A história dos homens bons nem sempre fica gravada nos grandes livros da História, mas invariavelmente fica gravada nos corações de quem se cruza com eles. É o caso da vida e obra de Fernando Henriques. Não só deixou uma marca na vida de quem o rodeava, como espalhou bondade no lugar que o viu crescer e deixou um legado na indústria de calçado.
Em 1935 nascia Fernando Henriques, em Fajões, Oliveira de Azeméis. Cresceu numa família já ligada à indústria de calçado e, talvez por isso, possamos afirmar que os sapatos não lhe escondiam nenhum segredo. A empresa com o seu nome foi criada no ano do seu nascimento, mas a ligação à indústria já vinha do tempo do seu pai e somará, agora, mais de um século.
Assumiu as rédeas da empresa em 1974, tornando-se a segunda geração da Fernando J Henriques. Mas a sua inquietude começa bem antes, em 1968, quando é responsável pela primeira exportação da empresa para França e, logo depois para a Bélgica. Ao longo dos anos, a empresa tornou-se uma referência internacional no fabrico de calçado clássico, produzindo sapatos para as grandes marcas internacionais.
A sua história pessoal funde-se com a da empresa e da própria indústria, onde fez amigos para a vida. Domingos Ferreira, da Centenário recorda: “Fernando Henrique, amigo, profissional muito dedicado e afável, sempre disposto a ir mais além. Exemplo de profissionalismo e ética. Partiu, mas não existe partida para aqueles que permanecerão eternamente na nossa memória”.
Carlos Santos recorda o momento em que formaram sociedade “Fomos bons amigos que se respeitaram sempre... e fomos sócios numa empresa que ainda hoje existe. Era um bom empresário. Gostava sempre de fazer o seu melhor no produto que fazia”. O responsável da Zarco recorda, ainda, a sua veia social “Gostava muito de o ouvir contar anedotas..! Lembro-me de uma ou mais viagens que fizemos para Itália e riamos muito com as nossas conversas! Foram bons momentos que passamos juntos, é verdade”.
“Sentimos todos que perdemos um companheiro e amigo. E perdemos, igualmente, uma referência na indústria de calçado, um homem com uma visão extraordinária para o seu tempo”, considera Manuel Carlos Silva, chairman da AICCAPS,
Fernando Henriques foi Presidente da Junta de Freguesia de Cesar ainda em 1970, com o país em pleno regime salazarista. Durante a sua presidência conseguiu dar a Cesar condições básicas como saneamento, escola e um centro infantil. A prova de que estaria muito à frente do seu tempo é o caso – recordado com carinho pela família - de ter alugado uma avioneta para sobrevoar a freguesia e decidir, assim, onde abrir estradas.
Muita da sua obra foi feita em silêncio, razão pela qual “benemérito silencioso” é um dos melhores adjetivos para a sua ação.
Em termos associativos, esteve ligado ao Futebol Clube Cesarense, tendo sido Vice-Presidente da Direcção nos anos 60, sócio benemérito e mais antigo do clube.
“Há homens que parecem eternos”. As palavras são da filha Fátima Henriques, mas são a melhor homenagem que se podem fazer a um Homem: desejar-lhe a eternidade.