. Ainda recentemente, na primeira reunião do Conselho Consultivo, conseguimos reunir mais de 50 empresários, procurado criar condições para um futuro ainda mais competitivo.


Não vamos poupar esforços nos Estados Unidos
Temos de consolidar a presença do calçado português nos principais mercados europeus


Já iremos ao Conselho Consultivo. Mas, para já, podemos começar pelas prioridades para os próximos anos. Por exemplo, no domínio da inovação…
Na área da inovação, no âmbito da Indústria 4.0, criaremos um verdadeiro roteiro para a economia digital no setor do calçado. À introdução intensiva de novas tecnologias, iremos seguramente potenciar as oportunidades criadas pela revolução digital. Queremos criar uma relação mais próxima com o cliente final. O desenvolvimento de produtos inteligentes, novos materiais, e a aposta na customização serão outras áreas a que dedicaremos especial atenção.

Quando será apresentado esse roteiro?
Admito que ainda o possamos apresentar até final do ano. Ainda estamos a trabalhar nesse documento. A reunião do Conselho Consultivo, por exemplo, foi muito importante, pois recolhemos contributos que nos parecem da maior utilidade para a apresentação de um programa que vá ao encontro de uma fileira com muitas realidades distintas.
Gostaria de destacar o excelente trabalho do Centro Tecnológico do Calçado. Desafio as empresas a procurarem o Centro e os seus técnicos. Esta nova revolução digital trará muitas oportunidades para todos.


Voltemos, então, ao Conselho Consultivo. Porque resolveu criá-lo?
O Conselho Consultivo é um órgão que, não sendo estatutário, foi criado pela Direção da APICCAPS precisamente para alargar a discussão sobre os problemas e desafios do setor a um conjunto muitíssimo alargado de empresários. Este Conselho Consultivo resulta de uma reflexão alargada da própria Direção, teve o contributo de todos os meus colegas, e procurou acolher empresários de gerações, regiões e mesmo sensibilidades distintas. Acolhe ainda todos os subsetores da fileira. Parece-me um grupo excelente e agradeço a todos aqueles que aceitaram o meu desafio.

Voltando aos grandes projectos, no domínio da formação e qualificação, serão esperadas grandes mudanças?

Uma das minhas primeiras iniciativas como presidente da APICCAPS passou por promover uma campanha de atração de jovens para a indústria. Queremos captar uma nova geração e teremos de promover várias ações, mesmo nas escolas secundárias, que nos permitam apresentar o setor de calçado como opção válida e de futuro para os jovens. Vamos insistir muito nesta área. É uma das grandes prioridades. A formação será sempre uma das nossas prioridades e, por isso, a aproximação à Academia assume, igualmente, a maior relevância. Também entendo que poderemos reforçar a ligação às universidades e lançar um programa de empreendedorismo. Estamos a criar as condições para isso. Ainda nesta área, gostava que fosse possível na minha presidência dar uma especial relevância à área do design de calçado, se possível criando um curso superior.

Tem alguma explicação para o facto dos jovens continuarem a fugir da indústria?

Não me parece que seja inteiramente verdade. Recordo que desde o inicio de 2010, a fileira do calçado já criou mais de 9.000 postos de trabalho
Esse não é, em todo o caso, um problema exclusivo da indústria de calçado. É um grande problema que nos afecta a todos. Foi com particular satisfação que vi, recentemente, o Governo, através da Secretária de Estado da Industria defender que a atracão de jovem para a indústria é uma das grandes prioridades ao nível da política económica. Temos de, em conjunto, saber apresentar a indústria como um setor moderno, evoluído, capaz de criar oportunidades de carreira e um futuro promissor.


Queremos ser líderes mundiais na utilização das novas tecnologias


Concorda com o aumento do salário mínimo?
Em termos de princípio, sim. Os salários em Portugal são genericamente baixos. Mas, considero que o aumento do salário mínimo deve ter em linha de conta várias ponderáveis. Não deve, por exemplo, ser dissociado do aumento da produtividade.

Disse recentemente que o absentismo é elevado e que as mulheres faltam mais do que os homens…
É factual. Todos os números apontam nesse sentido. A nossa sociedade evoluiu muito nas últimas décadas, mas as mulheres continuam a ser altamente penalizadas, diria mesmo que sacrificadas. Ainda nos falta fazer essa revolução.

