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Indústria portuguesa reinventa-se e aposta no segmento desportivo

Indústria portuguesa reinventa-se e aposta no segmento desportivo

26 Fev, 2021

Como se adaptou a indústria de calçado aos novos desafios?


Sapatilhas, sneakers, ténis. Como lhe quisermos chamar. Da exclusividade dos ginásios e das corridas, estes produtos são hoje um must have, uma peça chave no guarda-roupa.

Se há pouco mais de cinco anos, o clássico ficaria definido com um bom par de sapatos clássicos, hoje a realidade não é a mesma e um bom par de sneakers brancos pode ser o companheiro perfeito de um fato. Porquê? O que mudou na indústria? Como proliferaram tão rapidamente os sneakers?

Tudo mudou, de forma particular, no dia em que a Channel em 2014 apresentava a sua coleção com um cenário de supermercado e as modelos conjugavam vestidos de alta costura com  sapatilhas. Pouco antes disso, a marca sueca Axel Arigato lançava os primeiros modelos de sapatilhas brancas. Estavam reunidos os ingredientes para o sucesso. Nas principais passerelles mundiais, mesmo marcas consagradas, converteram-se a uma moda renovada. Nunca a expressão “Go back to basics”  fez tanto sentido.

“A Chanel deu a validação. Já existiam muitas marcas a pensar nesta questão anteriormente. O streetwear estava a crescer em força, principalmente no segmento masculino”, diz Fernando Bastos Pereira. “Diria que estas ascensão foi uma reação aos sapatos mais desconfortáveis. As pessoas já queriam começar a usar sneakers, porque começavam a  estar mais ligadas ao bem-estar e ao desporto e queriam o conforto dos sneakers no dia- a-dia”. Para o produtor de moda, a maior adaptação da indústria ocorreu precisamente no segmento de tailoring, que teve de se adaptar a uma tendência mais desportiva.

Desde aí, assistimos a uma mudança completa na forma como nos calçamos. Se as sapatilhas estavam circunscritas ao universo desportivo, rapidamente a procura por este estilo de calçado para o dia-a-dia disparou. “Começámos a assistir a desfiles de alta costura onde os sneakers ganham destaque, o que parecia altamente improvável. Esta tendência intensificou-se com as marcas desportivas e ganhou uma nova dimensão”, diz Vítor Costa diretor criativo da Sanjo. A marca portuguesa que se reinventou e se apresenta agora de cara lavada. “Claramente os sneakers transformaram a indústria do calçado e todo o sector de moda. No passado os sneakers eram usados sobretudo para performance desportiva, com a evolução da indústria começaram a fazer parte do nosso dia a dia em todos os segmentos, até no luxo”.

Mas para uma indústria maioritariamente especializada na produção de sapatos em couro, como é o caso da indústria portuguesa de calçado, como se adaptaram as empresas a este novo produto? Atualmente, mais de 30% da produção de calçado made in Portugal tem características do segmento desportivo young Fashion.
“Na verdade, a Carité adaptou-se muito bem, talvez pelo facto de ter mais de 30 anos de experiência na produção de calçado e com os Profissionais a ela associada, fez que esta adaptação fosse um passo natural para a Empresa”, diz Pedro Ramos, diretor-comercial da Carité, responsável pela marca J.Reinaldo. Mais recentemente, o grupo de Felgueiras lançou uma nova marca “Tentoes Nature”, uma marca de sneakers unicamente pensada de forma sustentável.

O mesmo aconteceu com a Fábrica de Calçado Dura. Especializada na produção de calçado clássico masculino, a empresa lançou a Exceed Shoe Thinkers para chegar a um novo nicho de mercado. "A tendência de crescimento da procura de sneakers por parte do mercado, é algo que temos vindo a acompanhar atentamente há várias épocas e por isso, temo-nos vindo a adaptar e a fazer investimentos progressivos ao nível do desenvolvimento desta gama de produtos", diz Pedro Caria, responsável pela marca.

Também a Tulipa Negra, especializada na produção de sapatos clássicos, teve de acompanhar a evolução de mercado. “Para chegar aos nossos objetivos enquanto empresa não podíamos ficar apenas pelos sapatos clássicos e tivemos de investir neste tipo de produto”, diz Denise Costa. “Em termos produtivos a adaptação não foi difícil, porque os processos são semelhantes, mas tivemos alguns desafios nomeadamente no que diz respeito ao design”.

Mas quais são os ‘ingredientes’ necessários para produzir um bom par de sneakers? “Para além do necessitar de um bom design,  eu diria que a escolha de materiais é muito importante. Um bom sneaker exige boas matérias-primas”, diz Pedro Ramos. Na mesma linha de pensamento, Vítor Costa valoriza  “a história dos sneakers, e os seus detalhes, o design, a forma a mistura de materiais e a construção podem definir um bom par. No entanto o que mais valorizo são reedições retro, colaborações ou edições limitadas. Bons detalhes e uma boa historia fazem um bom par de sneakers!”.

Dentro deste segmento há outro fenómeno que vale a pena analisar: as sapatilhas brancas. Existem centenas de modelos, para todos os gostos, com preços variados e pequenas caraterísticas que as diferenciam. Veja-se o exemplo da Adidas com Stan Smith, Nike com Air Force 1, Golden Goose da Saint Laurent e Alexander McQueen, que rapidamente se tornaram uma “febre”global. De acordo com a Business of Fashion (BoF) em 2018, as vendas de sapatilhas brancas ascenderam a 100 mil milhões de euros. “O mercado das sapatilhas brancas ascende, atualmente, a 100 mil milhões de euros, tendo o seu rápido e grande crescimento ficado a dever-se ao facto do streetwear estar na moda”, sublinha a BoF. E é precisamente nos EUA e na China que as “white sneakers” encontram o seu melhor mercado. “Passaram a ser utilizadas em todo o tipo de situações, não sendo utilizadas, apenas, para ocasiões menos formais.  “Atualmente, é tão comum uma pessoa usar as sapatilhas com jeans e t-shirt como com um blazer ou um vestido”.

Mas estaremos perante uma tendência que veio para ficar? “Acredito que o futuro será a coabitação entre clássicos e sneakers. Os sneakers não vão dominar na totalidade, uma vez que começaram a aparecer nos principais desfiles muitas propostas de botas e sandálias confortáveis. Mas os sneakers não vão desaparecer, porque os consumidores já se adaptaram ao conforto. Em termos de tendência e tendo em conta que a moda é cíclica vão naturalmente aparecer outros tipos de calçado, mas não se vão deixar de usar os sneakers”.

Para Vitor Costa, Portugal pode fazer a diferença neste segmento. “Identifico dois desafios para Portugal, um a nível produtivo e outro a nível de marca. Em termos produtivos sinto que faltam processos como a vulcanização, existe uma procura insana de marcas internacionais para produzirem tipologias de cariz retro (vulcanizados). No que respeita a marcas poderíamos ser um viveiro de convergência à cultura sneaker, dado que atualmente produzimos sapatilhas incríveis, sobretudo no segmento high-end”.

Pedro Ramos acredita que esta é uma tendência que veio para ficar “Acredito que esta tendência veio para ficar, principalmente devido ao conforto que proporciona aos seus utilizadores”. Para Pedro Caria, "a tendência é um conceito muito dinâmico, que se molda em função de múltiplas variáveis e circunstâncias. Não estamos em condições de afirmar se é uma tendência de futuro, ou não. Da nossa parte e tal como fizemos até aqui, vamos estar sempre atentos a todos os sinais que o mercado nos vai transmitindo, e vamos procurar outras formas de perceber as tendências e acompanhá-las".

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