Como estão as empresas a enfrentar o novo ano?
Com o novo ano surgem, no entanto, novos desafios. Na apresentação do Novo Plano Estratégico da APICCAPS, Luís Onofre alertava para “a previsível contração económica, o aumento dos custos, as taxas de juro crescentes e a perspetiva de crescimento dos salários em montantes muito superiores aos dos nossos concorrentes”, como obstáculos difíceis de enfrentar.
Serão, de resto, vários os fatores que elevam o clima de incerteza como “a escassez de mão-de-obra qualificada, o rápido e substancial aumento dos custos de produção, a emergência de novos canais de distribuição, a firmação de novos concorrentes, as alterações nas preferências dos consumidores, a incerteza sobre a evolução do consumo ou a disrupção nas cadeias de abastecimento internacionais”.
Como estão as empresas a enfrentar o novo ano? Que novos desenvolvimentos vão surgindo que possam condicionar a atividade empresarial? Serão já disponíveis novas janelas de oportunidade? Pedro Castro assume que a Aloft “conseguiu terminar o ano com um crescimento de 10% em relação a 2021”. Recorda, contudo, que “2022 começou com um aumento acentuado na atividade, mas que se veio a esfriar com o início do conflito na Ucrânia”, muito particularmente devido aos “muitos investimentos que ficaram congelados”. Por via do agravamento da situação internacional, “o clima de confiança no consumidor foi reduzido e com isso vimos reservas de produção não serem convertidas em encomendas efetivas. Os atrasos nas entregas de novos equipamentos produtivos motivados por falta de chips ou outros componentes e o forte aumento do custo de produção também veio agravar ainda mais este cenário”.
Já em 2023, o homem forte da Aloft assume que poderá “ser um ano de metamorfose para a empresa. A equipa está a crescer e vamos lançar novos materiais e tecnologias que desenvolvemos nos últimos tempos em ligação estreita com as Universidades e Academia. Queremos contribuir para revolucionar a forma e o tipo de calçado que é fabricado na Europa e, para isso, iniciamos um programa de investimento há cerca de 12 meses que verá a sua concretização durante 2023. Os resultados só serão visíveis nos anos seguintes, mas a nossa prioridade é assegurar uma equipa humana interna preparada e
capacitada para essa transição. Ampliamos também as nossas naves industriais com a expansão a mais 8000m2 de área de terreno e construção de um terceiro pavilhão com mais cerca de 1500m2. Quanto a negócios, muito vai depender da situação com os custos de materiais / energia e sobretudo do desenrolar do conflito na Ucrânia, mas estamos otimistas e motivados”.
No plano atual, Pedro Castro perspetiva que “a incerteza que paira sobre a economia europeia e a indefinição quanto às questões geopolíticas” serão motivo de preocupação. Adicionalmente, se no passado recente muitas marcas regressaram
à Europa, hoje já é percetível que “o interesse era esporádico e muitos não se concretizarão ou prolongarão no tempo. Com efeito, “a produção massiva na Ásia foi e é uma solução para uma parte significativa da produção de calçado, mas a pandemia e as tensões políticas e sanitárias confirmaram aos vários players que efetivamente não se podem colocar todos os ovos no mesmo cesto”. “Se a Europa – continuou - for capaz de reinventar o seu tipo de produção, através de investimentos em modernização de equipamentos, de formação dos seus quadros para novas tipologias produtivas e por liderança nos temas dos bio e eco materiais, ainda teremos uma carta forte a jogar nas próximas décadas”. Para isso será necessária “assunção de risco e motivação para enfrentar desafios de transformação”.
“Insuficiente e inferior ao habitual para esta época” é a avaliação que Pedro Carlos efetua do atual estado dos negócios. “Desejos tenho muitos, previsões nenhuma, já que o momento é de total incerteza”, continuou o homem-forte da Plumex. “Preços totalmente inflacionados das matérias-primas, receio de retração do consumo nos mercados” são, por esta altura, os principais constrangimentos atuais. Já a experiência acumulada perfila-se como principal nova janela de oportunidade para o
desenvolvimento de novos projetos.
Nelson Gomes, por sua vez, assume que “se vive num período de grande incerteza”. “Após dois anos de pandemia, onde não se sentiu nenhum tipo de desaceleração, muito devido à deslocação de encomendas antes fabricadas noutros países e aumento exponencial do mercado online nesse período, o ano de 2022 revelou já uma descida nas vendas quer nas lojas físicas e mais acentuado ainda nas lojas online”, considerou.
“A guerra na Ucrânia fez aumentar substancialmente os preços das matérias-primas e, consequente, aumentos dos custos de produção, com impactos diretos na nossa competitividade”. Também “o aumento da inflação retirou bastante poder de compra ao consumidor final”. “Todos estes fatores combinados implicaram uma certa retração nos negócios, principalmente no segundo semestre de 2022”. Para o responsável da Apple of Eden, “2023 será um ano de enormes desafios para a indústria do calçado”. “Teremos de estar na linha da frente, quer em termos de inovação, quer em qualidade e serviço para conseguirmos sobreviver”, apontou. Para além de dificuldades de natureza mais conjuntural (aumento do custo das matérias-
-primas e dos custos energéticos)”, Nelson Gomes lamenta a “elevadíssima carga fiscal, que reduz substancialmente a competitividade das empresas portuguesas face aos mais diretos concorrentes.
Nelson Gomes defende que “a nossa flexibilidade produtiva associada a uma localização geográfica privilegiada traz algumas vantagens”, em especial “num momento de retração económica”, uma vez que “a flexibilidade, rapidez e qualidade de
produção portuguesa nos poderão abrir as portas a novos clientes”. Pedro Pereira, por sua vez, recorda que “no caso da Reve de Flo, depois de três anos consecutivos em crescimento, o ano de 2022 revelou-se positivo até ao final do segundo trimestre do ano, tendo havido uma quebra significativa no último trimestre”. Um recuo inesperado que se deveu, no essencial, “à incerteza causada pelo aumento da inflação e continuidade da guerra na Ucrânia”. “Todos estes fatores - considerou o responsável da Reve de Flo, empresa de Oliveira de Azeméis especializada no segmento de moda feminina - provocam algumas dúvidas nos investimentos por parte dos nossos clientes, o que se refletiu no nível de encomendas e pedido de amostras mais tardios e com prazos de produção mais apertados”.
Para 2023, Pedro Pereira, admite “primeiros meses de alguma incerteza e, sobretudo, de muita negociação a nível de preços”, o que exigirá das empresas “encontrar novas soluções”. “Rapidez de resposta ao nível de entregas, flexibilidade nas produções mesmo nas amostras e qualidade de produção” serão, na ótica do responsável da Reve de Flo, “o maior valor acrescentado de forma a escapar às guerras de preços”.