A área da internacionalização e imagem sempre mereceu uma grande atenção da Associação. Continuará a ser assim no futuro?
Nem poderia ser de outra forma. O setor cresce há oito anos consecutivos nos mercados externos. Este ano acredito que atingiremos um novo recorde de exportações. O significam esses resultados? Que o trabalho nesta área está a produzir efeito. Mas temos de ambicionar mais. No domínio da internacionalização, os EUA serão a primeira das prioridades. Vamos dar muita atenção ao mercado, com ações comerciais em várias cidades, ações de imagem, comunicação… Vamos abordar os EUA como nunca fizemos. É o maior importador de calçado do mundo, o país de todas as oportunidades, e deve merecer todo o nosso esforço e atenção. Não vamos poupar esforços nos Estados Unidos.


Uma das grandes prioridades passa por captar uma nova geração


E outros mercados?
A aposta nos Estados Unidos não significa que esqueçamos todos os outros mercados, como o Japão. Iremos igualmente abordar um conjunto de países em que os acordos de comércio livre celebrados pela União Europeia criaram um grande potencial como Coreia do Sul, Singapura, Chile, Colômbia ou mais recentemente o Canadá. Também na Europa temos muito para fazer. Temos de consolidar a presença do calçado português nos principais mercados europeus. São os nossos mercados naturais. Na Europa, a capacidade de resposta rápida das nossas empresas deverá fazer a diferença.

E no plano da comunicação e da imagem?

Julgo que também nessa área temos muito para fazer. Desde logo, no plano digital. Todos reconhecerão que a imagem da nossa indústria mudou bastante nos últimos anos. Felizmente, para melhor. Mas conseguiremos, por certo, continuar este esforço, alargando a nossa campanha a outros suportes e, no essencial, a uma nova geração de consumidores.
Entendo, também, que toda a nossa estratégia de comunicação deve ser mais abrangente, agregando todos os segmentos da fileira.

O Cluster do calçado e noda é para avançar?
Já está a avançar. Está, aliás, na génese da criação da própria APICCAPS, que representa toda a fileira.
O calçado foi, mesmo, um dos primeiros setores a ser reconhecido pelo Governo como cluster de competitividade. Vamos dedicar muita da nossa atenção a este projecto.


A nossa sociedade evoluiu muito nas últimas décadas, mas as mulheres

continuam a ser altamente penalizadas, diria mesmo que sacrificadas.

Ainda nos falta fazer essa revolução.



Que avaliação faz deste Governo?
O balanço é naturalmente positivo. Sinto que o Governo está ao lado das empresas. Ainda recentemente, o Ministro dos Negócios Estrageiros e os Secretários de Estado da Indústria e Internacionalização estiveram connosco em Milão, na MICAM. O Ministro da Economia tem acompanhado de perto o setor. O ano passado, foi o Senhor Primeiro Ministro que nos acompanhou e tem procurado regularmente inteirar-se da realidade da nossa indústria.

A APICCAPS nunca teve uma posição propriamente crítica relativamente aos Governos…
Nunca deixamos de defender os interesses das empresas e do setor. E assim continuará a ser. Mas recusamo-nos a discutamos esses temas na praça pública. Mas mantenho o que disse: faço um balanço muito positivo da acção deste Governo.

Modalisboa ou Portugal Fashion?
Os dois. O ideal era que existisse uma semana da moda verdadeiramente integrada. Enquanto isso não acontecer, o setor do calçado, através da APICCAPS, e as suas empresas estarão naturalmente nas duas. Um e outro evento têm desempenho um papel importante na promoção da moda portuguesa.

A APICCAPS tem promovido várias iniciativas com a ANIVEC. É uma estratégia para manter?
Tem todo o sentido que a fileira da moda se organize e possa desenvolver, em conjunto iniciativas, de impacto no exterior. Essa é a nossa lógica de aproximação à ANIVEC, Associação de Vestuário, e à AORP, Associação de Ourivesaria.
No que se refere particularmente à ANIVEC e ao setor do vestuário, esta aproximação não só é desejável como necessária. São dois setores complementares, com estratégias bem definidas, mas com múltiplos pontos de interesse. Não tem sentido que, promovendo ações comerciais no exterior, não possamos encontrar elementos de convergência. Encontramos na ANIVEC uma associação de gente séria, competente e com vontade de construir.

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