Conheça, em detalhe, as oportunidades de negócio na Hungria
Sobre o caso polaco, em específico, este responsável lembrou que, há mais de 20 anos, a APICCAPS e as empresas de calçado realizaram uma forte ação de promoção na Polónia, mas que terá acontecido, eventualmente, antes do tempo. Duas décadas depois e com o desenvolvimento económico verificado, João Maia considera que é o momento de voltar a olhar com atenção para Leste, com ações muito focadas nestes dois países.
Com 10 milhões de habitantes e um território de 93 mil quilómetros quadrados, a Hungria situa-se na Europa Central e faz fronteira com cinco países comunitários – Áustria, Croácia, Eslováquia, Eslovénia e Roménia-, além da Sérvia e da Ucrânia que não são, ainda, membros da União Europeia. Um país que se assemelha, em população e em território, à realidade portuguesa. À primeira vista. Porque na verdade, lembrou Joaquim Pimpão, delegado da AICEP no país, há 65 milhões de habitantes num raio de 1000 km à volta de Lisboa, mas são 310 milhões de potenciais consumidores no mesmo raio de 1000 km à volta de Budapeste.
Apesar da dimensão similar em termos de população e território, quando se olha para as duas economias percebe-se que as diferenças são substanciais. A Hungria exportou bens no valor de 109,1 mil milhões de euros em 2019 e de 104,4 mil milhões o ano passado. As importações foram de 104,1 mil milhões em 2019 e 98,8 mil milhões o ano passado. No mesmo período, as exportações nacionais não foram além dos 59,9 mil milhões e dos 53,8 mil milhões de euros, respetivamente, enquanto que os bens importados totalizaram 80 mil milhões e 67,8 mil milhões de euros. O que significa que, enquanto Portugal registou um défice comercial de 20 mil milhões em 2019 e de 14 mil milhões no ano seguinte, a Hungria manteve um superavit de mais de cinco mil milhões de euros em ambos os anos.
Já os principais fornecedores da economia húngara são a Alemanha (24,4%), a China (7%), Áustria (6,2%), Polónia (5,6%) e Países Baixos (5,2%) que, juntos representam 48% das importações do país. O Top 10 é completado com a República Checa, Eslováquia, Itália, Rússia e França, que fornecem 66% do total de bens importados.
Com uma indústria própria, a Hungria é, simultaneamente, exportadora e importadora de calçado. Exportou, em 2019, mais de 25 milhões de pares no valor de 543 milhões de dólares. O preço médio é de 21,88 dólares. Importou, no mesmo ano, 73 milhões de pares, no valor de 663 milhões de dólares, a um preço médio de 9,05 dólares.
Os principais mercados de exportação de calçado da Hungria são a Alemanha (7,3 milhões de pares no valor de 199 milhões de dólares), Áustria (3,4 milhões de pares e 109 milhões de dólares), Itália (1 milhão de pares por 60 milhões de dólares), Polónia (3,7 milhões de pares no valor de 30 milhões de dólares) e República Checa (1,4 milhões de pares por 29 milhões de dólares). Em conjunto, estes cinco países representam 80% das exportações húngaras em valor.
Nos últimos cinco anos, destaque, ainda, para os crescimentos muito significativos nas exportações para a Polónia (+609%), Eslováquia (287%) e República Checa (206%), refere Joaquim Pimpão.
Quanto às importações, a China é o principal fornecedor de calçado da Hungria (35 milhões de pares no valor de 104 milhões de dólares), com uma quota de valor (16%) bem inferior à da quantidade (48%). Seguem-se a Polónia (7,9 milhões de pares no valor de 97 milhões de dólares), Eslováquia (7,6 milhões de pares por 73 milhões de dólares), Alemanha (3,9 milhões de pares por 67 milhões de dólares) e Áustria (3,1 milhões de pares por 60 milhões de dólares).
Nas maiores variações dos últimos cinco anos, destaque para o aumento de 641% da China, 130% da Polónia, 261% da Áustria e 209% dos Países Baixos. Em sentido contrário, as importações da Bulgária caíram 80%.
Na análise ao mercado por tipo de calçado, Joaquim Pimpão mostrou que 43% das exportações da Hungria são de sapatos de couro, 31% de borracha e plástico e 20% de materiais têxteis. Nas importações, o couro representa apenas 15%. Borracha e plástico valem 52% e o calçado têxtil 29%.
Entre 2015 e 2019, as importações de calçado cresceram 70% na Hungria, com destaque para as categorias NC 6404 e 6402, proveniente da China, Alemanha, Eslováquia, Polónia, Áustria e Países Baixos.
O delegado da AICEP destaca que as importações de calçado a partir de Portugal registaram uma quebra significativa e quase desapareceram, à exceção do calçado técnico sobretudo para o segmento hospitalar.
O valor médio de importações, em 2019, foi de 5,95 euros na categoria NC 6401, de 2,60 euros na NC 6402, de 18,75 euros na NC 6403, de 4,40 euros na categoria NC 6404 e 2,5 euros na NC 6405.
O mercado húngaro é dominado pelos grandes players internacionais que importam, distribuem e vendem diretamente, havendo cada vez menos espaço para importadores, distribuidores e retalhistas independentes, destaca o delegado da AICEP, explicando que as vendas mais significativas de sapatos são feitas em hipermercados, em cadeias como a Tesco ou a Auchan, e no Hard Discount, designadamente Lidl e Aldi.
O consumidor húngaro compra, em média, dois a três pares de sapatos ao ano, obedecendo a quatro prioridades: preço, conforto, moda e design.
Sobre os principais players no mercado, Joaquim Pimpão dá os exemplos de Lorenz Shoe Group, Josef Seibel, Berkemann, Batz Hungary e Ipoly Cipögyár nos fabricantes e de Deichmann, Shoebox, CCC Hungary, Leder & Schuh, Salamander, Reno Cipö nos distribuidores.
A pandemia alterou os hábitos do consumo, também na Hungria. O comércio está aberto – o Governo húngaro decretou o encerramento, apenas, da restauração e a hotelaria, bem como o recolher obrigatório, desde 11 de novembro e em vigor, pelo menos, até 1 de março, entre as 20h00 e as 5h00 -, mas as lojas estão vazias, há saldos por todo o lado.
Nesta ‘nova normalidade’ o calçado foi um dos setores perdedores, diz Joaquim Pimpão, e o e-commerce não será suficiente para compensar ou sequer para atenuar as grandes quebras das sapatarias. Os dados mais recentes disponíveis de vendas online, referentes a março de 2020, mostram decréscimos significativos em 10 categorias distintas, que vão dos 33% nos ténis para mulher, aos 40% e mais nos sapatos e ténis para homem, até aos 50% nas sandálias de mulher e os 51% nas botas para mulheres.
Em termos de relações comerciais entre Portugal e a Hungria, os dados do INE mostram que Portugal exportou bens no valor de 296,2 milhões de euros para este mercado em 2020, o que representa um aumento de 1% face ao ano anterior. Importamos 482,6 milhões de euros, menos 12,7% do que em 2019. A Hungria é o 25º cliente da economia portuguesa e o 18º fornecedor.
Numa estratégia de diversificação de mercados e de proximidades de mercados, de regresso à Europa, a Hungria pode vir a ter uma importância acrescida para as nossas exportações, incluindo para as do calçado, acredita o delegado da AICEP em Budapeste. Que defende uma abordagem ao mercado de uma forma unida, com várias empresas a associarem-se para o efeito, bem como numa lógica alargada, por exemplo à Hungria e aos Balcãs.