O segundo dia e o couro
Começou ontem uma série de artigos sobre a semana da responsabilidade ambiental, uma iniciativa da APICCAPS e do CTCP. Hoje, conheça as conclusões do segundo dia de webinares.
O segundo dia e o couro
No segundo dia desta “Semana da Responsabilidade Ambiental na Fileira do Calçado”, a discussão centrou-se naquele que é um material fundamental na indústria: o couro. Gustavo Gonzalez-Quijano, Cotance; José Andrade, Curtumes Aveneda; Gonçalo Santos, APIC; Nuno Carvalho, Couro Azul; Narciso Ferreira, Curtumes Boaventura; Nuno Pateo Sousa, Dias Ruivo; e João Carvalho, Arspace, juntaram-se assim para debater “O Futuro do Couro”.
Num dia com muitos intervenientes, vários participantes começaram por referir a antiguidade deste material, tão intimamente ligado à história da humanidade, mas também a sua individualidade enquanto matéria-prima. Quase todos, aproveitaram também o tempo para abordar aquele que consideraram ser um dos maiores mitos em torno da matéria-prima, como clarificou Gustavo Gonzalez-Quijano, secretário geral da Cotance: “o maior mito é que os animais são sacrificados para se obter a pele. E esse é um mito bastante prejudicial porque corrompe completamente a credibilidade deste material que é um material de reciclagem”. Gonzalez-Quijano acrescentou ainda que “é preciso explicar que a pele não é mais do que um subproduto, é um resíduo da produção de carne e que se não for transformada, em pele, em couro, tem de se eliminar, com elevados custos para o meio ambiente.”
Já sobre o futuro do couro, os participantes partilharam diferentes abordagens, mas todas inevitavelmente a convergirem na sustentabilidade. Gonçalo Santos, secretário geral da APIC, começou por referir a preocupação do setor com a economia circular, explicando que “hoje, os industriais dos curtumes têm a preocupação de segmentar a produção e verificar em cada ponto da produção como é que podem aproveitar os resíduos” e que, atualmente, “esta circularidade é cada vez mais intensa”. Uma abordagem que todos os intervenientes acabariam por confirmar, direta ou indiretamente.
José Andrade, da Curtumes Aveneda, destacou a aposta da empresa no biocouro, um material que como explicou é “mais sustentável”, cuja “produção respeita os princípios da economia circular”, e que no final do seu ciclo de vida pode “regressar à terra”. Nuno Sousa, da Dias Ruivo, também apontou a aposta no biodegradável, afirmando que “[tratar o couro de forma vegetal] é um passo atrás em termos de tempo, mas consideramos que é um passo em frente”. Por seu turno, Nuno Carvalho, da Couro Azul, referiu que já desde “finais da década de 90 e 2000” que começaram a trabalhar uma “curtimenta wet white” e que em 2018, desenvolveram um “produto à base de extratos vegetais e da bolota”, um “artigo sustentável e biodegradável, com menos emissões”. O administrador da Couro Azul referiu ainda que a não utilização de crómio permite à empresa transformar e reaproveitar “quase 100% daquilo que sai da curtimenta”. Por seu turno, Narciso Ferreira, da Curtumes Boaventura realçou a importância das diferentes medidas aplicadas, em contexto de fábrica, como “a separação de resíduos”, “reaproveitamento de água”, ou “a utilização de energias limpas” e apontou ainda uma sugestão a nível global: “a redução dos corantes nos processos de tingimento”.
A terminar o dia, Gustavo Gonzalez-Quijano sintetizou: “mais circular que a pele não existe. Foi o primeiro produto de economia circular do mundo”.