Os sapatos clássicos estão de volta
De Milão a Paris, de Londres a Nova Iorque, com maior ou menor dose de irreverência, as semanas da moda e toda a sua envolvência parecem sugerir um regresso, em força, do calçado clássico. O Financial Times vai mais longe e já lhe chama a “Era pós-sneakers”.
“Os millennials estão a reagir à omnipresença dos tênis revisitando sapatos formais, mesmo com roupas menos concecionais”, aponta a publicação norte-americana. E continua: “Um jovem de pouco mais de 30 anos, de bermudas, camisa de ganga e chapéu anda entre carros estacionados. Nos pés, uns derbies de couro que habitualmente vemos nas ruas de Paris. Foi um choque estético”.
O New York Times sugere que “não são apenas os homens estão a seguir esta tendência”. Mouki Kambouroglou, uma analista de mercado de 25 anos, usava “tênis religiosamente há 10 anos”. Mas mudou de registo, optando por modelos que “andam na fronteira entre o formal e o informal e você pode usá-los o dia todo.” À medida que o “dress code” nos escritórios se tornam mais casuais, as novas gerações parecem tentadas para experimentar outros registos.
Mark Zuckerberg gosta de Nike, enquanto Jeff Bezos prefere Converse. “Não são propriamente gurus da moda”, aponta Oliver Hooson, um fotógrafo de 32 anos londrino, enquanto um jovem de calça laranja caminha, por entre carros e caminhões, adotando um estilo mais formal. O jogador de futebol italiano Moise Kean, da Juventus, por exemplo, opta por mocassins de couro. “Essa mudança é uma reação contra a onipresença”, de acordo com Fraser Moss, cofundador da YMC, que lançou uma coleção de Derbies, monk-straps e Gibsons para AW22. “Enquanto os pais estão a usar tênis, os adolescentes iniciaram uma rebelião, imitando uma versão anterior dos seus progenitores”. Brendon Babenzien, fundador da Noah e ex-diretor de criação da Supreme, acha que uma reação foi “inevitável”. “Todos nós amamos os sneakers mas há limitações do ponto de vista estético”. Agora há uma necessidade “de experimentar coisas novas”, defende Babenzien
Também na Asia, o calçado formal está sendo predominantemente combinado com peças desportivas. O ilustrador Aaron Chang, de 35 anos, que mora em Seul, costuma combinar clássico com um boné de beisebol dos Yankees e uma camisola com capuz. “Na Coreia, chamamos estilo ggu an ggu”, diz Chang. “É semelhante ao que os italianos chamam de sprezzatura... o ponto é parecer sem esforço.” combine calças volumosas da YMC com um delicado mocassim Gucci e você parecerá que vai cair. O equilíbrio estético estaria totalmente “Solas grossas equilibram tudo”, revela Maria Lemos, cofundadora da grife feminina Legres, sugerindo formatos “masculinos em roupas femininas”.
Em plena Semana da Moda de Paris, o consultor de moda americano Nick Wooster opta por uns Derbies, um colete de nylon e calções desportivos. Os sapatos faziam parte de sua necessidade de assumir “radicalmente” “uma nova identidade”.
Para o Financial Times, “na era dos NFTs e bitcoins parece progressivo adotar calçado clássico”.
